Entrevista The Legendary Tigerman: "O deserto leva-nos para dentro de nós próprios"
O novo disco de Paulo Furtado só chega às lojas a 19 de janeiro, mas pode ouvi-lo já e em loop. A Máxima conversou com o músico na edição de janeiro, agora nas bancas.

Paulo Furtado quis saber como encaixa no mundo e partiu numa viagem de 12 dias pelo deserto dos Estados Unidos para gravar um filme, How to Become Nothing, com o realizador Pedro Maia e a fotógrafa Rita Lino. As imagens transformaram-se em Misfit, um disco que "tem várias camadas" e que chega a 19 de janeiro, entre referências ao The Misfits/Os Inadaptados (1961), de John Huston, e o lugar do músico no planeta – ou como criamos personagens para falar de nós próprios, sem medos. Primeiro surgiram as imagens e o filme e só depois o disco. Porque decidiu começar ao contrário?
No fundo, o disco acabou por ser escrito durante a rodagem do filme na estrada, entre Los Angeles e Death Valley. Eu queria muito ser influenciado por uma viagem americana e por essas paisagens, pelo deserto, pelas pessoas… Só uns dez dias depois da viagem é que comecei a ouvir, a ver tudo o que já tinha feito e percebi que já tinha o disco quase todo. Foi uma coisa um bocado compulsiva e no limiar da exaustão.

Esta viagem pelo deserto e pelos Estados Unidos está carregada de referências que vêm do rock. Foi por isso que escolheu esta road trip?
Já sabia que ia gravar em Joshua Tree, pela primeira vez, e isso era muito importante para mim. Na realidade, quase tudo o que faço é muito influenciado pelos blues, pelo rock’n’roll e pela música americana. E até este momento talvez achasse que ainda não tinha encontrado, totalmente, uma linguagem que fosse válida para gravar num estúdio, na América. Queria que toda a influência e o ambiente do disco e do filme fossem dessa zona. Acho que o deserto e a imensidão do espaço nos leva muito para dentro de nós próprios e queria ter essa energia nestes trabalhos.
É como se tudo fosse possível e aquela estrada não acabasse?

É isso mesmo. As estradas americanas têm essa fantasia. Nós, os europeus, temos uma certa poesia em relação à América. É a ideia de que a estrada é um caminho em aberto...
Como é que foi gravar em Joshua Tree?
Estive muito indeciso entre gravar nesse estúdio ou gravar em L.A. e percebi que preferia Joshua Tree porque queria ter a experiência de estar com o Paulo Segadães [bateria] e com o João Cabrita [saxofone] isolados 24 horas por dia a pensarmos música e a vivermos música e a estarmos envolvidos naquele deserto e com aquelas pessoas.

É um disco com um conceito diferente. Queria sair de si próprio?
Parti das personagens do filme e tentei escrever através dos olhos deles. Como no teatro, pões uma máscara à frente, mas no fundo quem está lá és tu e quem está por detrás da máscara é o actor. Aproveitas essa máscara para poderes dizer as coisas de outra maneira. O disco vai sair como um disco duplo, que inclui o álbum, um filme, um documentário e uma explicação de como foi gravado. Criámos o universo onde o disco vive.

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