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Celebridades

Oksana Tkach: "a cultura não tem o destaque merecido na agenda política"

Uma das novas musas do cinema português, Oksana é mais que um rosto bonito, de olhos azuis brilhantes e cabelos claros. Se a sua estreia no cinema foi desarmante, veremos o que nos reserva para a personagem de Sara, no filme de Bruno Gascón.

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30 de julho de 2020 às 07:58 Rita Silva Avelar

Nasceu em Chernivtsi, na Ucrânia, mas aos quatros anos mudou-se para o Alentejo com a família e é em Portugal que vive desde então. Aclamada pela sua estreia no cinema com o filme O Fim da Inocência, de Joaquim Leitão, nos Prémios Nico de 2018 (recebeu o prémio de Atriz) Oksana começou por ser modelo na Central Models.

Antes de se estrear na sétima arte com um papel ousado, o de uma adolescente irreverente, já tinha feito uma aproximação à representação com a série da RTP Filha da Lei e com uma participação especial em Shades of Guilt, de Hannu Salonen, em 2016. Em Sombra, o filme de Bruno Gascón baseado em factos reais, será Sara, ao lado de nomes como Ana Moreira, Joana Ribeiro, Lúcia Moniz, Ana Burstoff, Ana Cristina Oliveira, Sara Norte e Sara Sampaio. O filme tem estreia marcada para 22 de outubro.

O filme O Fim da Inocência foi a sua grande estreia no cinema, em 2017. Percebeu o impacto que o cinema teve em si?

A vida de um ator é feita de desafios e o primeiro projeto é sempre dos mais desafiantes, creio eu. Posso dizer que me marcou precisamente por ter sido o primeiro. A dificuldade acabou por potenciar a experiência e desencadear uma enorme aprendizagem, não só como atriz, mas como pessoa individual, uma vez que passei a saber posicionar-me no meio e, acima de tudo, aprendi a ter pulso firme. Na sociedade e, principalmente no meio artístico, temos que ter ideias bem definidas, os pés na terra e astúcia para chegar longe com dignidade, para não cairmos no erro de sermos meras marionetas do sistema.

Ser atriz era uma ambição ou não estava nos planos?

O que mais me apaixona é o dinamismo inerente à área, a diversidade e multiplicidade de personalidades/personagens que posso interpretar. É poder ser mil e uma coisas numa só vida. Quanto à ambição, em criança pensei nisso, mas também sonhava ser bailarina, piloto de fórmula 1, médica, entre outras coisas. 

Apaixonou-se, então, sem querer.

Com a maturidade que a idade me trouxe, e após as minhas primeiras experiências em frente às câmaras, confesso que comecei a ganhar um gosto cada vez maior pela área. No entanto, depois do primeiro grande projeto em cinema, tive muitos mixed feelings. A certo ponto pensei se isto seria mesmo para mim. Acabei por perceber que sim e hoje olho para trás e agradeço o facto de a minha vida ter tomado o rumo que tomou, por poder ter tido a sorte de me afastar um pouco para poder olhar de fora e refletir sobre o que lá no fundo me faz feliz. Agora passou a ser o plano A e, sem dúvida, uma ambição.

O filme valeu-lhe um dos Prémios NICO 2018 da Academia Portuguesa de Cinema. Foi uma motivação para prosseguir na representação?

Sim, na altura acho que não soube digerir bem o que tinha em "mãos". Hoje sim, dá-me motivação, faz-me pensar que se calhar até tenho algum futuro nisto e que vale a pena investir (ahaha). Fora de brincadeiras, sinto-me extremamente agradecida por tal reconhecimento.

Foto: Pedro Gabriel

Segue-se agora Sombra, de Bruno Gascon. Como se prepara para uma personagem e, neste caso, como foi a preparação para a Sara?

Encarar uma rapariga jovem que presencia uma caída no abismo e no sofrimento contínuo de outros personagens e ainda assim, conseguir ser mais forte e dar-lhes apoio... Foi conseguido com muita pesquisa, algum autoconhecimento e muitas conversas com o Bruno Gascón - que se dedicou muito em investigar para escrever o argumento espetacular que escreveu.

O elenco é maioritariamente composto por mulheres. Foi inspirador trabalhar num elenco predominantemente feminino?

Ter trabalhado maioritariamente com mulheres não teve grande impacto, aquilo que foi verdadeiramente inspirador foi trabalhador com grandes atores nacionais.

Que cenas foram mais desafiantes e porquê? É difícil para si despedir-se das personagens, no fim de um projeto? 

Creio que todas as cenas são desafiantes, pois todas elas exigem que estejamos cem por cento dedicados àquele momento, portanto não consigo enumerar. Quanto a despedir-me dos meus papéis, despeço-me com a maior leveza possível e aguardo, ansiosa, pelos próximos desafios!

Começou por trabalhar mais na área da Moda e estuda Ciência Política e Relações Internacionais. Quais são os planos para o futuro? É verdade que gostava de seguir Diplomacia?

Num universo paralelo adoraria conciliar a moda, com a representação e a política. No entanto, sinto que para já, e finalmente com o curso terminado, vou seguir a veia mais artística (e não me refiro à política). Apesar de agora estar mais direcionada para a representação, não significa de forma alguma descartar as outras áreas, uma vez que no futuro ambiciono conseguir envergar e ter algum papel importante no mundo das relações internacionais. O objetivo de vida é deixar uma marca que fique para a história.

Foto: Luís Sustelo

Quem são as suas referências na representação, nacional ou internacionalmente?

Tenho muitas, acho que todos temos nesta área. Gosto do trabalho de nomes como Meryl Streep, Natalie Portman, Nicole Kidman, Keira Knightley, Julia Roberts, Ana de Armas, Eddie Redmayne, Christian Bale, entre outros.

Há alguma personagem específica que gostasse de vir a representar? E um realizador/a com quem tivesse o sonho de trabalhar?

Sim, adorava algum dia poder fazer o papel de espia, do género Angelina Jolie no filme SALT, acho que me dava muito bem. Realizadores, muitos, mas para dizer um, diria Christopher Nolan.

Vive em Portugal desde muito pequena. Tem memórias da Ucrânia? Alguma vez considerou regressar ao seu país natal? 

Tenho muito poucas memórias e, apesar de quase não me associar à cultura de leste, sinto que, em dadas alturas, penso e encaro as coisas numa ótica menos ocidental, algo que, querendo ou não, está enraizado em mim, principalmente devido à educação que tive. Contudo, Portugal é o meu país e esta é a minha casa.

Cresceu no Alentejo. Viver longe da capital deu-lhe uma visão diferente da vida "acelerada" da cidade? 

Crescer no campo proporcionou-me uma infância completa. Guardo as melhores memórias desse tempo, quer dos sítios, quer das pessoas - que são as mais genuínas que já conheci. Acho que vivi longe da vida "acelerada" da cidade até à idade ideal. Infelizmente as oportunidades são escassas no interior, o que faz com que uma vida cosmopolita seja mais desejada à medida que se vai crescendo.

Foto: Pedro Gabriel

Embora com uma curta experiência nesta área, já consegue visualizar quais são os maiores desafios da representação em Portugal?

Com a democracia, e os valores de liberdade a sofrerem novamente ameaças pelo mundo, Portugal ainda se encontra relativamente estável, contudo, a luta pela sua preservação deve continuar tendo em conta que estes valores não são bens adquiridos e podem desvanecer da noite para o dia, e aí, nós, artistas que mais usufruímos dessa liberdade de expressão e de ação, podemos ser privados da nossa arte.

Estamos numa altura crítica para os artistas?

Acredito que a representação sofre de uma grande falta de consumo por parte do público, o nosso país está entre os cinco países da EU que menos investe neste sector, em ex-aequo com a Itália e a Grécia. É de referir que a democracia é a vontade do povo, e se este tivesse mais vontade, talvez os líderes políticos olhassem para as Artes e Cultura com outros olhos. A questão orçamental para fazer mais e melhor entra em jogo e infelizmente a cultura não tem o destaque merecido na agenda política. Principalmente nos tempos que correm, com a crise pandémica e com uma crise financeira que poderá ser maior do que a de 2008, os desafios para os profissionais da cultura vão-se agravar ainda mais e temo que ainda não é agora que se garantirá uma política de cultura democrática.

Faz parte de uma geração que não se rotula com uma só profissão, nem se define por uma só coisa. Concorda? Vê isso como uma vantagem? 

Concordo, e vejo isso como uma vantagem, apesar de ter as suas nuances. Tudo se resume a: Liberdade. Como Stuart Mill referiu, a liberdade promove o bem estar da sociedade e o silenciar das ideias e opiniões é roubar a raça humana. Acho que faço parte de uma geração versátil que usufruiu da sua liberdade para fazer as suas escolhas de vida e não se define por um só objetivo. 

A possibilidade da mudança é aliciante?

A possibilidade de mudar de emprego e de áreas, ao longo da nossa vida, dá-nos uma liberdade que nos permite um autoconhecimento único, aprendemos a conhecer as nossas fraquezas, mas também os nossos limites, temos a oportunidade de melhorar e desenvolver as nossas competências para deixar as várias marcas nos sítios por onde passamos. Partilhar a experiência de vários sítios, convivendo com variadas personalidades, enriquece-nos não só profissionalmente como emocionalmente. Experiência, esta, mais difícil de alcançar estando muito tempo no mesmo sítio e com as mesmas pessoas.

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