Alexandra Moura: “Aprendemos a dar a volta e a trabalhar de uma outra forma”
Será que a pandemia mudou a forma como compramos? E que impacto teve este ano na Moda nacional? A criadora portuguesa Alexandra Moura desenha hipóteses para o que aí vem.
Quando, em março, Luís Buchinho preparava as encomendas da coleção de inverno, deparou-se com um cenário que viria a repetir-se para outros designers um pouco por todo o planeta. "Ficámos com o processo interrompido. Tivemos uma diminuição de clientes que começaram a ver o panorama muito negro e que não quiseram dar sequência à encomenda", descreve à Máxima. A nível internacional "houve também uma quebra enorme nas encomendas, na medida em que nós vendemos mais para Ásia e América do Norte, e como foram áreas muito afetadas, as pessoas também não quiseram encomendar". No final, as quebras nas vendas acabaram por chegar aos 30%. "As vendas da coleção de inverno já ficaram aquém daquilo que era esperado", diz, assim como a coleção para o próximo verão, que foi apresentada em outubro e deverá ser entregue entre fevereiro e março de 2021. "Uma coleção que já foi comprada pelos clientes muito a medo, sem saber muito bem qual é a perspetiva do próximo ano", sublinha Luís.
Para o criador, a prova de fogo vai ser mesmo o inverno 2021-22, que começa a ser comercializada durante o próximo mês de fevereiro. "Acho que é a coleção que vai ficar mais comprometida. Porque as pessoas estão a passar um inverno mau, estão com as lojas fechadas, estão com uma circulação super condicionada, e estamos a perder alturas de venda que são alturas fulcrais, como é o caso do Natal e dos saldos em janeiro", diz.
Sem expetativas elevadas para 2021, Buchinho adivinha "um ano de sobrevivência, novamente, talvez pior que 2020". Por isso, a sua visão estratégica já mudou. "Mudou e mudou para os próximos anos, não foi só para esta época de covid-19 (...). Já fiz a coleção de verão 2021 muitíssimo mais reduzida, estou a fazer o inverno exatamente nos mesmos moldes, uma coleção com um terço do tamanho. Acho que chega perfeitamente e acho que, na verdade, se calhar, sempre chegou, eu é que nunca abri os olhos para essa realidade", confessa. O criador foca-se agora em propostas concentradas na mensagem e na tipologia de peças que os seus clientes procuram. "É uma coleção mais racional e menos emocional", resume.