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Moda

30 anos de ModaLisboa. As histórias de quem os recorda com emoção

Há três décadas, a ModaLisboa era um ainda evento inédito prestes a estrear-se em Portugal. Ao longo dos anos, o certame elevou gerações de designers, revelou novos talentos e marcou a história da Moda no país. Quem a faz e quem a viu conta à Máxima como foi vê-la crescer.

Foto: Tomás Monteiro
09 de outubro de 2021 às 13:44 Rita Silva Avelar

Embora os tempos sejam diferentes, conseguimos imaginar o frenesim que se terá instalado em Lisboa ao receber um ainda embrionário acontecimento de Moda, no Teatro São Luiz, corria o mês de abril de 1991. Eram esperadas coleções nunca vistas de 13 criadores para o inverno de 1991/92, no qual se incluíam Ana Salazar, Nuno Gama, Luís Buchinho, José António Tenente, Alves/Gonçalves, entre outros, coordenadas por Isabel Branco e coreografados por Paulo Gomes. Estávamos perante a primeira edição da ModaLisboa, ou a Lisbon Fashion Week, como hoje também a conhecemos.

Foto: DR

A sensação de novidade e a incerteza do que seria e no que se transformaria, faziam parte do encanto. Para trás ficavam as Manobras de Maio dos anos 80, o termo passagens de modelos deu lugar aos desfiles, e Lisboa começava a agitar-se, finalmente, em direção a um futuro mais frenético para a Moda nacional. Todos ganhámos - de designers a espetadores, das fábricas aos compradores. 

Foto: DR
Foto:

Há quem recorde esses tempos com nostalgia, e com uma precisão assinalável, como é o caso do stylist Filipe Carriço. "A minha primeira ModaLisboa foi nos armazéns Abel Pereira da Fonseca, em Marvila. Não sei precisar o ano, mas eu creio que em 1997 ou 1998. Lembro me de chegar de táxi sozinho e haver uma fila para entrar no pavilhão. Era tudo muito diferente do que é agora. A organização era meio desarrumada. Lembro-me perfeitamente de ver o Paulo Gomes a subir um portão que dava acesso à sala de desfiles e a gritar para as pessoas terem calma, de tal forma era a avalanche de gente a querer entrar" começa por contar à Máxima o stylist. "Se a memória não me falha, era para assistirmos ao desfile do Dino, em que a [Sofia] Aparício aparece de cabelo rapado pela primeira vez, com lentes de contacto encarnadas arrastada literalmente pelo Paulo Pires! Nem olhei para a roupa. Estávamos na época em que eram as modelos que importavam. Eram os eventos mais cobiçados. Havia uma certa marginalidade. Só entrava quem de alguma maneira fazia parte daquele grupo restrito muito associado ao Frágil, e aos clientes do Manuel Reis", recorda.

Foto: DR

Nuno Gama, um dos nomes que marcou a primeira edição do certame e que continua a apresentar as suas coleções masculinas na ModaLisboa, prefere o futuro à nostalgia, mas é sempre bom recordar. "A primeira edição foi mágica, pois levei a coleção que era a minha última do curso. Também celebro este ano 30 anos de fim de curso. Foi o culminar de uma série de eventos na minha vida", lembrar o designer português, que nos anos oitenta vendia as suas peças na Mr. Wonderful e na Desfile, lojas emblemáticas nesses anos. "Na altura, era tudo novo, estávamos todos a aprender, todos queríamos fazer coisas fantásticas, foi uma aventura" referindo-se ainda às primeiras edições da ModaLisboa. "Quando olhamos para trás, as coisas diluem-se e fazem parte de um todo, e passa a haver uma série de coleções e desfiles dentro de uma carreira. Passei a minha vida a realizar sonhos, a fazer aquilo que gosto."

Nuno Gama | ModaLisboa Curiouser
Nuno Gama | ModaLisboa Curiouser Foto:
Foto: Vasco Neves

Sobre episódios memoráveis, Nuno Gama destaca dois momentos. "Recordo a primeira vez que apresentei uma coleção, imaginava uma noite de luar no Pavilhão dos Descobrimentos, Carmina Burana a tocar, e foi precisamente isso que aconteceu. Em 2011, o meu pai faleceu dois dias antes de eu apresentar a coleção que lhe tinha dedicado e, de repente, parece que havia ali uma missão. Foi duro, foi preciso vencer uma série de emoções dentro de mim. Também recordo a edição na Praça do Comércio com o desfile da GNR em traje de gala."

Foto: Austeja Sciavinskaite
Foto: DR
Foto: Vasco Neves

Mariama Barbosa trabalha na organização do evento e como relações públicas da ModaLisboa há mais de 20 anos, refere-se à ModaLisboa com "orgulho, amor e vontade de fazer conquistas" e ao percurso "de aprendizagem, valorização, de ver sonhos a ser realizados, e de ver a Moda portuguesa a ser respeitada." Nunca esquecerá as incontáveis "histórias de bastidores, que não vou revelar!" (risos). Mas recorda com carinho os momentos em que desfilou para o Filipe Faísca, o Aleksandar Protic ou o José António Tenente. "São muitas histórias boas que ficam na memória."

Foto: Carla Pires

Filipe Carriço também acredita que foram anos de muitas mudanças, e que o certame acompanhou essa evolução naturalmente. "É um balanço positivo, tudo foi evoluindo com o decorrer do tempo. A própria produção da ModaLisboa foi adquirindo pessoas e outro profissionalismo. Hoje em dia vamos à ModaLisboa e há regras para se entrar, com convites definidos e separados por "categoria" - os VIP, a imprensa, com direito a uma sala para poder trabalhar em simultâneo com os desfiles a acontecerem", afirma. "Aplaudo sempre muito a Eduarda [Abbondanza] porque é e sempre será uma mulher com uma cultura de Moda enorme, e uma resiliente nata. Sem esquecer o trabalho do Mário Matos Ribeiro e do Paulo Gomes, até eles saírem e ficar a Eduarda a tomar conta das rédeas, com a sua equipa, como é óbvio! "

Foto: Rui M Leal
Foto: Louie Thain
Foto: Arlindo Camacho

Entre os momentos mais impactantes, o stylist guarda com carinho o tal desfile de Dino que contou com Sofia Aparício. "Mas lembro-me também quando, creio que no museu da Cidade, numa tenda gigante, começou a chover intensamente e umas rajadas de vento fortíssimas, a tenda a abanar e a caírem projetores do teto e metade da sala a correr. Por Deus ninguém saiu ferido e a tenda não caiu", conta. "Os desfiles do Dino, da Ana Salazar e dos "Maneis" [Alves/Gonçalves] eram sempre aguardados com muita expetativa. Os do Dino especialmente porque não só víamos roupa, mas artes performativas a acontecerem numa simbiose perfeita. E o Tenente com as suas coleções muito românticas…"

Foto: André Cabral

Para o stylist, em 30 anos muito mudou, sobretudo quanto às dinâmicas e aos papéis dos intervenientes. "Primeiro, não existiam telefones inteligentes. Era tudo muito mais intenso. As pessoas arranjavam-se para si (claro que também para serem vistas). Afinal somos todos estetas e vaidosos. Mas os profissionais de Moda eram tratados com muito respeito, porque éramos nós que depois fazíamos as páginas report nas revistas de Moda" conta. Depois, com o passar do tempo e com o surgimento dos blogues e instagrammers e dos influencers toda a dinâmica se alterou bastante. Ainda assim, há sempre um cuidado connosco, os profissionais teimosos que ainda cá estamos na luta (risos). Para fecho de conversa, obrigado associação MDLX por não deixar "morrer" os sonhadores e os amantes de Moda, como eu."

Foto: Louie Thain
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