Morreu a gastrónoma e escritora Maria de Lourdes Modesto
A autora da Cozinha Tradicional Portuguesa era uma referência na gastronomia portuguesa e tinha 92 anos. A notícia foi avançada por Fátima Moura, escritora ligada à gastronomia e amiga de Maria de Lourdes. Recordamos aqui um excerto do seu último livro, publicado na Máxima a 7 de junho de 2021.

Reparo que agora, mais do que pelas receitas, as pessoas que se interessam por gastronomia, mostram maior curiosidade pela história dos pratos que comem. Considero a atitude saudável do ponto de vista cultural. Acredito que os pratos com que frequentemente lidamos, sejam eles regionais nossos ou de outros, à semelhança de tudo o que acontece na vida e deixou marcas, têm um passado, um presente e um futuro. Não vou aqui alongar-me com a História da Alimentação, de que não desconheço o importante contributo para o conhecimento da Humanidade, mas apenas falar de estorietas que correm, em conversas ditas de salão, sobre pratos ou manjares que atingiram o estatuto de celebridade. Estou pessoalmente convencida de que a maior parte dessas estórias não passa de fantasias, mais ou menos bem alicerçadas. Vem isto a propósito de uma conversa que ouvi num restaurante, que não sendo comigo, era seguramente para mim, dado o tom em que era falada.
Tratava-se da história dos Crepes Suzette. Confesso que, quando comecei nestas lides e se usavam os «chamaréus» nas salas dos restaurantes, não fui indiferente à história do saboroso pitéu a que chamarei, sobremesa-espectáculo.

Como sempre, do que a propósito chegou ao meu conhecimento, não existe apenas uma estória, mas duas. Ambas assentes na galanteria do Príncipe de Gales que veio a ser o simpático Eduardo VII.

Precisemos o indispensável, e isto de uma vez por todas: não foi Escoffier que inventou os Crepes Suzette. Este encontrava-se em Londres na altura, e as duas estórias passam-se na Côte d’Azur.
Tendo o ainda Príncipe de Gales convidado para jantar, no restaurante Café de Paris em Monte Carlo, uma lindíssima morena, pediu ao chef que lhe fosse servido, como sobremesa, qualquer coisa de muito especial. A escolha recaiu nuns nunca vistos crepes aromatizados com sumo de tangerina e Curaçau que, consta, não estava previsto serem flamejados. À época era moda as sobremesas terem um acabamento na sala, sobre «rechauds». Por distracção ou talvez não, o maître d’hôtel deixou incendiar o álcool o que provocou no Príncipe e na sua acompanhante um gritinho de admiração. Encantado, Eduardo quis saber o nome de tão inusitada sobremesa. Ao inclinar-se respeitosamente para a convidada do Príncipe, este achou a ideia excelente. E foi assim, segundo uns, que nasceram os Crepes Suzette.
Numa versão mais adequada a contar aos netinhos no final do jantar de um domingo, o Príncipe comeria os famosos crepes quando uma linda jovem lhe veio vender um raminho de violetas. Deliciado com a sobremesa ainda sem nome, o Príncipe ter-lhe-á dado o nome da pequena «violetera», Suzette.


Claro que a história dos crepes não começa aqui, e sem entrar na ciência ou na Grande História, parece que o primeiro crepe terá sido comido pelo mago Merlim que o comeu da mão da fada Viviane. Não é apenas atrás de um grande homem que há sempre uma mulher… no melhor da cozinha, também.
Maria de Lourdes Modesto, in Coisas Que Eu Sei (págs. 181-183)

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