Como usar o gelo para gerir o stress (e em qualquer lado)
Nos últimos anos, tem havido um interesse crescente nos duches frios para gerir o humor e melhorar a saúde mental. Excelente opção, mas pouco prática quando está no local de trabalho. Mas há uma coisa que pode fazer sentada à secretária e que faz a ansiedade cair a pique.
Não é por acaso que se diz que uma pessoa irritada está “em brasa”, e que uma outra que esteja tranquila e bem disposta está “fresca como uma alface”. A verdade é que o calor só sabe bem quando vem de fora, com origem no sol, numa lareira, ou numa chávena de chá fumegante. Já aquele calor que sobe pelo esófago acima e sai pelas orelhas e pelas narinas em forma de fumo (real ou imaginário) não só não conforta nada, como é sinal de problema: ou bem que são afrontamentos, ou bem que é uma fúria homicida. Venha o Diabo e escolha? Permita-me discordar, cara leitora, os afrontamentos requerem consultas médicas e reposição hormonal, já a fúria homicida passa com água gelada – e na verdade, uma chuveirada de água fria a meio da noite também alivia os calores noturnos. É
Tudo isto para dizer que a água fria é muito útil para controlar o stress, a ansiedade, o pânico, a frustração e a raiva. Num artigo recente do jornal britânico The Guardian, sobre formas de lidar com o stress, Hannah Stebbings, terapeuta integrativa no Priory Hospital Barnt Green, em Birmingham, referiu que o recurso à água fria é um dos seus métodos preferidos e explicou porquê: “Ativa o sistema nervoso parassimpático, por isso, depois do choque inicial, o corpo muda naturalmente para um modo de calma, o que abranda o ritmo cardíaco e ajuda a pessoa a sentir-se mais enraizada. Em segundo lugar, quebra o ciclo de stress. A exposição ao frio envia ao cérebro um sinal sensorial muito forte, capaz de interromper pensamentos em espiral, preocupação e sobrecarga.”
Por outras palavras, quando se está a levar com água gelada em cima, não se consegue pensar em mais nada. Mas se é certo que enfiar-se no chuveiro cada vez que se irrita não é opção, há outras soluções mais práticas. Pode, por exemplo, ir à casa de banho e molhar o rosto com água fria – melhor ainda seria mergulhar a cara numa bacia com água fria e cubos de gelo. Se não quiser dar cabo da maquilhagem, Stebbings recomenda um truque simples: apertar um cubo de gelo na mão.
A ciência tem explorado bastante o impacto da água fria no humor e no stress, sobretudo a partir do interesse crescente pelos banhos gelados e pela terapia de frio. Vários trabalhos publicados em revistas de psicofisiologia mostram que a imersão do rosto em água fria ativa o nervo trigémeo e estimula o nervo vago, induzindo uma acentuada resposta calmante. É especialmente eficaz em episódios de grande ansiedade ou pânico, uma vez que a água fria provoca um aumento da noradrenalina e da dopamina, neurotransmissores associados ao foco e ao bem-estar.
Além disso, a exposição breve e controlada ao frio melhora a capacidade de tolerar desconforto mental e emocional, ajustando a resposta do sistema nervoso ao stress. Ensaios clínicos pequenos, mas consistentes, mostram melhorias no humor, ansiedade e até sintomas depressivos em pessoas que tomam duches frios diários durante dois a três minutos. Stebbings explica que “a terapia com água fria ensina o sistema nervoso a lidar com o desconforto de forma controlada. Com o tempo, reduz a sensibilidade ao stress, aumenta a estabilidade emocional e oferece uma ferramenta física fiável para acalmar o sistema quando a mente está em sobrecarga.”
Quanto a duches gelados, a terapeuta recomenda que se comece devagar, com alguns segundos de água fria, e ir aumentando gradualmente até um minuto ou dois – algo que pode fazer, por exemplo, no fim do seu duche normal. Por razões óbvias, é mais fácil começar esta prática no verão, aumentando a tolerância quando o tempo está quente e indo criando resistência para quando estiver um frio de rachar.
Não obstante as maravilhas oferecidas pelos duches frios, não esqueça, porém, que quando der por si num aperto, agarrar um singelo cubo de gelo evita grandes males. Pode parecer pseudociência, mas a verdade é que é uma técnica frequentemente usada em psicoterapia. Isto porque o gelo fornece um estímulo sensorial muito intenso, que desvia o cérebro do circuito de stress, sendo uma forma rápida de trazer a atenção para o presente.
