Carolina Almeida: "O bebé deve comer a mesma comida que a família"
"Comida de Bebé" começou por ser um blog e um perfil no Instagram e agora é também um livro e uma app. O objetivo é sempre o mesmo: ajudar os pais a alimentarem os seus bebés de forma simples, rápida e saudável, sem explorar medos e ansiedades.

Carolina Almeida, jovem mãe de duas crianças, criou um blog e um perfil no Instagram chamados Comida de Bebé, onde partilhava as dúvidas e dificuldades que encontrava para alimentar a sua mais velha. Carolina chega mesmo a dizer que alimentar a sua filha "foi dos maiores desafios, como mãe". Por isso estudou muito e ia partilhando as suas descobertas. Este exercício acabou por abrir caminho para o lançamento de um livro, também chamado Comida de Bebé, e agora uma app. Com esta nova plataforma, Carolina quer ser uma ajuda ainda mais presente e preciosa na vida de pais e mães que têm de alimentar os seus bebés e que tantas vezes se sentem paralisados, ou por não saberem o que cozinhar, ou porque os filhos não gostam dos seus cozinhados ou, simplesmente, porque querem que a sua família faça uma alimentação mais saudável e não sabem por onde começar. Agora podem ter a Carolina Almeida na algibeira, com sugestões de receitas, ementas, listas de compras, e até uma base de dados sobre introdução de alimentos. A app tem uma versão gratuita e outra, com mais funcionalidades, mediante uma subscrição anual no valor de 37 euros.


Numa conversa por email, Carolina partilhou com a Máxima alguns dos mitos da alimentação infantil e deu sugestões sobre coisas simples que os pais podem fazer no imediato para que os seus bebés e crianças comam de forma mais saudável… e sem lágrimas.
Qual é o seu background? De onde vem este interesse pela alimentação infantil?
Sou formada em gestão de empresas e tenho um mestrado em finanças. Nada a ver com alimentação infantil! Mas a cozinha sempre foi um hobby e a alimentação saudável já era uma preocupação há muitos anos. Foi quando comecei a introdução alimentar da minha filha mais velha que comecei a interessar-me e a estudar sobre a alimentação infantil em específico. Alimentar a minha filha foi um dos maiores desafios, como mãe, e obrigou-me a estudar muito sobre o tema.


Por que é que decidiu lançar a app Comida de Bebé? Qual é o seu intuito?
O meu principal objetivo com a app é que esteja tudo o que a família precisa – não só para alimentar um bebé, como para comer melhor –, num único lugar. E dado que 90% das pessoas conhece o meu trabalho porque tem bebés pequenos, a ideia é fazer todo o percurso desde a introdução alimentar do bebé. Com artigos de informação antes de começar; uma base de dados que ensina que alimentos podem ser oferecidos e como oferecê-los; centenas de receitas para toda a família com adaptação para bebés; possibilidade de criar ementas e listas de compras automáticas. E, em breve, vai ser possível também usar a app para saber se um produto à venda no supermercado é apropriado para o bebé, enquanto faz as compras.


Acha que há muita desinformação no que toca a este tema?
Muita! A área de nutrição infantil está em constante evolução, com novos estudos científicos e descobertas. As recomendações dos órgãos de saúde são atualizadas, mas não existe coordenação entre esses órgãos e os gabinetes médios, centros de saúde ou creches. Nem entre essas recomendações e a indústria alimentar. Vou dar um exemplo: a Academia Americana de Pediatria e a Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertaram para o risco de se oferecer papas em biberões – que antigamente era uma recomendação comum para o bebé dormir a noite toda. Hoje sabe-se que não só há um risco acrescido de engasgamento, como de "over feeding" (o bebé comer mais do que precisa), mas continuamos a ver esses produtos à venda nos supermercados. E depois, claro, há a internet. Onde não existe nenhum controlo sobre o que pode ser dito, onde artigos muito antigos aparecem nas pesquisas, onde influenciadores são pagos para promover certos alimentos nas redes sociais, que não podem ser promovidos na televisão.

[Mais tarde, a Carolina explicou o seguinte: "Em Portugal, a Lei nº30/2019 veio proibir a publicidade a géneros alimentícios e bebidas de elevado valor energético, teor de sal, açúcar, ácidos gordos saturados e ácidos gordos transformados, dirigida a crianças menores de 16 anos em vários contextos (salas de cinema, televisão, rádio e até redes sociais). Ora, nos dias que correm, isso é muito relativo (e muito fácil de contornar). No caso da alimentação de bebés e crianças pequenas, o que se vê com muita frequência é ter as mães como destinatárias da publicidade. E, para isso, as marcas usam influencers e até profissionais de saúde. Fazem também publicidade em meios como o Youtube, que é quase impossível controlar."]

Quais são os maiores erros que os pais cometem em relação à comida dos bebés e crianças?

Na minha opinião o principal problema é confiarem demasiado nos produtos ditos para bebés. Ou, pelo menos, acharem que esses alimentos são absolutamente necessários. O outro problema é prolongar a oferta de sopas e papas. Temos bebés que comem à parte da família durante demasiado tempo – alimentos que não promovem a mastigação e que sabem sempre ao mesmo.
Se os pais só pudessem mudar três coisas na forma como alimentam os seus filhos, quais seriam as suas sugestões?
A primeira e mais importante: começar, o mais cedo possível, a dar ao bebé a mesma comida que a família. Isto não só traz benefícios para o bebé, como a família passa a comer melhor e de forma mais diversificada. A segunda: saltar a oferta de sopas e papas (apenas). O bebé está a descobrir os alimentos, a aprender a comer, a desenvolver o paladar, as preferências alimentares e a sua relação com a comida. Isto vai acompanhá-lo para toda a vida. Quando damos sopas trituradas, o bebé não descobre os alimentos porque não consegue diferenciar o que está no prato. A textura é sempre a mesma, o sabor é sempre muito semelhante. Por fim, adiar ao máximo a oferta de produtos processados e ultra-processados. Papas industriais com açúcar adicionado ou farinha hidrolisada, saquetas de fruta, bolachas, cereais de pequeno-almoço, e qualquer produto que tenha açúcar, sal, e outros aditivos adicionados. Fruta ao natural, à vontade, muitos vegetais no prato, leguminosas, iogurte natural sem açúcar, cereais integrais, sementes e frutos gordos (com textura modificada) são exemplos de alimentos que devemos privilegiar e que podem ser oferecidos desde os seis meses.


Haverá, no que toca à alimentação de crianças e bebés, uma certa exploração das ansiedades das mães? A sua app veio para ajudar?
Existe e foi tema de estudo por parte da OMS. Primeiro, há uma oferta enorme de produtos, que podem ser muito semelhantes na embalagem, mas muito diferentes em termos de tabela nutricional – com uma rotulagem enganadora é muito difícil fazer escolhas. Depois as mensagens que aparecem nas embalagens, ou na publicidade, e até imagens que são escolhidas a dedo para identificar e trabalhar a ansiedade, as dúvidas e os medos das mães. A app ajuda porque tem tudo o que precisa no mesmo lugar à distância de um clique. Acaba a necessidade de tentar lembrar onde guardou a informação e consegue ver tudo na hora exata em que tem a dúvida, que muitas vezes é no momento da compra.


A app tem uma versão grátis e uma versão paga, correto? Quando custa a versão paga e quais as diferenças entre uma e outra?
A versão gratuita tem toda a informação sobre introdução alimentar, uma base de dados com informação sobre introdução de mais de 100 alimentos, e as receitas que estão no site. Na versão paga, que custa, neste momento, 37 euros por ano, há uma oferta maior de receitas (mais de 300), possibilidade de criar ementas semanais, listas de compras, que são geradas automaticamente com base nas ementas, e uma ferramenta de registo de alimentos introduzidos na alimentação do bebé.
