Não tomar banho: a nova tendência entre as estrelas Hollywood?
Tudo começou quando Ashton Kutcher e Mila Kunis declararam que não davam banho aos filhos todos os dias.
A pergunta que dá título a este artigo não é para ser respondida, pelo menos, por enquanto. Se durante a pandemia a maquilhagem foi deixada na gaveta, os números de vendas de produtos de cuidados de pele e cabelo continuaram a subir, confinamento após confinamento. De acordo com a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International, o mercado global de cuidados capilares cresceu 2.4% em 2020.
Nos últimos anos, os produtos dedicados à zona do couro cabeludo têm-se multiplicado. O Business of Fashion, site norte-americano dedicado à indústria da Moda e Beleza, levantava, no final de março, a questão: "Será o o scalp care o novo skin care?". Até há bem pouco tempo, o escalpe era praticamente ignorado. Com a exceção de quem tem caspa ou sofre de um couro cabeludo sensível ou oleoso, poucos eram os que adotavam cuidados específicos para esta região pouco visível. O interesse pelo couro cabeludo não era generalizado nem o tópico merecedor de hashtag ou de tendências virais online.
A ideia de adaptar as formulações e ingredientes associados ao skincare ao couro cabeludo (onde temos, naturalmente, pele) não é nova. Ricardo Vila Nova, tricologista, há muito que olha atentamente para a zona onde nasce o cabelo. "A saúde do cabelo começa pelo couro cabeludo", conta à Máxima, por telefone. "Tento sensibilizar as pessoas que o cuidado com o couro cabeludo tem de ser semelhante ao cuidado que temos com a nossa pele, é isso que vai garantir uma boa saúde do cabelo no futuro". Na sua clínica na Avenida da Liberdade, em Lisboa, já se faz a estimulação do couro cabeludo com recurso a um dermaroller, por exemplo, uma ferramenta usada essencialmente nos cuidados faciais. Nesse tratamento, após a passagem das agulhas filhas sobre a superfície da pele, aplica-se um cocktail de vitaminas e minerais. O prometido é um cabelo mais grosso, brilhante e resistente em apenas um mês.
Além dos tratamentos de gabinete, há cada vez mais opções de produtos no mercado. Percursora nos cuidados do couro cabeludo, a René Furterer tem o famoso Complexe 5, um produto concentrado em óleos essenciais de laranja e lavanda para massajar em todo o couro cabeludo, deixar atuar entre 5 a 10 minutos, e proceder à lavagem. Para utilizar entre uma a duas vezes por semana, a marca propõe que esta estimulação do couro cabeludo seja entendida como um ritual de relaxamento, um momento de bem-estar – uma abordagem cada vez mais popular entre as marcas de beleza e ditas de wellness. Já a Christophe Robin conseguiu, apesar do preço, tornar o seu esfoliante de couro cabeludo um produto de culto e bestseller em poucos anos. O Scrub Lavant Purifiant au Sel Marin, à base de sal marinho, tem a capacidade de esfoliar o couro cabeludo, livrando-o das impurezas e resíduos, estimulando a microcirculação do sangue. Mesmo o couro cabeludo sensível ou oleoso deverá ficar limpo e "reequilibrado", alega a marca nascida em Paris. Uma embalagem pode durar meses, já que o produto é indicado para uso semanal ou após a coloração para ajudar a atenuar as sensações de prurido e formigueiro.
Por onde começar
"Toda a gente sabe se o couro cabeludo é seco ou oleoso, se tem caspa ou não. Esses são os sinais básicos que nos ajudam a selecionar o tipo de champô", diz o tricologista português. Mas a lista de produtos disponíveis para o couro cabeludo hoje já não se fica nos champôs, óleos e esfoliantes. Atualmente há essências, loções, séruns, máscaras, ampolas, tónicos. (Quase) tudo o que encontraria em produtos destinados para o rosto. "Começamos a amplificar o nível de cuidado mais profundo. Começam agora a aparecer alguns elementos para o couro cabeludo que têm essa função. Como os esfoliantes, que são agentes que permitem eliminar toxinas de camadas mais profundas, tónicos, que ajudam a rebalancear o excesso de gordura, o pH e o filme hidroprotetor. Portanto [cuidar do cabelo] já não depende só da lavagem. Começamos a ter ad-ons que já acontecem na pele há muito tempo".
Para Ricardo Vila Nova, a base de uma boa rotina continua a ser escolher um champô adequado e um bom hidratante (seja máscara, condicionador ou leave-in). Porém, admite, "estamos a entrar numa era de ramificações dentro deste básico". "O público começa a ter mais perceção do quão eficazes são estes ad-ons e como eles beneficiam o couro cabeludo. Ensinam o consumidor a conhecer melhor o seu cabelo e o tipo de produtos que se adequam. Começam a ter perceção de como o cabelo altera mesmo se tiverem este tipo de cuidados", remata. E, na beleza, contra resultados não há argumentos – há produtos.