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Da Chick: “Há dois tipos de músicos: os que fazem música por dinheiro e os que a fazem por amor”

O Festival Jameson Urban Routes chega ao Musicbox para cinco dias de música. Conversámos com Da Chick, que partilha o palco com Xinobi, sobre as influências na sua música, mas também no seu estilo.

24 de outubro de 2017 às 17:45 Rita Silva Avelar

São 13 sessões, 26 projetos musicais internacionais e nacionais e 34 horas de concertos, ao mesmo tempo que se lançam discussões sobre temas sociais (como a política ou a liberdade) através da expressão sonora. A 11.ª edição do Festival Jameson Urban Routes decorre de 24 a 28 de outubro no Musicbox e esperam-se estreias de discos, parcerias (im)prováveis e surpresas musicais. Alguns dos momentos altos desta edição são as estreias dos novos discos de Surma (Antwerpen) e de Austra (Future Politics, carregado de visões políticas) e o dj set de Xinobi com a companhia de Da Chick.

O festival antecipa tendências ao mesmo tempo que recupera nomes consagrados em combinações muitas vezes inusitadas, como Actress, Scuru Fitchadu, O Terno com You Cant Win Charlie Brown ou Laidback. A propósito da presença de Da Chick no festival, conversamos com a artista portuguesa.

O que podemos esperar do concerto Xinobi ft. Da Chick, no Jameson Urban Routes?

É um formato especial, com um dos meus irmãos da Discotexas, e vai ser clubbing aka muita jarda, muita música eletrónica e diz que vou cantar umas músicas lá pelo meio. Vai ser um concerto à moda antiga! Yaas!

Como é que descreve a sensação de pisar um palco, com uma multidão expectante, pela primeira vez?

Bom, na verdade a primeira vez que pisei um "palco" foi em 2010 no Mini-mercado, um bar em Santos, e digamos que 60% do público eram amigos meus. Se calhar foi isso que me ajudou desde o início a não ter muito medo de encarar o público. Acho que foi o único concerto em que estava de facto nervosa e acanhada. Atrás de uma cabine de dj, sem grande espaço e eu sem grande expressão. Tenho vídeos disso e é inexplicável como desde aí sinto uma confiança maior em todos os concertos. Claro que continuo a dar concertos que me deixam ansiosa, mas eu quero tanto entrar, cantar, divertir-me e mostrar aquilo que andei a preparar, que não deixo grande espaço para medos ou receios. Sou eu, não há grande margem para falhar.

Ainda se lembra da primeira vez que pensou em ser artista?

Desde que sou adolescente que sabia que queria seguir Artes (ou Comunicação), mas não sabia bem o quê... Desenhar não era o meu forte. E essa descoberta (que ainda dura) levou o tempo de uma escola inteira, muitos maus desenhos e até um pouco da faculdade já com 21 anos a estudar Publicidade no IADE. Nessa altura, ia ao Lux, ao Mini-mercado e assistia a muitos concertos de música eletrónica e não só. O acumular dessas horas de festa, o estar rodeada de artistas e produtores, despertou em mim a vontade de tentar fazer a minha própria festa. E nasceu a Da Chick.

Quem são as mulheres que a inspiram, da música à moda?

Sou muito inspirada por homens também. A minha vida na verdade é muito passada com homens e isso faz-me ser quem sou hoje. Mas posso dizer que Erykah Badu, Peaches, Amy Winehouse, Betty Davis, Rihanna, tudo mulheres que vão muito para além da música, girls with guts.

Diria que o estilo da Da Chick é indissociável do da Teresa?

Gosto muito de roupa vintage, peças únicas, misturadas com cenas atuais. Adoro padrões, adoro cor, adoro um certo nível de freakness, e acima de tudo adoro estar confortável. Sempre. Por isso, sapatos altos duas vezes por ano, o resto dos dias ténis, ténis, ténis. Tenho uns quantos. Da Chick sou eu mas claro que dá para ousar muito mais, o que é divertido. Mas, acima de tudo, dá para brincar com o resto da banda. Eles são as minhas bonecas nos dias de concerto. Adoro dar vida ao palco com roupas, acessórios... "Os meus meninos" até gostam e é por isso que eu gosto deles também.

Com quem sonha partilhar um palco?

Com muita, muita gente. Mas mantendo a coisa atual e minimamente "realista", posso dizer Chromeo, Dam-Funk, Anderson Paak, Childish Gambino, Solange, esta nova geração de pessoas groovies que ainda mantém este jogo em aberto. E um sonho de vida, Erykah Badu. Já realizei um desses sonhos, com a Peaches. E até já se repetiu mais de uma vez. Por isso, acima de tudo, confiança. E focus.

De que forma a sua personalidade se reflete naquilo que veste?

A descontração reflete-se, sem dúvida. Mas muda diariamente. Se me sinto mais confiante, tenho cabeça para ousar mais um bocado, quando me sinto mais cansada ou em baixo, é mesmo um I don’t give a shit day. Mas em geral só tenho roupa confortável, muitas T-shirts, muitos casacos, jardineiras e macacões, muitos ténis e roupa desportiva. No, fundo é mix it all!

As mulheres já conquistaram a liberdade plena no que respeita à roupa ou ainda há um longo caminho a percorrer?

Eu sempre me senti livre para vestir, pensar e agir como quero. A única pessoa que algum dia comentou o que fosse foi a única pessoa legítima de o fazer e mexer comigo. A minha mãe. Acho que é importante sermos nós próprios e termos orgulho e amor-próprio. Pelo menos a minha caminhada é essa.

Na indústria da música em Portugal ainda há algum tipo de preconceito em relação ao estilo que cada artista abraça ou já evoluímos nessa esfera?

Não sei se existe. Mas também não sou a pessoa certa para falar sobre preconceitos. Diria que há dois tipos de músicos ou indústrias. Os que fazem música por dinheiro, ou por ser fixe, atual e jovem. Ou os que fazem de forma genuína, por amor e para si, primeiro que tudo. Eu posso falar deste segundo tipo, onde estão incluídos todos os tipos de música, do hip-hop ao pimba, do jazz ao kuduro. Quando as coisas são bem feitas, e reais, quando tens um artista com talento, que acredita na sua música e tem vontade em trabalhar, para mim está tudo certo e justo. Claro que é importante ter alguma sorte e alguém que acredite em ti. Acho que qualquer tipo de arte, e a música não é exceção, deve ser genuína e, se assim o é, preconceito para quê?!

Da Chick
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Foto: Ana Viotti
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