“Eu pude crescer e escolher o meu caminho sem ter o barulho das redes sociais”

Joana Ribeiro é protagonista de ‘Linhas Tortas’, a primeira longa-metragem de ficção da realizadora portuguesa Rita Nunes. A atriz sentou-se com a ‘Máxima’ para partilhar detalhes da produção.

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05 de julho de 2019 às 07:00 Aline Fernandez

Como nos relacionamos através das redes sociais? O filme Linhas Tortas, rodado em Lisboa, é uma ficção ancorada numa temática indiscutivelmente atual, cujos protagonistas, Luísa (Joana Ribeiro) e António (Américo Silva) se conhecem através do Twitter e passam a relacionar-se pela Internet, consolidando o que parece ser uma genuína relação emocional.

"O filme fala do melhor que as redes sociais têm, o facto de realmente podermos conhecer as pessoas, o que é bom e mau ao mesmo tempo", avança Joana Ribeiro.

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A primeira longa-metragem da realizadora portuguesa Rita Nunes consegue assim retratar este vínculo social abstracto, numa história onde os desejos são humanos, mas o contacto físico nem por isso. "No Twitter, principalmente – e eu não fazia ideia, porque nunca tive Twitter –, mas a Carmo Afonso, argumentista do filme, contou-me que no Twitter é muito usual haver perfis não falsos, mas que também não são verdadeiros, digamos assim. Então é algo que é fácil acontecer, apaixonarmo-nos e criarmos relações com pessoas que não fazemos ideia de como são, o que fazem, como se movimentam na vida", continha Joana. "Eu acho isso muito interessante: haver a possibilidade de começarmos a relação com alguém apenas pela conversa e apenas pela mente e pela cabeça dessa pessoa – que é algo que nós não podemos fazer no dia a dia. Quando conhecemos alguém há uma série de barreiras e de códigos que nos param, muito mais do que nos unem, se calhar." E num mundo onde até o Presidente dos Estados Unidos da América Donald Trump é um dos grandes utilizadores desta plataforma como veículo de comunicação, não há razões para não acreditar nesta improvável relação.

Joana Ribeiro diz ter uma relação de amor e ódio com as redes sociais. "Eu pude crescer e pude criar uma opinião e escolher o meu caminho sem ter o barulho todo das redes sociais, de ter medo do que digo nas redes sociais, medo que alguém vá comentar ou que alguém vá fazer um post", confessa à Máxima e reforça o ponto negativo destas novas plataformas: "Hoje em dia toda a gente pode dizer o que quer nas redes sociais. Somos todos críticos de cinema, somos todos jornalistas, somos todos políticos, somos todos tudo e mais alguma coisa." A atriz de 27 anos afirmou que gasta uma hora por dia nas redes ou "duas num dia muito chato, talvez, no máximo, num dia muito secante, três a quatro horas", mas confessa que mexe muito no telemóvel, contudo a enviar mensagens ou a pesquisar ou a ler notícias na Internet.

Por isso (e não só), as suas similaridades com a personagem são poucas. "Eu acho que a Luísa vê a vida de uma forma diferente de mim. Eu sou muito de reagir, dificilmente deixo as coisas acontecerem. Se há algo que eu não gosto a acontecer, dificilmente me mantenho nesse lugar. Acho que isso é a nossa maior diferença, eu sinto que a Luísa só no fim decide tomar as rédeas da vida dela, eu desde que nasci que tomo as rédeas da minha vida", ri-se.

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A atriz e a realizadora Rita Nunes trabalharam juntas em Madre Paula (2017), série da RTP que recebeu a distinção de melhor série nos Prémios Sophia. "Quando a Rita me contactou sobre este projeto, mesmo antes de ler o guião, eu já tinha decidido que queria trabalhar com ela outra vez. E depois, quando li o guião da Carmo, achei-o super pertinente para os dias de hoje, super atual, muito poupado nos diálogos, que é uma coisa que nas novelas raramente se encontra e, na altura eu estava a fazer uma novela, e senti que seria um bom contraponto", explicou Joana.

A longa foi filmada no final de 2017 e foi a primeira vez que Joana trabalhou com uma realizadora mulher (o filme O Caderno Negro da realizadora chilena Valeria Sarmiento foi filmando no início de 2018 e foi lançado já no final de 2018). "Eu acho que é bom para o mercado haver realizadores diferentes. Para mim não existe distinção neste aspeto. Agora, que é bom para o mercado haver pessoas com visões diferentes e com noções diferentes do mundo, pontos de vista diferentes, acho que sim, totalmente. As mulheres têm, obviamente, um ponto de vista diferente dos homens e uma realidade diferente e vêem o mundo de uma maneira diferente e sentem as coisas de uma forma diferente. É muito importante haver mais realizadoras mulheres a trabalhar."

O filme Linhas Tortas já está nos cinemas e conta ainda no elenco com nomes como Ana Padrão, Miguel Nunes, Manuel Wiborg, Maria Leite e Elmano Sancho.

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