Descanso profundo
Já sabemos que o Six Senses Douro Valley é dos melhores hotéis do mundo, agora acolhe-nos em retiros que equilibram e pacificam da cabeça aos pés. Fomos conhecer o primeiro programa de yoga e meditação.

O serviço é exímio sem ser pomposo, um clássico charme de cinco estrelas, mas sem o peso do tempo. O Six Senses é uma renovada casa senhorial do século XIX estratégica e placidamente pousada sobre uma colina do Douro onde as vinhas parecem escorregar pelos vales amparadas na geometria dos socalcos. Rodeado de verde e água, testemunha a passagem das estações e suas tonalidades. É claro que Manoel de Oliveira não escolheu este Vale Abrãao por acaso. Uma beleza de quadro que, em alguns quartos, conseguimos emoldurar pela janela.


Entre o calendário de atividades do hotel, o spa do Six Senses criou retiros para um profundo bem-estar em pacotes de aulas e atividades que incluem estada e refeições: um de longevidade, um de medicina chinesa, um de detox e um de yoga. Para este último, Inês de Bragança, uma jovem professora, orientou um programa de cinco dias de prática do yoga e da meditação, com alimentação vegetariana e tratamentos de corpo. Ficámos num rés do chão com um pequeno pátio sob as copas das muitas árvores que debruam o rio, por isso, a natureza amanheceu aos nossos pés no começo de cada dia.
Segunda-feira
A chegada fez-se um dia antes, tranquilamente, com uma massagem de relaxamento e um jantar de boas-vindas. Hoje perdera duas aulas de yoga e um primeiro workshop de saúde, mas viemos veio para o arranque da semana. Aterrámos num delicioso caldo de Portobello com feijão e miso, brócolos grelhados com topinambur, nozes e sementes, e um cremoso de chia, amêndoa e morango. Na mesa estava um pequeno grupo, a maioria mulheres de todas as idades e estórias. Apesar das más-línguas seculars, as mulheres têm o dom de receber e partilhar. Deixámo-nos ficar um pouco mais naquela iluminada sala de grandes janelas para os matizados declives das vinhas. Lá fora, as vistas do terraço sobre a fonte, a piscina e o vale fazem-nos sentir maiores.

Depois de almoço, passeámos pelo verde circundante, rentes à água, e aprendemos rudimentos do xintoísmo que nos diz que tudo na Terra é senciente, com uma energia e alma próprias. Estar na floresta baixa-nos a pressão arterial e os níveis de cortisol, temos um boost de imunidade - e os efeitos duram uma semana. Na verdade, só há um século deixámos de viver em florestas, o nosso corpo reconhece os seus elementos numa memória antiga de conforto.
Depois, sentámo-nos imóveis, em meditação, no relvado junto à piscina, em tranquilidade total e pranayama, técnicas de respiração do yoga, que serenam e energizam o corpo. Mantas sobre os pés e o silêncio do Douro a serpentear o horizonte antes da noite chegar. Uma pausa antes de jantar, sempre, e a cada serão um mimo do spa deixado no quarto: um esfoliante natural feito de grãos de café, uma leitura, uma cesta de maçãs, um biscoito ou um chá de ervas acabadas de colher. Fizemos um pouco de cada.
Ao jantar, uma sintonia de verdes: salada de avelãs, mel, gomásio, queijo de cabra e beterraba, seguida por legumes da horta com pesto, ervas, óleo de coco e limão e uma salada de frutas agridoce. Os pratos são inspirados pelos grandes fornos a lenha da região e confecionados com produtos do Vale do Douro, alguns produzidos no jardim orgânico de vegetais e ervas do hotel. Não era suposto, mas como estar no Douro sem provar do seu néctar ancestral? Diz-se que o vinho melhora as conversas, rodeadas de azulejos do século XVIII e junto à lareira gigante que parece uma porta para outra dimensão, conversámos livres, mas deitámo-nos cedo.


Terça-feira
Envoltas em nevoeiro e camisolas quentes, às 8.30 da manhã já esticávamos o esqueleto, pés em pontas de ballet e postura atlética, na aula com a Lise, uma professora americana que parece ter nascido a fazer Pilates. Claro que estar num deck de madeira, rodeadas de árvores e com vista para o rio, ajudou na motivação para os menos matutinos como eu. O prazer veio todo no final da aula, como sinal de que foi boa.

Ir para o pequeno-almoço em roupa de treino pode ser um grande luxo, bem vistas as coisas. Este é dos melhores, cozinha aberta e um banquete de escolhas frescas e aromáticas. Tínhamos o nosso menu vegetariano preparado, mas em tempos de pandemia e retiro podíamos pecar a la carte numa excelente tosta de abacate com ovo escalfado, germinados de bróculos e paprika fumada, e numa excelente oferta de chás. Isto depois de sumos variados, um bowl de beterraba, iogurte e frutas para abrir a pestana, e aquele pão de massa-mãe. Todos os dias as propostas mudam.
Seguiu-se uma conversa de Inês de Bragança sobre as bases de um lifestyle holístico, seus princípios filosóficos e rotinas que cruzam corpo, mente e alma para o equilíbrio e o bem-estar. Falámos de nutrição e gestão de stress, de meditação e exercício e descobrimos o encantatório mundo das ervas, raízes e óleos essenciais. Aprendemos os três gunas da alimentação e os três doshas do corpo, e que alimentos, suplementos e cuidados quotidianos se adequam à nossa natureza e fase de vida.
Voltámos àquele deck "sobre o mundo" para uma aula de hatha yoga, posturas onde permanecemos durante algumas respirações trabalhando a força e resiliência físicas e, por inerência, psicológicas. Sou yogi há 20 anos e dispenso a carne há 26, o que é mais de metade da minha vida, foi curioso encontrar um programa feito para todos, incluindo os que nunca tinham experimentado tal coisa. Por esta altura já batia um tímido sol, que ia alto no céu, e terminámos a aula com uma invertida sobre os ombros, nada como estar ao contrário às vezes, e para variar.


Depois de uma manhã longa, o almoço foi consistente um arroz cremoso de abóbora, coentros e courgette, seitan com mostarda e cogumelos e bolo de chocolate e abacate. Seguimos para o workshop de fermentação onde um dos talentos do bar nos ensinou a fazer shrubs, kombucha, água tónica e kefir. Coisas boas e saudáveis que ajudam a limpar o sistema digestivo. O passo-a-passo, os aromas, as provas, as dicas e os conselhos, e muita risada.
Antes do jantar, uma massagem de assinatura do spa, que juntou várias técnicas, algumas pensadas à medida do nosso corpo naquele momento. Deu-nos a volta, dos pés à raiz dos cabelos, e terminou, como começou, no infinito som das taças tibetanas, uma sensação de plenitude que levámos para o sono. E guardamos a imagem de quando abrimos os olhos na marquesa e ficámos a admirar, através da parede de vidro ao nosso lado, o cuidado jardim sobre o Douro enquanto o sol se despede.


Quarta-feira
Começámos o dia com uma aula de yoga flow, postura de yoga sequenciadas em movimentos fluídos próximos da dança e do tai-chi. Como se quiséssemos apanhar a energia que paira no ar. Ao pequeno-almoço seguiu-se uma caminhada por onde se queira, e não faltam paisagens para se perder. Atenção, o hotel organiza subidas às árvores. Depois de um arroz de aipo orgânico e um ovo mexido com cidreira, fomos para o que chamaram de alchemy bar, a simplicidade de uma mesa posta no terraço onde nos rodeamos de óleos essenciais e de uma grande tigela de mistura. Um encantador elemento do spa pôs-nos a cheirar aromas e a fazer combinações, aprendemos a fazer um esfoliante natural, um óleo roll-on para trazer na carteira e um spray para quando precisamos de uma pausa.


O retiro durou até ao meio-dia de quinta-feira, mas tivemos de voltar antes. Sentíamos já no corpo, e na disposição, uma energia nova, a par de uma grande serenidade. Devido à alimentação e exercícios vários, o nosso corpo estava mais elástico e forte, equilibrado e seco, nada parecia estar a mais, ou a menos. Para quem conhece a sensação, é quando o corpo nos envia sinais de estar saudável e feliz. Que delícia, 2021 pode bem ser um lugar de recomeço.
Para mais informações e reservas, contactar o +351 254 660 600 ou enviar um e-mail para reservations-dourovalley@sixsenses.com
Preços que incluem tudo, menos voos e transfers e extras: entre €2570 e €2830 para uma pessoa e €3940 e €4469 para duas, conforme marque com maior ou menos antecipação.
