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Hinds: “A nossa música é genuína, seguimos sempre a nossa intuição”

Na noite de 24 de novembro, as Hinds voltam a Lisboa para atuar no Vodafone Mexefest e apresentar o novo álbum, Caribbean Moon. À Máxima Carlotta Cosials, a vocalista, conta como é saltar de uma garagem em Madrid para os maiores palcos do mundo.

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16 de novembro de 2017 às 14:50 Carlota Morais Pires

"Somos muito próximas, como irmãs que cresceram juntas desde sempre", conta Carlotta Cosials ao telefone, de Madrid. A vocalista das Hinds fala de Ana Perrote, Ade Martín e Amber Gimbergen – começaram a tocar como banda em 2011, mas foi há cerca de dois anos que as Hinds saltaram de Espanha para o mundo, com paragens pelos festivais Glastonbury e Coachella. No próximo dia 24 de novembro voltam a Lisboa para o Vodafone Mexefest, que as leva ao palco da Estação Ferroviária do Rossio às 23h45, uma continuação da tour de apresentação do seu último disco, Caribbean Moon, editado em agosto deste ano.

"Começámos por ser uma garage band, tocávamos e ouvíamos muito indie-rock, foram as nossas primeiras influências. Mas agora temos muita vontade de explorar diferentes géneros musicais, mais rock e mais hip-hop. Passamos horas a fio a ouvir The Strokes e Princess Nokia."

Já não são as mesmas quatro miúdas que começaram a cantar em casa de Carlotta Cosials, altura em que ainda eram as Deers (a banda canadiana The Dears forçou-as a mudar de nome), fechadas numa bolha de mil sonhos. Imaginavam como seria tocar à frente de uma multidão, numa sala de concertos em Valência – mas cinco anos mais tarde cantavam juntas para milhares de pessoas em Tóquio e Los Angeles. "É uma sensação maravilhosa, mas também sinto que não paramos um segundo e deve ser por isso que chegámos aqui. Acabámos de lançar o nosso último projeto no verão e já estamos a preparar o próximo, que sai em 2018."

 Descobrimos as novas Hinds, ainda mais curiosas, neste último álbum, que não se fecha num género porque prefere agarrar novas possibilidades sonoras. É um passo em frente depois de Leave Me Alone, o disco que lançaram em outubro de 2016. Mais funky, Caribbean Moon é diversão e leveza, como se um sopro vindo de uma ilha paradisíaca perdida algures no Pacífico agitasse as antigas letrasde Kevin Ayers, o primeiro artista a cantar Caribbean Moon em 1973, mote para o disco. "A nossa música é muito genuína, ouvimos as opiniões de quem está à nossa volta, mas acabamos por seguir sempre a nossa intuição. Acho que também é por isso que as pessoas se identificam com os nossos discos", explica Carlotta. Diz que as redes sociais foram uma importante plataforma de lançamento, mas que a Internet já lhes criou algumas situações complicadas, que tiveram de aprender a ultrapassar juntas. "Inventaram histórias sobre nós, publicaram mentiras sobre as nossas vidas pessoais, sentíamos que eram ataques diretos, feitos por haters, pessoas que não nos conhecem,escondidas atrás de um ecrã. É uma espécie de bullying, uma consequência por crescermos tanto tão rapidamente."

 Ainda mais difícil é encontrar lugar numa indústria dominada por homens. "Rotulam-nos como uma girls band ainda antes de nos ouvirem tocar… Quer dizer, o que é que isso diz sobre nós? Que somos quatro raparigas a cantar juntas? Parece que girls band é um género musical, é estranho, certo?", ri Carlotta Cosials. Não sabe se a culpa é do novo mundo digital (engolido pela crítica fácil em comentários no Facebook, Twitter e Instagram) ou de uma sociedade ainda empoeirada e estrangulada por desigualdades de género, mas sentem-se constantemente avaliadas pela imagem, ainda antes de terem a oportunidade de mostrar a sua música. "As pessoas têm sempre uma opinião sobre o nosso corpo, dizem se estamos gordas ou magras, se gostam ou não do que vestimos. Não é fácil. Só queremos que oiçam a nossa música e estas situações fazem-nos pensar se os homens na indústria da música também estão tão expostos, se são constantemente alvo desta crítica constante da aparência. Tenho as minhas dúvidas."

Enquanto trabalham nos próximos projetos com ainda mais vontade (e a cabeça cheia de novas ideias), crescem juntas e aprendem a gerir tudo o que ainda mina a indústria. "Apoiamo-nos muito, somos muito próximas, muito amigas. Hoje sabemos que somos privilegiadas e que podemos ser um exemplo para outras miúdas que têm os mesmos sonhos que tínhamos há uns anos. Mas o mais importante de tudo é continuarmos sempre a fazer aquilo em que acreditamos e a ser verdadeiras connosco e com a nossa música. Quando se consegue fazê-lo, não há críticas que nos derrubem." 

 

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