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Como reconhecer um Homem com Síndrome do Charme antes da relação se tornar violenta

Primeiro surgem os elogios e os presentes. Depois, aos poucos, segue-se o comportamento controlador e a violência. Como pode uma mulher reconhecer um Homem com Síndrome do Charme antes de ser demasiado tarde? Louise Doughty - autora de Apple Tree Yard (Faber & Faber) - descreve a sua própria fuga feliz de uma relação coerciva.

You, uma série da Netflix sobre um namorado charmoso que se transforma em serial killer
You, uma série da Netflix sobre um namorado charmoso que se transforma em serial killer Foto: D.R.
24 de setembro de 2020 às 07:00 Louise Doughty

Começou com coisas pequenas. É assim que costuma começar. Nos primeiros tempos de uma nova relação, daquela paixão intensa, as coisas pequenas não interessam. O meu novo e atraente namorado, a quem vou chamar Richard, chegava muitas vezes atrasado aos nossos primeiros encontros, contando-me histórias mirabolantes sobre um autocarro avariado ou um colega de trabalho que o retivera. Por isso, na primeira vez que eu cheguei atrasada, fiquei surpreendida por ele ter ficado tão zangado.

"Estou à tua espera há meia hora", queixou-se.

"Só estou dez minutos atrasada."

"Estás 14 minutos atrasada. Combinámos às 20h00 e são 20h14."

"Continua a não ser meia hora."

"Eu cheguei às 19h45."

Eu vivia em Manchester e trabalhava em part-time enquanto tentava terminar o meu primeiro romance. Ele estava a estudar medicina veterinária e era obcecado por badmínton, desporto no qual a sua altura e imprudência no jogo se revelavam uma grande vantagem. A discussão sobre o meu atraso não me incomodou na altura – eu achei adorável ele estar tão impaciente por me ver. Na semana seguinte, eu fui ao Canadá visitar uns velhos amigos e, quando voltei, ele estava à minha espera no aeroporto, segurando um ramo de flores. Ele reservara mesa num dos meus restaurantes preferidos, embora eu mal conseguisse ter os olhos abertos e só quisesse tomar um banho e ir para a cama. Ele insistiu em acompanhar-me até casa e deu-me um beijo muito intenso à porta. Ri-me e disse-lhe que não. Precisava mesmo de dormir. Telefonar-lhe-ia quando acordasse. Talvez pudéssemos tomar o pequeno-almoço juntos.

Na manhã seguinte, assim que abri os cortinados, a campainha começou a tocar sonoramente. Corri até à porta antes que o barulho incomodasse a minha companheira de casa. Richard correu pelas escadas acima, trazendo um saco com bacon, salsichas, ovos e uma lata de feijão. Tinha vestida a mesma roupa da noite anterior. Não suportara a ideia de ir para casa, disse-me, por isso dormiu no alpendre. Ele só queria estar perto de mim. Assim que a estação de serviço do outro lado da rua abriu, ele comprou os ingredientes e depois sentou-se num muro e esperou que eu abrisse os cortinados. Fomos para a cozinha e ele começou a cozinhar. Quando eu tentava ajudar, ele conduzia-me até uma cadeira, puxava outra até perto de mim e punha as minhas pernas em cima dela e dava-me um jornal para a mão. "Estás com jet lag. Precisas de descansar." Preparou um pequeno-almoço inglês, assobiando enquanto o fazia.

O seu cavalheirismo estendia-se para além de mim. Assim que a minha companheira de casa se levantou, ele também lhe preparou o pequeno-almoço. Mais tarde, quando conheceu a minha família, todos ficaram rendidos aos seus encantos: o meu pai pelo seu aperto de mão forte e masculino e a minha mãe pela sua insistência em pôr a mesa para o jantar. No meu aniversário ele organizou uma festa surpresa. Mais do que uma amiga minha disse que teria de sair para arranjar um namorado novo [como ele].

Por essa altura, contudo, eu já estava a sentir-me desconfortável, pois todo aquele charme era acompanhado por indícios de uma personalidade exigente. A minha pontualidade tornou-se um assunto grave, ao ponto de um atraso meu de dois ou de três minutos estragar um serão. Ele aparecia em minha casa, sem avisar, a qualquer hora do dia ou da noite e, embora isso tenha sido maravilhoso uma ou duas vezes, não era bem assim quando eu tinha de trabalhar. Um dia eu cometi o erro de ignorar o telefone lá de casa (isto aconteceu muito antes dos telemóveis) porque tinha de escrever uma crítica a uma peça de teatro para um jornal local. Ele começou a tocar insistentemente à campainha. Deixei-o entrar porque eu já tinha perdido a concentração de qualquer maneira. Quando gesticulei em direção à máquina de escrever, tentando explicar-lhe que tinha um prazo a cumprir, ele puxou a folha, amachucou-a e atirou-a para o outro lado da sala. "O que é mais importante? Um texto sobre uma peça de teatro ou eu?" Houve muitos incidentes como este: testes constantes ao meu afeto. Ele gostava que eu assistisse aos seus torneios de badmínton. Qualquer outra coisa que eu tivesse planeada seria considerada "mais importante" com tamanha petulância e orgulho ferido que eu acabava por lhe dizer que não, claro que não era – e depois tinha de prová-lo.

Eu dizia-lhe que ia sair com as minhas amigas e ele comprava bilhetes para irmos ver um concerto de uma banda que eu adorava, dizendo que só era possível ir naquela noite. Uma vez, quando ele estava em minha casa e eu insisti em trabalhar, tirou a minha pesada máquina de escrever elétrica de cima da mesa e atirou-a ao chão com tanta força que o soalho ficou amolgado. Depois sentou-se na minha cama, segurando a cabeça entre as mãos e dizendo que eu não fazia ideia do quão cruel era eu ignorá-lo quando eu significava tudo para ele. Todas as discussões acabavam com ele a sofrer intensamente por causa do meu comportamento ofensivo.

Eu acabei por temer os seus acessos de mau feitio e moderei gradualmente o meu comportamento de modo a não os provocar: não falava sobre trabalho e nunca mencionava amigos homens, evitava fazer combinações com outras pessoas no fim de semana e corria como uma maluca para nunca me atrasar. E quando ele me tratava bem, como acontecia com frequência, ficava tão aliviada que me sentia como se o Sol estivesse a brilhar. Nos seus melhores momentos, ele era muito possivelmente o namorado mais encantador e preocupado que eu alguma vez tivera: não me deixava carregar os sacos do supermercado, despia o seu casaco e punha-o sobre os meus ombros nas noites de inverno, pedia que eu lhe telefonasse para dizer que tinha chegado a casa sempre que saía sem ele. Ele era particularmente insistente nesse aspeto. Eu nunca tivera um namorado que parecesse tão preocupado com a minha segurança e bem-estar.

Tudo isto teria soado muito familiar a Sandra Horley, a diretora executiva da organização de caridade dedicada a maus-tratos domésticos Refuge e autora de Power and Control: Why Charming Men Can Make Dangerous Lovers [Poder e Controlo: Porque Homens Encantadores Podem Transformar-se em Amantes Perigosos, na tradução livre]. Com base em vários estudos de caso, Sandra Horley apresenta uma imagem convincente daquilo a que chama a Síndrome do Charme: "Um padrão de comportamento específico para ganhar controlo sobre uma mulher." O Homem com a Síndrome do Charme costuma parecer altamente romântico, cheio de surpresas e de gestos bonitos, e extremamente protetor. Ele também encanta o resto do mundo, incluindo a família e os amigos da mulher. Ele alimenta-se da admiração dos outros – e essa admiração é um fator que torna uma mulher insegura quando começa a sentir-se pouco à vontade na relação.

O Homem com a Síndrome do Charme pode ser um colega de trabalho ou um amigo. Pode ser um construtor, um professor ou um juiz. O que estes homens têm em comum é o facto de, embora parecerem exemplares para o mundo exterior, transformarem a vida das companheiras num pesadelo. Mas como não correspondem ao estereótipo do abusador – um mauzão tatuado que sai à noite e chega a casa e "bate" na mulher –, o seu comportamento pode passar despercebido durante anos.

Helen Walmsley-Johnson é uma autora que se sentiu inspirada para escrever um livro de memórias sobre a sua própria experiência de controlo coercivo em Look What You Made Me Do [Olha o Que Me Obrigaste a Fazer, na tradução livre], no qual descreve, em pormenor, não só a sua experiência, mas como ficou encantada quando conheceu o abusador. "Ele abria-me as portas, incluindo a do carro. Isto era muito invulgar nas Midlands [região do centro de Inglaterra] e eu gostava." É um relato fascinante sobre quão fácil é investir numa relação apesar dos sinais de alerta e, sobretudo, sobre a forma como estes homens ligam o interruptor do seu comportamento controlador. Se quiser cozer uma rã, faça-o devagarinho. No início da relação, ele sugere que ela pegue em toda a roupa que tem no armário e lhe faça um pequeno "desfile de moda" e já lhe comprou um belíssimo casaco de veludo para substituir todos os seus conjuntos preferidos que irá obrigá-la a deitar fora. Ninguém prestara tanta atenção à sua roupa antes dele e ela sente-se lisonjeada. Pouco depois, ele consegue que ela cumpra um horário exato: jantar na mesa a certas horas, idas ao ginásio quando ele manda, com uma lista de exercícios concebida por ele – tudo porque a ama e quer o melhor para ela.

O controlo coercivo tornou-se crime no Reino Unido, em 2015, ao abrigo da Secção 76 do Serious Crime Act. É claro que a lei se aplica a homens, bem como a mulheres, e que algumas delas podem ser controladoras de forma abusiva. No entanto, estudos mostram que a esmagadora maioria dos perpetradores são homens. É fácil pensar que o mau comportamento numa relação não pertence ao foro judicial, mas tal falácia não poderia ser mais perigosa, como se viu no caso do homicídio de Claire Hart e da sua filha, Charlotte, de 19 anos, mortas a tiro pelo pai da família num parque de estacionamento em Spalding, no condado de Lincolnshire. Depois do sucedido, os filhos sobreviventes, Luke e Ryan, tiveram de suportar toneladas de cobertura mediática imprecisa, incluindo uma citação de um vizinho dizendo que o pai de ambos era "o tipo mais simpático que se possa imaginar". Outro afirmou que ele e Claire eram "o casal mais adorável de todos os tempos". O incidente foi considerado uma "discussão doméstica" e "um trágico incidente de família", como se a culpa fosse de ambas as partes. Na verdade, os irmãos sabiam que o pai controlava cada aspeto de todas as suas vidas, há décadas. Ele também deixou uma carta a dizer que já planeava assassinar a família, há algum tempo. Luke e Ryan escreveram uma biografia, Remembered Forever [Recordadas Para Sempre, em tradução livre], em homenagem à mãe e à irmã, que é uma forte censura à pergunta que tantas pessoas ainda fazem a mulheres com relações abusivas: "Por que não se vai ela embora?" Um terço das mulheres assassinadas pelos seus companheiros no Reino Unido – uma taxa de duas mulheres por semana – são mortas depois de os abandonarem. Luke e Ryan tinham ajudado Claire e Charlotte a saírem de casa apenas quatro dias antes de serem mortas.

Acima de tudo, o livro dos Hart acerta em cheio em alguns mitos mais persistentes sobre os homens que matam as suas companheiras ou famílias. Longe de se "passarem", estes homens não costumam ter problemas em controlar o seu temperamento noutras situações. Os Hart citam os sociólogos Russell P. Dobash e R. Emerson Dobash, no livro de ambos When Men Murder Women [Quando Homens Assassinam Mulheres, em tradução livre], segundo os quais os homens que matam as suas companheiras poderão dar-se lindamente na prisão e serem considerados prisioneiros modelo. É improvável que se envolvam em lutas com outros homens, cuja força reconhecem. "O principal fator responsável pelos maus-tratos domésticos é o género, não a falta de controlo emocional", escrevem os Hart.

Se estes homens forem "mentalmente doentes", como muitos afirmam ser, então como se tornaram tão bons em controlar o seu comportamento perante os colegas de trabalho, os vizinhos ou os agentes policiais? Como é que só se "passam" em privado, com as pessoas com quem partilham a sua intimidade? O que se torna claro é que temos de nos afastar da perspetiva estereotipada do homem bom/homem mau. Atualmente, a maioria das pessoas concorda que um homem que esmurra a sua companheira ou os seus filhos está a fazer algo de errado. No entanto, a dicotomia violento/não violento não é como fumar ou não fumar – existe um espetro de comportamento. Os homens controladores existem no mesmo continuum que o homem que mata a tiro a mulher e a filha num parque de estacionamento. Muitas agências acreditam, agora, que o comportamento controlador ou coercivo é um indicador mais forte de um potencial homicídio doméstico do que antecedentes de violência. E isso significa que teremos de pensar se a comum misoginia será um fator relevante – em oposição ao mito que estes homens "se passam" ou que são "mentalmente doentes". É um pensamento inquietante para os homens que se consideram "normais". Também é inquietante para as mulheres: se estiver infeliz numa relação é provável que esse sentimento se deva a um conjunto complexo de causas. Como saber se o seu companheiro é controlador? Há várias fontes online que lhe podem fornecer listas com sinais, mas muitas das coisas mais óbvias – isolá-la da família e dos amigos, restringir o seu acesso ao dinheiro – só se manifestam quando a relação já é profunda. Nos primeiros tempos, os sinais de alerta podem ser muito mais difíceis de detetar. Um dos sinais clássicos é o gaslighting, a negação de uma verdade objetiva com o intuito de fazer a outra pessoa duvidar do seu próprio juízo. Se o seu companheiro lhe disser "Eu nunca disse isso" quando o ouviu dizê-lo, há 10 minutos, considere isso uma bandeira vermelha. Se ele fizer constantemente pequenos testes de amor, nos quais você está condenada ao fracasso, é outra bandeira vermelha. E se quando a discussão termina, a culpa foi sempre sua porque o seu comportamento o fez sentir-se de determinada maneira, não se limite a virar-lhe as costas – fuja.

No meu caso, o que me permitiu afastar-me foi a distância entre os gestos românticos e a forma como o Richard me fazia sentir em relação a mim própria. Um dos seus refrãos preferidos era dizer-me quão cansada eu parecia – sempre com um acenar de cabeça delicado que sugeria que só estava preocupado com o meu bem-estar. "Estás bêbada?", perguntava-me, com frequência, se eu dissesse alguma coisa com que ele discordasse, como se eu passasse a vida a embebedar-me. Noutras alturas, ele dizia-me: "Eu sei que é difícil para ti não conseguires ter nada publicado e é por isso que és tão insegura. Eu compreendo." Fosse qual fosse o assunto, a conversa voltava sempre aos meus fracassos. E, depois, ele dizia: "É tudo sobre ti, não é? Só falamos sobre isso: tu, tu e tu."

O destino interveio. Ofereceram-me um trabalho, em Londres. Depois de me telefonar todas as noites durante as primeiras duas semanas, Richard tornou-se, subitamente, silencioso e era eu quem tinha de lhe ligar, interrogando-me por que razão ele nunca me devolvia as chamadas. Numa visita a Manchester, eu encontrei um bilhete de outra mulher em cima da secretária, em casa dele, dizendo que adorara o fim de semana que tinham passado juntos. Quando o questionei sobre aquilo, com a máxima ligeireza possível, ele disse-me que eu era obsessiva e paranoica. Era inacreditável que eu tivesse lido a correspondência pessoal dele. A culpa de ele ter arranjado outra pessoa era toda minha. Durante algumas semanas após o sucedido, eu pensei que estava a enlouquecer. Teria eu feito tudo mal? Será que eu arruinara uma relação ótima? Longe do seu convívio, bloqueei da minha memória quão perturbada tinha ficado com alguns dos seus comportamentos e lembrava-me apenas das coisas boas. Estive quase a pegar no telefone algumas vezes.

Agora olho para trás e vejo que tive sorte. O Richard era controlador, mas também era bastante preguiçoso. Quando deixei de estar por perto, ele encontrou uma presa mais local. Isto aconteceu muito antes dos telemóveis e das redes sociais – manter o controlo teria implicado que ele se deslocasse a Londres e me seguisse pessoalmente. Ele não se deu a esse trabalho e eu nunca mais ouvi falar nele.

As mulheres que se tornam vítimas de estranhos são o pão nosso de romances, de telenovelas e de notícias: cada mulher cresce absorvendo a mensagem de que o mundo é um sítio perigoso. Quando vemos um homem que parece protetor, caímos facilmente na esparrela: a única coisa que podemos afirmar sobre a maioria dos homens controladores é que eles são capazes de matar qualquer pessoa que nos toque com um dedo. É fácil sentir-se lisonjeada com isto – ele ama-me tanto –, mas não deveria. Ele age assim por orgulho, por achar inaceitável que outro homem toque na sua propriedade: é tudo sobre ele.

É muito importante que perceba isto: a possessividade destes homens não tem nada a ver consigo e, se não fosse consigo, seria com outra pessoa qualquer. Todos temos um certo grau de vaidade e isso é difícil de engolir, sobretudo se sacrificámos outras amizades ou o nosso emprego para estamos com um homem que nos prometeu tudo, mas que nunca está satisfeito. No entanto, quanto mais tempo ficar, mais difícil será ir-se embora e ninguém deve ter dúvidas em relação ao possível desfecho do controlo coercivo. Segundo o Gabinete Nacional de Estatística [britânico], 33% de todos os homicídios em Inglaterra e no País de Gales são homicídios domésticos. Muitos deles começaram com controlo coercivo. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas devemos sentir esperança devido à coragem de jovens sobreviventes como Luke e Ryan Hart, e como James e David Challen, os filhos de Sally Challen, que matou o marido após décadas de controlo coercivo. Eles estavam ao lado da mãe nos degraus de Old Bailey [Tribunal Central Criminal, vulgo OId Bailey], em junho deste ano, depois de ela ter sido informada de que não iria novamente a julgamento. Muitos outros homens, novos e velhos, fariam bem em investir os seus esforços na diminuição da violência masculina contra mulheres e crianças. Aquilo que está mesmo por detrás do comportamento controlador é a cultura dos direitos masculinos: algo que os homens têm de resolver em si próprios e uns nos outros. Interrogo-me se, algures, o Richard estará a assistir a estes desenvolvimentos e a pensar no seu próprio comportamento. Não sei porquê, mas duvido.

O novo romance de Louise Doughty, Platform Seven, já se encontra disponível (Faber & Faber).

Exclusivo The Sunday Times Magazine. Tradução: Erica Cunha e Alves

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