Violência no namoro. A história de Laura: "Achava que o problema era meu, por exemplo por estar mais gorda"
Laura (nome fictício), 24 anos, de Lisboa e estudante universitária, viveu uma relação abusiva no namoro com um rapaz mais velho de quem não se achava merecedora. Os problemas da relação eram, acreditava, motivados por ela.

Havia um encantamento enorme. Nuno era cinco anos mais velho que Laura. "Um rapaz muito giro, muitas miúdas gostavam dele." Laura, então com 18 anos, era insegura e achava-se feia. De repente, tinha ali a validação de alguém mais velho. Apaixonou-se, claro. O namoro começou numa festa popular – ele era do Ribatejo. Por essa altura, Laura andava na universidade e o namorado já trabalhava, em Lisboa. Passavam, diariamente, uma horinha juntos. Tudo bonito, tudo de coração cheio. Jantavam ao fim de semana, e Laura era bem-vinda na casa da mãe do namorado. Nuno começou a entrar no grupo de amigos da namorada. "E eu a estar com os amigos dele", lembra. Ali reinava "uma cultura machista, com álcool, muita farra". Mas os problemas só começaram quando Laura percebeu que Nuno não queria estar com as suas amigas, nem amigos. "Eram fúteis", dizia ele. Ela, e o seu grupo, eram estudantes universitárias e pertenciam a uma classe socioeconómica privilegiada. "Ia justificando tudo com o ciúme e um certo sentimento de inferioridade", conta Laura.
E tinha de "estar sempre a corresponder", até porque, quando havia problema, "achava que o problema era meu, por exemplo por estar mais gorda (eu sei que é muito fútil dizer isto)". A aparência era, aliás, essencial. Nunca apareceu "à frente dele com calças de fato de treino, ele não gostaria, não estaria à sua altura", partilha a estudante.

Embora Nuno saísse com amigos, começa a demonstrar descontentamento quando Laura faz o mesmo. Discutiam. "Para não o chatear", Laura abdicou das saídas. "Praticamente deixei de sair à noite." Já as farras de Nuno, e as histórias de traições, multiplicavam-se. "Ele manipulava-me muito bem. Quando o confrontava dizia-me: ‘As pessoas têm imensa inveja nossa, inveja tua, porque namoras comigo, e tentam acabar com a nossa relação.’" Como ele tinha um outro lado muito querido, Laura acreditou na versão. "Mas, foi sempre verdade, ele traiu-me durante todo o namoro."
Depois da enésima traição, aquela que não houve como negar, "acabei tudo, mas ele não aceitou". Fazia chamadas compulsivas, chegava a estar duas horas seguidas a ligar-me. Laura teve ataques de ansiedade nesse período, por vezes nem conseguia conduzir. Um período conturbado. Foi uma amiga que contou tudo aos pais dela, ela jamais tinha tocado neste assunto com eles. E crê que a situação se resolveu porque acabou por sair do País para estudar. "Foi um penso rápido – assim, ele não tinha hipótese."
*Excerto da reportagem "Amor, só que ao contrário", de Teresa Gens, publicado na revista de aniversário dos 35 anos da Máxima, lançada em novembro de 2024.

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