Jornalista repreende telespectador misógino em direto

Repórter de trânsito recebe, em direto, um email de alguém que lhe pergunta se está grávida, criticando o seu aspecto e a sua escolha de roupa. A jornalista foi rápida no gatilho: "por acaso, tirei o útero no ano passado porque tive cancro" e "este é o aspeto das mulheres da minha idade".

Foto: Twitter @GlobalCalgary
07 de dezembro de 2023 às 13:02 Madalena Haderer

Dos repórteres de trânsito esperamos informação que nos ajude a decidir qual o melhor caminho para o trabalho e quão cedo temos de sair de casa antes que o percurso se torne caótico. Acidentes, mau tempo, engarrafamentos, é isso que interessa. Que, de repente, faça parte do seu job description chamar os telespectadores à atenção quando eles são cavernícolas diz muito sobre os tempos atuais. Foi isso mesmo que aconteceu no Global News Morning Calgary, um programa de informação da televisão canadiana, quando a aparência da repórter Leslie Horton foi criticada, em direto, por um espectador que enviou um email para a redação. A jornalista foi rápida na resposta e isso está a valer-lhe o "prémio" de melhor "descasca" do ano.

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Global News Calgary traffic reporter @global_leslie responds to an email criticising her choice of clothes. #yyc pic.twitter.com/r9Od0hKbn0

O episódio ocorreu quando Horton estava em direto a reportar o estado do trânsito. Vêmo-la no estúdio, diante do mapa interativo da cidade, e, a determinada altura, ela interrompe o que está a dizer para dar resposta a um email que diz ter acabado de receber. Um telespectador escreveu o seguinte: "Parabéns pela gravidez! Se vais usar calças velhas de motorista de autocarro, tens de aceitar que vais receber emails deste género." Leslie usa a ironia para "agradecer" a observação e informa que não só não está grávida como, no ano passado teve de tirar o útero devido a um diagnóstico de cancro. E conclui dizendo que "este é o aspeto das mulheres da minha idade, se isso é algo que o ofende, lamento muito".

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É, de facto, inevitável lamentar que, no desempenho das suas funções de jornalista de trânsito, uma mulher (se fosse um homem era igual, mas este tipo de comentário costuma ser direcionado às mulheres) tenha de devassar a sua vida privada, falando de uma doença que teve, para responder a um telespectador que sai do seu caminho para ofender uma pessoa gratuitamente. E, apesar de Leslie ter tido a capacidade e a presença de espírito de se defender da tentativa de humilhação – empoderando mulheres que, nas suas vidas de todos os dias, recebem o mesmo tipo de críticas em relação ao seu aspeto –, a situação reflete a misoginia que permanece em pleno séc. XXI.

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