O teste que revela que tipo de pessoa é numa relação

Há quem ache essencial receber palavras de apreço que se traduzem em elogios ou em receber frequentemente mensagens com juras de amor e ainda há quem, acima de todas estas coisas, prefira receber presentes, de forma regular, seja um ramo de flores, um postal ou uma carteira.

Foto: IMDB / La La land
30 de agosto de 2021 às 12:12 Rita Silva Avelar

"Já ouviste falar na teoria das linguagens do amor?" Tínhamos, eu e uma amiga (igualmente) jornalista, a Mariana, acabado de assistir à peça Teatro, do escritor e encenador francês Pascal Rambert, no Teatro Nacional D. Maria II. Saímos lívidas, eufóricas e extasiadas da brutesca (e sublime) representação de Beatriz Batarda que bradava, à plateia, um monólogo sobre um amor falhado e incompreendido. Talvez de forma inconsciente, a angústia tão bem ensaiada da talentosa atriz tenha deixado nas duas uma vontade de refletir sobre aquilo que de mais complexo, cliché e mundano pode despontar uma conversa num banco de jardim da Avenida da Liberdade, à meia-noite, de um dia de semana. O amor.

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Como uma verdadeira millennial, fiel à escassez de tempo comum à sua geração, a Mariana ouvia um podcast a caminho do trabalho quando tropeçou na conversa entre a comediante Jolenta Greenberg e a sua amiga cética Kristen Meinzer (autoras do podcast By the Book, descrito pelas próprias como uma "experiência social selvagem", em que primeiro testam métodos e padrões, e depois falam sobre eles). Depois de me contar como ajudou amigos próximos nas suas relações amorosas (qual Cupido), não resiste, movida pelo entusiasmo que se transforma numa longa conversa, a explicar-me tais linguagens.

Para quem valoriza tempo de qualidade é sobejamente importante que o outro esteja presente com televisões e wi-fi desligados, seja às cinco horas da manhã ou às seis horas da tarde, desde que a sua atenção e tempo partilhado sejam sinceros. Para estas pessoas, o fundamental é estar quando é, de facto, preciso. Mas há quem valorize de forma primordial o toque físico, tal como receber um abraço inesperado ou andar de mãos dadas na rua, sempre. Ou quem sinta que ser amado é ter do outro ajuda no dia a dia, como ir buscar os filhos à escola ou ir ao supermercado. Ou deixar o almoço previamente cozinhado. Há quem ache essencial receber palavras de apreço que se traduzem em elogios ou em receber frequentemente mensagens com juras de amor e ainda há quem, acima de todas estas coisas, prefira receber presentes, de forma regular, seja um ramo de flores, um postal ou uma carteira.

Como se constrói a nossa aprendizagem do amor? Segundo aquela especialista, essa aprendizagem parte das primeiras relações com o outro. "Ao longo do nosso crescimento somos condicionados a questionar-nos sobre nós mesmos. Comparamo-nos a outros e colocamos em causa um conjunto de aspetos fisiológicos, psicológicos e emocionais. Criticamo-nos procurando ser permanentemente melhores, mais fortes, mais atraentes, mais bem-sucedidos, numa tentativa de obtermos aprovação, respeito e amor. Todavia, a relação que estabelecemos connosco mesmos determina o molde em que iremos viver relações com outros, pelo que se o amor que dirigimos a nós próprios é crítico e condicional, o amor que iremos experienciar de outros tenderá a ser idêntico", esclarece a terapeuta, reforçando a importância da infância. "De forma intuitiva e subconsciente procuramos o amor desde que nascemos, nas suas várias formas. Da infância à idade adulta, vamos construindo relações significativas guiadas pelos padrões de ligação familiares. É pela observação da forma como os que nos rodeiam amam e pela experiência de como nos sentimos amados que construímos os nossos primeiros modelos do que é o amor e de como é amar." 

Para Marta Crawford, psicóloga clínica, sexóloga e terapeuta familiar, são estes primeiros modelos que moldam as pessoas, falando da sua própria experiência profissional como terapeuta. "Em consulta, eu ouço muitas vezes dizer: ‘Os meus pais também não eram muito afetivos.’ É uma expressão recorrente em situações em que alguém se queixa que o outro não é muito expressivo fisicamente (…) sem ser no momento em que há sexo. Há uma diferenciação entre o relacionamento do dia a dia em que há toque [físico], em contexto social ou não, e o do momento em que há sexo. Geralmente, a pessoa justifica a falta de competência ou de à-vontade com base nas experiências anteriores em termos afetivos, nomeadamente na relação com os pais ou com os avós (…). As práticas familiares que existiram no nosso crescimento fazem com que tenhamos uma relação com o lado físico mais complicada ou mais descomplicada."

A ideia é explicada no artigo de opinião Podemos Finalmente Deixar de Falar Sobre Cérebros ‘Masculinos’ e ‘Femininos’? (Can We Finally Stop Talking About ‘Male’ and ‘Female’ Brains?) que Daphna Joel, professora de psicologia e neurociência, e Cordelia Fine, professora, psicóloga e filósofa, escreveram para o The New York Times, em dezembro passado. Num dos seus estudos recentes, estas professoras concluíram que "as diferenças entre os sexos que se veem em geral entre os cérebros masculino e feminino não são nitidamente e consistentemente vistas em cérebros individuais. Noutras palavras, os humanos não têm cérebros com características maioritariamente ou exclusivamente ‘típicas femininas’ ou características ‘típicas masculinas’", explicam. "Em vez disso, o que é mais comum em mulheres e homens são cérebros com ‘mosaicos’ de características, alguns deles mais comuns em homens e outros mais comuns em mulheres."

Os homens devem responder com um soco quando provocados; as mulheres devem ser fisicamente atraentes." Para Ana Carvalheira, esta realidade está a mudar, ainda que de forma morosa. "As diferenças de género estão a diluir-se numa sociedade com enormes transformações, mas ainda não podemos dizer que a linguagem do amor não tem género. O erotismo feminino e o erotismo masculino aproximam-se cada vez mais. A expressão verbal, um dos cinco tipos de linguagem [segundo o modelo de Chapman], é muito importante a nível sexual para um casal."

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Filipa Jardim da Silva explica como funciona o cérebro, do ponto de vista das neurociências: "O cérebro, quando experiencia amor, tem vários químicos presentes, influenciando a forma como cada um de nós vive e perceciona o amor. A oxitocina, por exemplo, é uma hormona responsável pela vinculação materna e comportamentos de proteção maternal, bem como por respostas de excitação sexual. A serotonina, por sua vez, impacta no bem-estar e felicidade experienciados."

Oque é que de mais relevante contribui para esse entendimento saudável, à parte de todos estes fatores? Perguntamos àquela especialista, em jeito de conclusão. "Provavelmente, amar centrados no amor puro, na essência deste sentimento pautado por bondade, tolerância e compromisso, ao invés de investirmos num amor condicional, repleto de expectativas idealizadas e com faturas emitidas ao outro de forma subliminar."

Marta Crawford também termina com uma nota importante: "Todos os casais têm um pouco de todas [as linguagens]. O ideal é que a maior parte dos casais encontre pelo menos uma das formas de expressão que seja o mais próxima possível para que tenham uma em comum. Mesmo que as pessoas sejam diferentes, têm de procurar o seu próprio modelo funcional. Perceber, no fundo, o que é importante." Às vezes, basta escutar a mesma canção. Mas mais importante que isso, contas feitas e linguagens à parte, será escutar o coração. O nosso e o do outro.

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