"Conheço bem a história da única princesa inglesa que se tornou rainha de Portugal"
Todas as princesas têm uma história. Mas nem toda a gente as sabe contar, e certamente ninguém melhor que a escritora e jornalista Isabel Stilwell, que acaba de publicar "D.Filipa de Lencastre: A rainha que seguiu a sua estrela."

Além de uma jornalista exímia, Isabel Stilwell conta histórias como ninguém através dos seus romances históricos. Mãe e avó, também sabe usar a mestria das palavras para encantar os mais pequenos, e é precisamente isso que faz em "D.Filipa de Lencastre: A rainha que seguiu a sua estrela", uma história de encantar sobre uma das rainhas mais fascinantes da história: a rainha Filipa de Lencastre, que saiu de Inglaterra com 27 anos para se tornar Rainha de Portugal.
Editado pela Manuscrito, este livro infanto-juvenil é segue-se a "Dona Maria II - A rainha menina", o segundo de uma coleção que já é uma referência dentro do segmento. Conversámos com a autora acerca da história desta rainha que a inspirou particularmente, pelas semelhanças inequívocas com o trajecto de vida da sua própria mãe.

O tema da realeza não é de todo alheio à Isabel – pelo contrário. Porque escolhe D. Filipa de Lencastre para personagem central desta história, que foi aliás a personagem com se estreou nos romances históricos?
Esta coleção de rainhas de Portugal para os mais pequenos tem por objetivo ajudar a que os mais novos conheçam estas mulheres extraordinárias, que muitas vezes ocupam muito pouco espaço nos manuais escolares, e até nos compêndios mais eruditos. Começámos com a rainha D. Maria II, porque foi uma menina que se tornou rainha aos 7 anos de idade — a idade dos leitores! —, nascida num Brasil distante e exótico que a marcou para sempre, e que teve de lutar muito pelo seu direito ao trono. Mas o segundo livro desta coleção não podia deixar de ser D. Filipa de Lencastre, a rainha do meu primeiro romance histórico, mãe de oito filhos que mudaram a História de Portugal. É uma vida que tem tudo para prender o leitor de todas as idades: aventura, mistérios de um céu que os astrólogos descobriam, espadas, guerras de irmãos, e uma filha que recebe a mesma educação do que os irmãos e adora Matemática.
É uma história que, pessoalmente, a fascina? Refere-se à sua mãe, a quem homenageia com o livro, logo no início.

Quando me desafiaram a escrever um romance histórico e me perguntaram sobre quem escreveria, respondi "Filipa de Lencastre", mesmo sem pensar. A história da única princesa inglesa que se tornou rainha de Portugal era uma história que eu, filha de pais ingleses, conhecia bem. E, como escrevo na dedicatória do livro dos pequeninos, que tal como o do livro dos grandes, é dedicada à minha mãe, Pamela Stilwell tinha muito de Philippa of Lancaster: nasceram na mesma região de Inglaterra, vieram para Portugal para casar, tiveram oito filhos e, acima de tudo, foram guiadas por uma Fé católica inquebrantável.
O que continua a ser mágico acerca dos livros infanto-juvenis? É um prazer, escrever estas histórias para os mais novos?
Continuo a ser uma leitora ávida de livros infantis e juvenis. Pergunte-me quais são os meus livros favoritos, e cito-lhe logo o Peter Pan, o "Leão, a bruxa e o armário", do C.S. Lewis, o Harry Potter e, claro, os Cinco, da Enid Blyton, e muitos mais. São os bons livros de criança e adolescente que nos tornam leitores ávidos, por isso não é uma brincadeira o que damos aos mais novos para ler. Escrever para eles é um prazer tão grande, porque estou a escrever para mim própria. Desde as Histórias para os Avós Lerem aos Netos, e que inclui as histórias lidas pela minha filha Ana, aos romances históricos para leitores mais novos, que me permitem trazer-lhes histórias dentro da História que me fascinam, tudo isto é, para mim, um autêntico recreio.

E porque fascinam tanto as crianças (arrisco-me a dizer também os pais) os livros sobre reis e rainhas em particular?
Julgo que o fascínio vem de um mundo que imaginamos rico, confortável, cheio de adrenalina, mas a verdadeira história das princesas, das rainhas e dos reis, é também uma história de dificuldades e obstáculos, e os meus livros nunca o esquecem. Nomeadamente que estas princesas eram peças num xadrez complicado, que tantas vezes não eram tidas, nem achadas quando os pais tomavam decisões sobre o seu futuro, e que conheciam incontáveis desgostos, de amor, com a morte dos filhos e dos amigos, com a guerra e a fome. Mas esta "versão" mais realista do passado ao contrário de afastar os leitores, aproxima-os, já que só conseguimos realmente admirar e criar empatia com outros seres humanos de carne e osso, e não com estátuas frias colocadas em longínquos pedestais. As crianças não são exceção.


O que continua a apaixoná-la na arte de contar histórias através dos livros?
Partilhar com os outros as histórias dentro da História é o que dá sentido ao trabalho árduo de investigação e pesquisa que faço ao longo de anos. Entusiasmo-me com a descoberta, mas também com a antecipação do prazer que vou dar a quem me lê. Para mim o Paraíso é certamente um sítio onde existe uma mesa, um computador com uma página em branco, estantes cheias de livro para consultar, e uma paisagem fabulosa que vejo para lá da janela. É a dedilhar um teclado, que me sinto mais feliz.

Isabel Stilwell: "Faz-me confusão a competição entre mães que as redes sociais encorajam."
O livro "Birras de mãe" dá continuidade a um troca de palavras entre Isabel e Ana, mãe e filha, durante a adolescência da segunda, com um diário para cada uma. Agora, as conversas (e as birras) ganham novas temáticas com um humor que só se consegue com a cumplicidade da maternidade.
"Quando comecei a escrever sobre rainhas, percebi que há um lado das suas histórias não contado."
A primeira nasceu em Saragoça e ficou noiva aos dez anos, aos 12 já vivia em Portugal. A segunda era bisneta do rei de França e cresceu com os irmãos num palácio da Normandia, até que se casou com Carlos, herdeiro ao trono de Portugal e teve um destino infortúnio.
20 livros para ler agora (e quem sabe oferecer no natal)
De novas biografias a romances históricos, estas leituras inspiram-nos a mergulhar em vários cenários de ficção e não ficção durante largas horas. Não é essa a maravilha da literatura?