Com um simples vestido preto sou 'boring as shit', prometo
“Considero uma grande chatice cumprir as regras da indumentária. O vestido pode ser azul, verde, amarelo, às riscas ou com bolinhas.”

O que é vestir-se bem? Dizem-nos que para isso devemos ter noção do contexto para o qual nos vestimos, um certo sentido de gosto e algum dinheiro na conta bancária, mas não me parece uma questão nada linear. Sabemos que há pessoas que aguentam qualquer roupa, qualquer estilo, e que nada lhes cai mal. Para mim há apenas dois motivos para que isto aconteça, e o mais importante não é a forma dos corpos ou a beleza do rosto, como muitas vezes a publicidade nos quer fazer crer, embora também seja importante, não mintam. Julgo que o mais importante, e tenho poucas dúvidas sobre isto, é a personalidade. E não estou a ser moralista ou a falar como as mães e as avós. Acredito mesmo que essa coisa que só se vê através dos gestos e da forma como falamos, a atitude, vale mais do que roupa. Acho mesmo que a personalidade é capaz de valorizar uma roupa fraquinha. É claro que o ideal seria juntar duas coisas boas, por exemplo, Chanel e uma personalidade distinguível, que é o que muitas vezes acontece nas pessoas que consideramos terem uma grande pinta.
Bom, a verdade é que não percebo nada de Moda, por isso o melhor é partir da minha experiência, que vale o que vale, ou seja, nada. No liceu de subúrbio que frequentei, as raparigas mais populares pertenciam às classes que considerávamos mais altas, embora bastante remediadas, daquela zona. Vestiam roupa de marca, sobretudo logótipos ligados ao universo do surf, e isso conferia-lhes estilo aos olhos dos outros, mesmo que não fossem particularmente bonitas ou inteligentes. Na zona em que cresci, um logótipo na adolescência valia-nos mais de metade da beleza e da personalidade. Ora bem, eu nunca tive essa possibilidade, a carteira dos meus pais não chegava a essas lojas, tive apenas direito a algumas peças contrafeitas compradas na praça.

Comecei por invejar as miúdas que faziam parte daquele grupo, pareciam-me todas bonitas e perfeitas, mas quando comecei a socializar com elas, graças às minhas camisolas Hang Loose contrafeitas e (julgo que) à minha simpatia, percebi que aquilo não era ambiente para mim. As miúdas betas do surf distinguiam-se pelas roupas de marca, mas por dentro não lhes encontrava nada que as distinguisse. Só falavam sobre rapazes do surf e eram chatas. Este período coincidiu com a minha entrada para a companhia de teatro da escola. Foi lá que, sem querer, encontrei o meu estilo da época; entretanto já mudei quarenta mil vezes. E isto aconteceu porque estava focada no conteúdo, conheci Shakespeare e apaixonei-me por ele. Percebi que estava no lugar certo. As pessoas do teatro vestiam-se como lhes dava na gana e eu comecei a vestir-me de preto e a usar tudo o que me apetecia sem ligar a comentários. Saias compridas, calções, tops espampanantes, pintei o cabelo de azul, de loiro platinado, e não imitava ninguém, usava o que gostava e pronto.
A verdade é que o meu comportamento era tido como uma ousadia para as miúdas do surf, ao fim de algum tempo e por causa da minha excentricidade, acabei por lhes conquistar o respeito. Nos intervalos das aulas, quando estava calor, andava descalça porque me sabia bem e nada me proibia, e depressa me senti eu própria sem ninguém para copiar. Ganhei a admiração dos colegas e das colegas, mesmo das miúdas do surf e dos que me consideravam estranha. A afeição e respeito dos amigos e colegas do liceu não parou de aumentar durante os anos em que lá estive. Tem graça ter-me tornado uma rapariga popular com roupa comprada na feira dos ciganos, num liceu dos subúrbios onde só quem tinha uma mota DT ou roupas de marca se distinguia. Por isso, a única coisa que sei é que usar o mesmo que os outros nunca é uma escolha que me pareça acertada. Não é que tenha nada contra o vestido preto, por exemplo, e também o uso devidamente acessorizado, mas que este não seja um certificado de correcção social. Considero uma grande chatice cumprir as regras da indumentária. O vestido pode ser azul, verde, amarelo, às riscas ou com bolinhas, ou podem até vestir umas simples calças pretas. E comprometam-se, claro, sempre e quando vos apetecer.
*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.



Catarina Furtado denuncia assédio sexual. "Uns fizeram-me convites insinuantes, outros eram mais rebuscados"
Depois de Sofia Arruda, Jessica Athayde e Cláudia Lucas Chéu, é a vez de Catarina Furtado falar. Será esta a vez de Portugal reagir ao #MeToo?
Sofia Aparício, Débora Monteiro e Joana Solnado relatam situações de assédio
As atrizes uniram-se para contar as suas histórias de assédio sexual. Se elas têm, todas temos. Em entrevista ao Expresso, falam do medo, da ausência de denúncias e do terror e tormenta que viveram.
São ricas, bonitas e vestem acima do 38
Da passerelle para a lista da Forbes das pessoas mais ricas do mundo, estas mulheres estão na dianteira de uma revolução na Moda e na Cultura.
'Cruella', um filme da Disney sem princesas nem romance
Emma Stone é escandalosamente má neste live-action dedicado à história de uma das suas personagens mais marcantes da Disney, aqui em versão punk e com um guarda-roupa a matar.
Empregar o choro
"Seria ali o melhor destino para chorar. Não há nenhum artigo no contrato que impossibilite chorar no local de trabalho. Tal como não existe nenhuma cláusula que impossibilite de rir".