Taylor Swift em Lisboa: uma conversão em swiftie que só demorou três horas
O primeiro de dois concertos no Estádio da Luz teve uma amplitude sem precedentes. Mas este coro veste cor-de-rosa e o que canta de pulmões bem abertos é: “Look what you made me do”.

Tal como a maior parte das super fãs, a música de Taylor Swift acompanhou a minha infância e adolescência. Aliás, as eras da norte-americana corresponderam, quase em tempo real, à (minha) transição de menina que deseja viver num conto de fadas a pré-adolescente ligeiramente revoltada numa tentativa de se afirmar. Ainda assim, foi preciso um concerto de pouco mais de três horas para começar a compreender os swifties.


Na entrada para o recinto, o espírito da comunidade era evidente: fãs que foram sozinhos rapidamente encontraram quem os acolhesse, grupos fundiram-se para partilhar o êxtase. Apesar da demora causada pela desorganização nas entradas, os ânimos não se foram abaixo. O concerto de abertura dos Paramore (esses sim, uns favoritos da minha juventude) começou quase uma hora mais tarde do que estava previsto - o atraso necessário para dar tempo para que toda a gente entrasse no estádio. Nunca tinha estado dentro de um recinto desportivo deste calibre. Surpreenderam-me não só as dimensões do espaço, como a visão das bancadas praticamente cheias, que brilhavam com os outfits dos fãs cobertos de lantejoulas. Ouviu-se música casualmente, durante a espera pela entrada da estrela do pop, mas o casual transformou-se em ansiosiedade e euforia quando tocou Applause de Lady Gaga. Pensei que o entusiasmo era demasiado para ser só um caso de uma canção que agradasse a uma larga demografia. Foi um grupo de jovens swifties que me explicou (e me respondeu a tantas outras questões ao longo das horas seguintes): nos concertos da Eras Tour, Applause é a senha para a entrada de Taylor. De repente, o anseio tornou-se contagioso.
No fim da "senha", os ecrãs encheram-se de um enorme relógio em contagem decrescente que anunciou a chegada da artista. Foi uma entrada dramática e um pouco mais demorada, não fosse Taylor Swift uma performer nata. Entrámos na era Lover, o disco de 2019. Não estava familiarizada com o trabalho mais recente da cantora, mas não houve espaço para aborrecimento possível. Taylor Swift caminha pelo palco com uma energia que conquista qualquer espectador. As dezenas de metros da plataforma que se estende pelo comprimento do relvado nunca pareceram vazias - o brilho daquela estrela preencheu todos os cantos.


Cinco canções depois, Taylor desapareceu discretamente e, aí, fiquei eu ansiosa: era o momento para a primeira de muitas trocas de looks. O body desenhado por Versace deu lugar a um vestido dourado com franjas de Alberta Ferretti que ditou a entrada na era Fearless - a verdadeira época dourada. Perdi a conta de todas as mudanças de outfit que houve ao longo do espetáculo, mas, neste caso, interessa mais a qualidade e não a quantidade. A Eras Tour, para muitos, é um concerto que atravessa 18 anos de carreira. Para outros (incluo-me neste grupo), é um desfile que, por acaso, até tem música boa ao vivo. Não era a única para quem esta fase mais antiga da cantora é das mais acarinhadas. Ouvir You Belong With Me e Love Story ao vivo e participar neste coro de dezenas de milhares foi o regresso à infância que não sabia que precisava.

O sol pôs-se atrás de um estádio pintado de vermelho. Podiam ser adeptos do Benfica (não estivéssemos nós no Estádio da Luz), mas eram swifties iluminados pela aura da fase Red. Na verdade, o dia virou noite ao som de uma canção que, até para os mais leigos, tem o seu valor: a versão de dez minutos de All Too Well, lançada em 2021 na Taylor’s Version do disco.

O que aconteceu depois do sol se pôr foi uma viagem a alta velocidade pelos êxitos de nove eras da cantora. Uma excursão em que cerca de 60 mil pessoas participaram avidamente, sempre de pé e com uma potência de garganta capaz de ensurdecer. Acima de tudo, foi uma noite em que passei a entender melhor o que dizem as swifties quando se referem à girlhood que canta Taylor Swift. Lá, sendo apenas uma mulher no meio de dezenas de milhares de desconhecidos, reina uma sensação de segurança e amizade. Soube que estava num lugar onde, nem que fosse durante umas horas, era possível sermos mais bondosos uns para os outros. Um lugar onde os ideais de tolerância e entreajuda eram defendidos e preservados. Um lugar onde me senti um bocadinho menos cínica.
Uma vez nas épocas mais recentes do trabalho da artista, já eram poucas as referências que entendi. Ainda assim, foi inesquecível a versão curta de Cardigan, do álbum Folklore, que Swift cantou deitada no telhado de uma cabana - um bom exemplo da gigante produção montada para a Eras Tour. Além de todos os looks de designer (que não duram mais do que duas ou três canções), o concerto tem o apoio de bailarinos, um coro, adereços que transformam o cenário e de uma realização digna de filme, que pode ser visto na Disney+. Durante o espetáculo, que embala num ritmo que faz com que três horas pareçam pouco, houve só uma questão que nunca me abandonou: que batom infalível usa Taylor Swift? Certo, a artista sai do palco entre eras para uma troca de look e talvez um retoque na maquilhagem. Ainda assim, os lábios da norte-americana estavam sempre milimetricamente pintados do clássico escarlate mate. É o tipo de segredo que dispensa qualquer gatekeeping.


Num espetáculo que já foi repetido dezenas de vezes, a rotina quebra-se com duas canções surpresa, que diferem de concerto para concerto. Lisboa foi sortuda: recebeu duas misturas que juntaram cinco músicas. O primeiro mashup foi de Come Back… Be Here com The Way I Loved You e The Other Side of The Door. Já o segundo misturou Fresh Out The Slammer e High Infidelity. O primeiro concerto da Eras Tour em Lisboa chegou ao fim com fogos de artifício depois de Karma, que fechou o alinhamento. Entre choros e risos, os fãs saíram do estádio de queixo erguido, convictos de que o público português deixou uma boa impressão na artista, tendo-a até agraciado com uma ovação de cerca de quatro minutos na era Evermore. É difícil dizer se Swift ficou, de facto, conquistada pela energia portuguesa. Se falarmos em conquistas, talvez a maior conversão tenha sido de quem não ia com grandes expectativas e acabou rendido à mulher que pisa o palco como um messias da contemporaneidade.

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