Dagmar Brusse: “As mulheres têm direito à sua própria vida. Não viemos ao mundo para servir”

Numa conversa intimista em Amesterdão, a diretora criativa da Rituals conversou com a Máxima sobre os seus pequenos hábitos diários, sobre como as mulheres podem ter vidas mais plenas e abundantes, e, claro, sobre alguns dos seus produtos favoritos.

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13 de março de 2024 às 07:00 Madalena Haderer

Na House of Rituals, a flagship store da Rituals no centro de Amesterdão, há poções e loções, maquilhagem, perfumes, velas aromáticas, roupões macios, almofadas fofas. Coisas bonitas a metro, a mililitro e a grama. Mas o ponto de interesse mais curioso é, talvez, o estranho armário azul escuro, com um ar místico, a fazer lembrar o Zoltar do filme Big. Só que em vez de um vidente de turbante, estamos perante uma bússola com 13 pontos cardeais: reflexão, autenticidade, propósito, paixão, consciência (awareness), gratidão, positividade, alegria, compaixão, gentileza, atenção plena (mindfulness), perdão e amor. Como se não bastasse, o armário tem um gigantesco botão verde que pisca – impossível não carregar. A agulha começa a girar até que pára num dos pontos cardeais. De repente, abre-se uma das muitas gavetas. Lá dentro está um cartão que devemos retirar, como se estivéssemos a receber a sina. À jornalista da Máxima calhou o "perdão". O cartão explica a importância de se perdoar tudo e todos e como isso pode mudar a nossa vida. Este "armário mágico" é o lado tangível de The Art of Souful Living: a filosofia da marca que tem o objetivo de guiar as mulheres rumo a uma vida mais equilibrada e harmoniosa, promovendo a ligação entre o corpo a mente e a alma – "e isto não tem nada de religioso", faz questão de sublinhar Dagmar Brusse, diretora criativa da Rituals e mente responsável pelo conceito.

Qual é a relevância disto? É que fomos a Amesterdão para conversar com Dagmar sobre os novos lançamentos da marca – saiba tudo aqui – e acabámos a falar sobre empoderamento feminino e sobre o que as mulheres podem fazer para terem vidas mais plenas e abundantes e, acima de tudo, mais calmas. 

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A Rituals é uma marca que tem um ethos muito específico. Pode falar-me um pouco sobre isso?

Claro! Desde que foi criada, há quase 25 anos, o propósito da Rituals sempre foi enriquecer a vida das pessoas com pequenos momentos de felicidade. Transformar as rotinas em rituais. E fomos expandindo isso ao longo do tempo, com mais produtos que dão às consumidoras uma perspectiva mais ampla sobre como relaxar e abrandar, ao longo do dia. Podíamos dizer: "Toma, tens aqui este creme de rosto, cheira muito bem e a qualidade é excelente. Esfrega-o na cara e boa sorte." Mas queremos mais do que isso. Queremos dar às nossas consumidoras algo que transforme as suas vidas e que promova o seu bem-estar.

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Durante a apresentação dos novos produtos falou sobre as suas filhas. Disse que, apesar de terem tudo o que precisam, elas sentem uma certa falta de alegria interior, sentem que não têm um propósito. Ter rituais é algo que pode ajudar?

Acredito que sim. Na apresentação também falei na Art of Soulful Living. Um dos seus pontos cardeais é a positividade, outro é a gratidão. Acredito que, se praticarmos estas coisas, viver torna-se muito mais fácil. É que o sucesso não está necessariamente lá fora. O sucesso está dentro de cada um de nós. Se estiveres feliz, tudo o resto acabará por ir ao lugar. Caso contrário, até podes atingir o sucesso, mas nunca te sentirás realmente preenchida, porque não estás sintonizada contigo mesma e com as tuas necessidades.

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Não acha que o mindfulness começa a transformar-se numa tarefa desgastante – o oposto daquilo que era suposto ser? Há sempre alguma coisa nova para fazer.

Acho. É por isso que usamos um discurso muito diferente. Dizemos: "Tens aqui este conjunto de ferramentas que achamos que te podem ajudar. Usa-as se quiseres e como quiseres." Não há nenhuma pressão para que se siga toda a bússola da Art of Soulful Living. O mindfulness faz parte da nossa filosofia, mas é apenas uma pequena parte. A Art of Soulful Living é muito mais. Trata-se de saber ser grata, de perceber quando estás a ser negativa e mudar a tua atitude. E não tens de fazer tudo perfeito. É apenas uma questão de estar consciente de todas essas coisas que podes mudar, pequenas coisas. E, na minha opinião, no fim de tudo, o mais importante é que nos conheçamos. E acho que não há muita gente que saiba realmente quem é e o que é que quer da vida.

Devíamos tirar tempo para refletir sobre nós próprias?

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Sim, sentarmo-nos connosco próprias, como nos sentaríamos com alguém que acabámos de conhecer, e fazer perguntas. O que é que eu quero? O que é que me faz feliz? Ajuda bastante se pensarmos nas coisas que gostávamos de fazer quando tínhamos 10 ou 12 anos, antes de sermos inundadas pelo sentido de obrigação e dever. O que é que nos fazia felizes nessa altura? Temos de nos reconectar com isso. E podemos achar que é difícil. Há sempre um "mas". Ainda assim, acredito que se fizermos isso, o sucesso acabará por seguir-nos. E se não seguir, paciência! Pelo menos estaremos a fazer algo de que realmente gostamos.

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Na sua opinião, que hábitos é que todas as mulheres deviam ter?

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Acima de tudo, diria meditação porque foi o que me trouxe mais calma. Eu era uma pessoa muito crítica e explosiva. A meditação fez-me sentir mais calma e trouxe calma às minhas ações. Já não reajo de forma intempestiva. A verdade é que as mulheres têm demasiadas coisas com que se preocupar. Família, principalmente se tiverem filhos pequenos, parceiro, trabalho, amigos. Como é que conseguimos dedicar-nos a tudo isto? A chave está em tirar tempo para nós próprias.

Há muitas mulheres que se perdem no papel de mãe, não é?

Sem dúvida. Para que isso não aconteça, acho que temos de ter a coragem de escolher por nós e para nós. Vou dar o meu exemplo. Tenho quatro filhas, como já disse. O meu marido trabalha em finanças e viaja muito. Vivemos quatro anos em Londres e depois três anos em Nova Iorque. E eu larguei o que fazia, quando nos mudámos. Mas depois, há cerca de 10 anos, consegui este trabalho. E o meu marido não gostou. Estava preocupado com o que aconteceria às crianças, mas, quer dizer, a mais nova já tinha nove anos! Senti que não seria um problema. Mesmo assim, foi uma luta. Mas eu persisti e disse-lhe: "Tenho de fazer isto por mim. Se criar problemas, paciência. Resolvem-se." E assim foi, mas acho que isto é uma posição difícil de tomar para muitas mulheres – porem-se à frente do parceiro e dos filhos. Mas eu queria voltar a ser a Dagmar, não a mãe, nem a parceira. Queria ser eu própria e ser reconhecida e valorizada por fazer aquilo que gosto de fazer. Aquilo em que sou boa.

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E isso acabou por ser um exemplo importante que deu às sua filhas, não?

Claro. Estou sempre a dizer-lhes que devem ganhar o seu próprio dinheiro, não serem dependentes de parceiros. É maravilhoso quando corre tudo bem, mas, se não correr, têm se ser capazes de sobreviver sozinhas. Para além disso, só consegues ser uma boa mãe se cuidares de ti própria, caso contrário, acabarás por ficar ressentida com o teu marido ou com os teus filhos. É uma coisa um bocado piegas de se dizer, mas é verdade: tens de te amar a ti primeiro para poderes amar os outros.

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E há muitos casamentos que acabam por causa desses ressentimentos.

Sim, porque as mulheres se sentem insignificantes e ao serviço dos outros. As mulheres têm o seu próprio direito à vida! Não viemos ao mundo para servir. Claro que há mulheres que adoram servir os outros e essas devem fazê-lo. Mas se não é esse o teu caso, não o faças. Escolhe-te a ti mesma. Claro que há toda uma gestão que tem de ser feita. Em princípio, se tens filhos pequenos, não podes passar os fins-de-semana inteiros com as tuas amigas. A chave da vida é o equilíbrio. Onde há equilíbrio há calma. E é isso que tentamos levar às pessoas [com os produtos Rituals].

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Quais são os seus rituais favoritos? A meditação é um. Tem mais?

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Sim. Adoro terminar o duche com água fria, todas as manhãs. É óptimo. Ajuda a acordar, dá energia. Outra coisa que gosto muito de fazer, assim que acordo, é pegar no meu café e sentar-me na rua, durante 15 minutos, mesmo no Inverno. Preciso desse tempo e espaço de quietude para preparar o meu dia, estar sozinha com os meus pensamentos. E depois salto para o duche.

De volta à Rituals, quais são os seus três produtos favoritos?

Na coleção de maquilhagem, que nem toda a gente sabe que a Rituals tem [a linha de maquilhagem da marca chama-se The Ritual of Cleopatra e é composta por 10 produtos essenciais], há uma máscara de olhos excelente, chama-se Miracle 3-in-1 Mascara, uso-a todos os dias. Cada vez que acabo uma, compro duas. Tenho sempre várias espalhadas pela casa, até porque as minhas filhas andam sempre a roubá-las. [risos] O outro favorito é a paleta de sombras de olhos, anda sempre comigo. O terceiro favorito… Ah, velas, claro! Não consigo viver sem velas. Tenho velas por todo o lado. Adoro as fragrâncias que libertam, claro, mas também a luminosidade – acho que é extremamente calmante. A que gosto mais, ultimamente, é a Cotton Blossom da Private Collection. Mas a minha favorita de sempre é a Black Oudh [da linha The Ritual of Oudh].

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Para terminar, aquilo que nos trouxe aqui: a nova linha, The Ritual of Yozakura, de edição limitada, foi pensada para clientes mais jovens. O que é que estes produtos têm de diferente para atraírem a novas gerações?

Não é apenas direcionado para clientes mais jovens. Também é para as nossas fãs da linha Sakura [a linha mais vendida da marca]. Mas acredito que as vai atrair porque tem um vibe mais moderno, mais fashion. A cor é muito apelativa e a fragrância também é um pouco mais ousada. É mais rica e, ainda assim, tem uma certa suavidade. Por isso, sim, acredito que vai, realmente, atrair uma geração mais jovem. Sabe, as minhas filhas estão sempre a dizer-me que a Rituals é para pessoas mais velhas. E, claro que não é. Prova disso é que elas andam sempre a usar os meus produtos. Mas agora que viram a nova linha, já não andam com a mesma conversa...

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