Quem é Clarissa Ward, a correspondente da CNN que faz frente aos talibãs?

Já reportou mortes, tragédias ambientais, prisões políticas, e passou por países como Moscovo, Pequim ou Irão. O seu rosto, tapado com um hijab preto, tem sido corajosamente revelado durante a cobertura da CNN da situação em Cabul, após a tomada de poder por parte dos talibãs no Afeganistão.

20 de agosto de 2021 às 07:00 Rita Silva Avelar

Pergunta aos talibãs porque tem que cobrir o rosto, porque carregam armas ou o que pretendem fazer às mulheres afegãs. As imagens de Clarissa Ward em Cabul, capital do Afeganistão, têm corrido o mundo. A chefe correspondente da equipa internacional da CNN mostra-se destemida na abordagem aos afegãos, incluindo os talibãs, que tomaram conta da capital no passado domingo 15 de agosto, restaurando o Emirado Islâmico no Afeganistão. Ao lado da não menos corajosa equipa da CNN, a jornalista tem retratado os momentos de tensão na cidade, sobretudo no aeroporto, onde há um clima de medo provocado por talibãs armados e afegãos que querem escapar.

Aos 41 anos, é vista como uma das repórtes correspondentes mais destemidas e convictas da atualidade, e o seu percurso é prova disso. Começou como assistente na Fox News em 2003, tendo mais tarde coordenado a cobertura de acontecimentos como a captura de Saddam Hussein, o tsunami do oceano Índico em 2004 ou as mortes de Yasser Arafat (ex-líder da Organização para a Libertação da Palestina) em 2004 e do Papa João Paulo II em 2005. Em 2006, Ward trabalhou como produtora, em campo, para a Fox News. Foi ela quem produziu a cobertura da Guerra do Líbano de 2006, o sequestro de Gilad Shalit e a subsequente ação militar de Israel na faixa de Gaza, o julgamento de Saddam Hussein e o referendo constitucional de 2005 no Iraque. 

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Here's the moment that @clarissaward and crew were confronted by the Taliban on the streets of Kabul. pic.twitter.com/2ueKYbR8xg

Antes de outubro de 2007, Ward morava em Beirute e trabalhava como correspondente da Fox News. Ao longo da sua carreira, conduziu entrevistas com figuras notáveis como o general David Petraeus, o então vice-primeiro-ministro iraquiano Barham Salih ou o presidente libanês Emile Lahoud. É fluente em francês e italiano, mas também sabe russo, árabe e espanhol, e até o básico de mandarim. Formou-se na Universidade de Yale, nos EUA. 

De outubro de 2007 a outubro de 2010, foi correspondente da ABC News em Moscovo, onde conheceu o atual marido, com quem tem dois filhos pequenos (3 e 1 anos). Na Rússia, Ward cobriu as eleições presidenciais que levaram Vladimir Putin à presidência, em 2012. Mais tarde, Ward foi transferida para Pequim, como correspondente da ABC News na Ásia, onde reportou o terramoto Tohoku e o tsunami de 2011 no Japão. Também cobriu os conflitos no Afeganistão ao longo dos anos - pelo que não está num terreno que não conhece. Pelo contrário - em 2019, foi uma das primeiras repórteres ocidentais a cobrir a vida nas áreas controladas pelos talibãs no Afeganistão.

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A carreira de Ward na CBS começou como correspondente internacional, em outubro de 2011. Foi colaboradora do programa televisivo 60 Minutes. Da guerra civil na Síria à passagem do ativista de direitos civis chinês Chen Guangcheng pela Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, e às negociações subsequentes entre os Estados Unidos e a China, sem esquecer a revolução ucraniana de 2014, Ward cobriu eventos de enorme peso mundial. 

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Em 2012, durante um trabalho para o programa 60 Minutes na cidade síria de Aleppo, Ward e a sua equipa sofreram disparos de franco-atiradores e bombardeios aéreos. Em julho de 2013, Ward esteve no Egipto, filmando na mesma área onde a correspondente da CBS Lara Logan foi abusada sexualmente alguns anos antes. Em outubro de 2014, Ward voltou à Síria clandestinamente para entrevistar dois jihadistas ocidentais sobre radicalismo.

Juntou-se, por fim, à CNN em 2015, baseada em Londres. Em julho de 2018, a CNN nomeou Ward como a principal correspondente internacional, sucedendo a Christiane Amanpour

Em 2020 esteve à frente do caso do líder da oposição russo Alexei Navalny durante anos, que culminou no seu envenenamento em agosto do ano passado. Está agora em Cabul, a cobrir a tomada de posse dos talibãs e o clima de instabilidade na cidade.

Entre os prémios de carreira que já recebeu, sobressaem o Foster Peabody, em 2012, pela sua cobertura jornalística na Síria. Em outubro de 2014, a Washington State University anunciou que Ward receberia o prémio Murrow de Reportagem Internacional de 2015. Já tem sete Emmys. No Twitter e no Instagram partilha diariamente informações sobre o seu percurso, desafios que enfrenta e questões de atualidade. É autora do livro On All Fronts onde narra histórias duras que tem vivido ao longo da sua carreira.

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