Eva Claessens leva a sua graça à Herdade da Malhadinha Nova
A artista belga desenhou o rótulo do novo vinho deste projeto vitivinícola, e inaugurou Grace, uma exposição inspirada no espaço, na luz e na boa energia daquela grande herdade no coração do Alentejo – que fez um evento de lançamento à altura.
Eva Claessens expõe "Grace" na Herdade da Malhadinha, celebrando a beleza na arte
Foto: Alejo Lihue García Rapetti17 de novembro de 2025 às 12:15 Patrícia Barnabé
O espaço do Alentejo, as suas vistas largas e desafogadas, dão uma qualquer sensação de possibilidade. Há suavidade na partilha com o mundo natural, por muito dura que seja a arte de viver no interior mais árido do país, tantas vezes abandonado. Afastada da costa, na Herdade da Malhadinha Nova o silêncio quase ecoa, a tocar uma certa transcendência que vem da pureza dos elementos – uma relação ancestral, porque somos Natureza. É um pouco de tudo isto que Eva Claessens celebra na sua arte etérea e delicada, por isso, o seu encontro com a dona da Malhadinha, Rita Soares, foi quase cósmico: “Um jantar, uma conversa, uma afinidade que não precisou de muitas explicações. Partilhámos uma refeição e descobrimos uma visão comum da vida e da estética”, conta a artista. Rita Soares recordou esse encontro, que acabou por ser de almas, na abertura do evento na grande herdade alentejana, ponta de lança da melhor hospitalidade, simples e ligada à terra: “Partilhámos o nosso trabalho e o prazer de estarmos juntas, apenas”.
"Grace", exposição de Eva Claessens na Herdade Malhadinha Nova, celebra beleza e forma
Foto: David De Vleeschauwer
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Estamos todos dentro de uma escultura pensada pelo arquiteto Manuel Aires Mateus, para o grande campo aberto da Malhadinha. Empilhou vários fardos de palha como tijolos, criando um espaço de abrigo e contemplação, com o céu imenso do Alentejo como testemunha, na esteira dos artistas de land art. Parecemos estar numa outra realidade. Se, no ano passado, esta inaugurou ao som do piano de Mário Laginha, desta vez foi a arte de Eva Claessens a receber-nos ao cair do dia. Pequenas esculturas e grandes telas descarnadas estão espalhadas e penduradas pelo espaço, como se por acaso, com a mesma espontaneidade que respiram, na sua essência. No centro, uma grande mesa, cheia de mimos pensados pela cozinha da Malhadinha, dos tradicionais aos vegetarianos, e regados pelos delicados vinhos da Herdade da Malhadinha. À volta da mesa, os amigos de ambas, alguns deles viajaram de outros países ou continentes para ali estar, naquela noite, que ainda por cima foi de lua cheia.
Eva Claessens expõe Grace na Herdade da Malhadinha, Alentejo, com uma escultura de Aires Mateus
Foto: Nelson Carvalheiro
Tudo porque Rita se cruzou com Eva e o seu trabalho. Entrou em contacto com a artista e foi visitá-la ao seu estúdio, no sul de França, onde vive, alternando temporadas no Chile. A sua arte é o seu próprio mundo – poética, bucólica, etérea. E assim surgiu o convite para vir ao Alentejo “com a ideia de organizarmos uma exposição juntas”, conta Eva. A mostra chama-se Grace e pode ser vista até ao fim do ano. As peças que a compõem não nasceram de um plano, “mas da escuta”, pois Eva Claessens cria a partir da sensação e do sentimento, as suas esculturas “são interpretações de sentimentos, não cópias da realidade”, diz. O que os seus sentidos procuram, não o sabemos, mas começa “sempre com um desenho feito com modelos reais”, explica. “Nestas linhas, capto uma emoção, um momento fugaz no tempo. As minhas mãos ouvem primeiro, o silêncio entre a quietude e o movimento; uma interpretação da emoção na matéria, uma forma de os sentidos falarem antes que a linguagem comece.”
Eva Claessens expõe "Grace" na Herdade da Malhadinha Nova, Alentejo, com esculturas e telas
O desenho é a sua linguagem primordial, basta olhar para as suas telas, que parecem voar: “Desenhar é a minha linguagem. É onde o movimento nasce – frágil, desprotegido, ainda à procura da sua forma. Quando desenho, não estou a descrever, estou a ouvir. A linha é um pulso, um fio entre o pensamento e a matéria, ela transporta o ritmo do que mais tarde se tornará volume.”
Na sua escultura, tão orgânica, trabalha, essencialmente, o mármore branco e o bronze, que “falam duas línguas diferentes do tempo e seduzem os meus sentidos porque são opostos na conversa: um absorve a luz, o outro devolve-a. O mármore é silêncio, retendo luz e paciência; o bronze é respiração e transformação.” Mas é desenhar que a artista estende as suas asas: “Desenhar permite-me tocar a liberdade, mover-me sem resistência, deixar a intuição guiar o que a razão não consegue nomear. É o início da graça, onde o invisível começa a tomar forma”.
Esculturas e telas de Eva Claessens expostas na Herdade da Malhadinha Nova, no Alentejo
Foto: David De Vleeschauwer
Como uma exposição destas não se mantém na Natureza, principalmente as pinturas, que não podem ficar ao relento, foram feitas algumas escolhas, as esculturas vão estar expostas, até ao fim do ano, dentro e à volta do restaurante, “interagindo com as plantas e a arquitetura”, diz Eva, e as pinturas ficam no restaurante e em algumas paredes da adega.
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Também o rótulo do novo vinho branco da Herdade da Malhadinha, delicioso, por sinal, é desenhado por Eva Claessens. “Se pensarmos que o antigo dono desta vinha, o senhor Isidro”, conta-nos João Soares, marido de Rita, ao almoço, no dia seguinte, “começou a plantá-la em 1949, aos 20 anos de idade... Em 2016 pediu-nos para a comprá-la e preservar o seu trabalho. Morreu aos 92 anos. E nós quisemos manter esta autenticidade portuguesa, a sua hospitalidade e simplicidade e luz”. E conseguem-no, de uma forma dedicada e despretensiosa.
“Da primeira vindima desta herdade, que foi em 2003, saiu o Monte Peceguina”, conta-nos o dono da Malhadinha, enquanto degustamos o novo branco da Malhadinha. Mais de 20 anos depois, é imaginar como se sofisticou a sua vitivinicultura, e tudo o resto à sua volta. Trata as suas vinhas com o maior respeito pela biodiversidade. Na herdade, dormimos ao lado de ninhos de cegonhas, em quartos amplos e recheados pelo trabalho dos artesãos da zona. A mais recente notícia é o trigo orgânico da Malhadinha passar a estar no pão da padaria Gleba. É todo um circulo virtuoso, do qual também faz parte esta pequena exposição.
Além do belo exercício estético e de evasão de Eva Claessens, num mundo em constante turbulência e mudança, será que faz sentido uma artista viver numa bolha? Qual o seu propósito? “Se há uma mensagem no meu trabalho, é simplesmente sentir. A minha arte não é uma lição, nem uma exigência – é um convite. Pede ao mundo para abrandar, para ouvir, para sentir. Para reconhecer que a beleza nem sempre é ruidosa e que a graça nem sempre é visível. Ela vive na presença, na atenção, no delicado desenrolar da própria vida”.
Foto: David De Vleeschauwer1 de 2 /o rótulo do novo vinho branco da Herdade da Malhadinha é desenhado por Eva Claessens
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Foto: David De Vleeschauwer2 de 2 /Eva Claessens expõe Grace na Herdade da Malhadinha, no Alentejo
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