ModaLisboa à La Carte: o que foi servido nos três dias de desfiles
Transparências, recortes, muita pele e cor de rosa foram alguns dos itens no menu apresentado para a primavera/verão de 2024, na 61ª edição da semana de moda de Lisboa.

Depois de duas edições na zona de Marvila, a ModaLisboa voltou ao centro da cidade. Foi no Pátio da Galé, no Terreiro do Paço, que foi apresentada a maioria das coleções para a primavera/verão do próximo ano. Com as temperaturas de outubro em alta (na capital chegou-se aos 31º ao longo destes três dias), o que a passerelle trouxe não foi a sensação nostálgica de uma estação passada, mas uma ânsia de aproveitar os últimos dias de calor para testar as tendências dos próximos tempos.
O primeiro dia de desfiles encerrou com DuarteHajime, que marcou 2023 como um novo início para a marca. Em Arcade, a essência continua lá: os blusões, as calças com fit relaxado e os ténis mantêm-se. À estética confortável de Ana Duarte acrescentou-se a nostalgia de uma infância vivida na década de 1970. A entrada em grande dos modelos na passerelle, que jogaram uma partida de um videojogo pixelizado como se saído de uma Atari, definiu o tom para o desfile. As camisas estruturadas, os calções pelo joelho e os cortes largos dominaram. Como já não é novidade, são peças sem género, que dificilmente se pode atribuir ao masculino ou ao feminino. Quanto a cores, o azul e o rosa são predominantes (tal como em muitas outras coleções desta estação), bem como estampados coloridos de uma história contada através de pixels.


O sábado arrancou pela manhã com uma visita ao estúdio de Constança Entrudo, que nos deu as boas-vindas com bolachas de gengibre, uma limonada com vodka e uma mini bengala doce. À primeira vista, parecia que estávamos mais próximos do Natal do que da praia. Em Burn Out, a designer provou que não precisamos de escolher um dos dois: nas camisolas de manga cava vestidas por modelos de cabelo molhado há estampados de laços de presentes. A proposta para a primavera/verão 2024 é de desconstruir e reimaginar, desfazendo camisas e montando-as com peças trocadas, sobrepostas e delicadamente esfarrapadas.



Luís Buchinho levou o verão à passerelle do Pátio da Galé. Foi ao som de ondas que entraram as modelos com o cabelo ainda a escorrer pelas costas de camisas e vestidos leves, de seda ou linho. Para a próxima estação, o designer propõe formas largas, sem género: vestidos de manga cava até aos pés, calças balão e conjuntos equipados com capuz. Para Luís Buchinho, a primavera/verão do próximo ano vai ser para andar de pés de fora, já que até as botas altas têm um vestígio de pé aberto. Em clássico tom veranil, o azul (turquesa, particularmente) domina a paleta de cores, que é completada com cinzento, muito branco e alguns apontamentos de amarelo radiante.


Enquanto o público aguardava a apresentação de Nuno Baltazar, a música groovy anunciava já o tom da coleção que se avizinhava. Ballroom é, como o próprio nome indica, uma festa. Raro foi o conjunto que não cintilou, havendo até alguns totalmente cobertos de lantejoulas em tons arrojados de laranja, prateado e rosa. Nem as meias e as luvas compridas escaparam ao acrescento do brilho. O colorblock dominou a passerelle, principalmente em verde-água e cinzento. Entre grandes decotes e saias maxi, as peças oscilam entre os dois extremos: muito curto ou muito longo, mas sempre com a certeza de que haverá bastante pele exposta. O designer propõe, ainda, o regresso da renda, em camisolas que descem até às ancas e em tops estilo bandeau.



O último dia da ModaLisboa começou com um retorno à natureza e ao melhor que a terra tem para nos dar. Ivan Hunga Garcia apresentou, entre quadros e obras na Galeria Monumental, sete looks que relembram o nosso passado antropológico. Um pequeno poncho de flores felpudas, sapatos de relva e um casaco com mangas de terra são alguns exemplos das novidades do antigo concorrente do Sangue Novo. A forma do corpo parece tornar-se obsoleta e é a natureza a tomar o protagonismo. Parecem não importar os pés que calçam sapatos de flores. São apenas um veículo para que seja criada esta nova dimensão da homenagem que Ivan Hunga Garcia faz à Terra.


Depois de um arranque de dia experimental, a tarde no Pátio da Galé começou com um aniversário redondo de Luís Carvalho. Para celebrar uma década da sua marca, o designer olhou para trás e viu a primeira coleção que apresentou na ModaLisboa com outros olhos. A partir dessa nova perspetiva nasce Shelter 2.0, uma retrospetiva apresentada ao som da banda Best Youth, que cantou The XX, Elvis Presley e outros essenciais. Na proposta de Luís Carvalho, as camisas de cetim de seda e crepe praticamente não tocam no corpo. As formas quadradas apoderam-se das camisas de manga curta, dos blazers e dos decotes desenhados a direito. A paleta simples, de azul marinho e areia, é completada com detalhes, como laços que fecham mangas e sobreposições de tecido. A sobriedade não se manteve até ao fim: um brilho holográfico substituiu os tons neutros nos últimos cinco looks que fecharam a coleção.



Quando as it girls compõem a primeira fila do público, sabemos que vai valer a pena - e não esperaríamos menos de Gonçalo Peixoto. Na próxima estação, o designer propõe brilho nas suas mais variadas formas, desde adereços prateados pendurados num conjunto de fato a lantejoulas bordadas, que chegam até aos fatos de banho. Seja em tons de rosa, lavanda ou azul, pode-se esperar ver pele em tops mini e em malha transparente. As saias e tops micro são essenciais do designer, que também oferece opções com mais cobertura, como calças e vestidos mais estruturados.


Parece que Nuno Baltazar não é o único a querer o regresso da renda, que Gonçalo Peixoto propõe fluida e reveladora.



A honra de encerrar mais uma edição da ModaLisboa foi de Dino Alves, que levou uma coleção (quase) enganadora ao Pátio da Galé. Com os primeiros looks, de saias rodadas e camisas clássicas, quase diríamos que seria uma proposta conservadora. Os recortes redondos no tecido quase passavam por cautelosos, não fossem os vestidos estruturados fechados apenas por uma série de lacinhos, ou os tops meta que tinham em si o contorno de uma t-shirt. A irreverência confirmou-se e os blazers foram ganhando camadas, mangas de mesh e os vestidos surgiram com bastidores de bordado. O vermelho e o preto transformaram-se em salmão, dourado e rosa. As saias de tule coloridas fecharam a passerelle, com a certeza de que a próxima estação vai ser uma de transparências.


Para além destes destaques, a 61ª edição da ModaLisboa contou com apresentações de Buzina, Kolovrat, Olga Noronha, Carlos Gil e outros designers.









Foram, também, conhecidos os seis finalistas desta edição do concurso Sangue Novo: Bárbara Atanásio, Diogo Mestre, Gabriel Bandeira, Isza, Maria do Carmo Studio e Çal Pfungst?. Ao longo destes quatro dias de programa, houve ainda espaço para exposições de projetos de Moda sustentável, uma apresentação da marca Portuguese Soul e várias talks sobre criatividade, tecnologia e inteligência artificial.

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