Hugo Costa, o designer da igualdade

O criador de moda português inspirou-se nas mergulhadoras de uma pequena ilha na Coreia do Sul para apresentar uma coleção sem género na semana de moda de Paris.

Hugo Costa.mp4
24 de junho de 2019 às 18:17 Aline Fernandez

Com o apoio do Portugal Fashion, o designer de moda Hugo Costa regressou a Paris para apresentar a sua coleção primavera-verão 2020 durante o calendário oficial da semana da Moda masculina da capital francesa. Haenyeo inspira-se nas mergulhadoras com o mesmo nome de Jeju, uma pequena ilha na Coreia do Sul. Mergulhadoras independentes e determinadas, que se fazem ao mar diariamente em busca de alimentos para a família, enquanto os homens ficam a cuidar dos filhos e da casa. "Elas subvertem completamente a forma como nós somos pré-historicamente educados, a ideia de que o homem é responsável pela procura do alimento para as famílias. Elas sempre foram responsáveis pelo consumo e sustento familiares", explica o designer.

O tema fez parte de uma pesquisa que desenvolve há dois anos. "Depois de ver um documentário sobre [este tema], acordei no dia seguinte e comecei a desenhar a coleção. Fiz tudo em duas tardes. Foi muito intuitivo, muito rápido, porque a ideia estava tão construída na minha cabeça, que foi só procurar os materiais certos e ir atrás", contou Hugo à Máxima.

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Mais uma vez, Hugo Costa não apresentou um desfile convencional e sim uma instalação com manequins a vestirem as suas propostas para a próxima estação quente. O cenário casava perfeitamente com a temática da coleção, entre caixas de peixe, paletes de madeira, redes, bóias e fauna marítima – este última representada através de cerâmicas de peixes e delícias do mar da portuguesa Bordallo Pinheiro.

Neste ambiente tornou-se ainda mais fácil compreender os coordenados em camadas e os muitos bolsos das peças de Hugo Costa. "Pegar num elemento de função e exagerar é uma característica nossa. Nunca simpatizei com coletes, por exemplo, no entanto faziam aqui sentido por causa do imaginário piscatório. O colete, a rede, todos os materiais e detalhes foram pensados para coexistirem nesse imaginário", continua Hugo. Tecidos como popeline e impermeáveis reforçaram o tom de pesca, sempre numa perspetiva arty. Da mesma forma que a ganga deu o tom urbano tão característico do design de Costa.

Hugo Costa inverteu o paradigma ao partir de uma inspiração feminina para apresentar uma coleção masculina e há boas razões para isso. "Eu sou um defensor da igualdade, sempre fui, sempre tive uma personalidade muito forte, sempre lutei muito, a única coisa que me deixa completamente fora de mim é uma injustiça. E alertar para ela, evidenciar o oposto, evidenciar a igualdade, fazer as pessoas refletirem é algo que é muito meu", conta-nos Costa. "Portanto, quando tens um trabalho que é teu, que tem o teu nome, tens de passar essas características para o trabalho."

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E facto é que, mesmo numa semana de Moda dedicada ao público masculino, as peças do designer são sem género. "Um pouco por consequência do meu design, por eu não pensar no género quando estou a desenhar. Eu penso na silhueta, nos materiais, nas peças, no styling, crio imagens na minha cabeça. Nunca tenho um corpo, são imagens que aparecem na minha cabeça em desenho e não me faz sentido nenhum atribuír-lhes um corpo", explica. Esta decisão confirmou-se também como uma boa premissa comercial para a marca ao perceber que os seus seguidores são 50% mulheres, e 50% homens. "Aí não se pode continuar a assumir que esta é uma marca de menswear, que não faz sentido absolutamente nenhum. A nossa base é menswear, sempre foi. Há proximidade com o clássico masculino, faz parte das nossas inspirações, mas efetivamente não era honesto da minha parte eu continuar a dizer que desenhava um vestuário de homem. Eu desenho um vestuário para quem quiser consumir o meu vestuário e se identificar com a minha forma de pensar."

Hugo avançou ainda a informação de uma proposta apresentada à Associação Nacional de Jovens Empresários de que a sua marca seja a primeira de autor portuguesa a existir apenas no digital, não passando pelo retalho físico. Resta-nos aguardar para ver onde encontraremos as suas próximas coleções, incluindo a Haenyeo.

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