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Sofia Sá da Bandeira. “O Pôr do Sol foi catártico e libertador por ser uma sátira à mediocridade das nossas vidinhas"

Depois de duas temporadas na RTP, também disponíveis na plataforma Netflix, a atriz abre o jogo sobre Madalena, a matriarca da família Bourbon de Linhaça, que volta agora a representar no grande ecrã, numa das estreias mais aguardadas do ano em Portugal - a do filme "Pôr do Sol: o Mistério do Colar de São Cajó".

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02 de agosto de 2023 Miguel Judas

Apesar de ser uma das caras mais conhecidas da ficção portuguesa, Sofia Sá da Bandeira nunca antes tinha tido uma experiência como a que viveu em Pôr do Sol, um dos maiores fenómenos de popularidade em Portugal dos últimos anos, apenas, talvez, comparável a Herman José e Gato Fedorento, ao nível das muitas deixas (e outros tantos memes) deixados para a posteridade. Como a própria confessa nesta conversa com a Máxima, Pôr do Sol foi um trabalho "muito catártico e libertador", que lhe deu "uma liberdade enorme" para se entregar "de alma e coração" à loucura daquela personagem. Depois de duas temporadas de enorme sucesso na RTP, a saga dos Bourbon de Linhaça e do seu bem mais valioso, o misterioso Colar de São Cajó, que, como todos sabem mas nunca é demais referir, "está na família há mais de 3500 anos", é agora literalmente concluída em grande. Ou seja, nos ecrãs dos cinemas, onde serão revelados segredos, maldições e até uma lendária receita de bacalhau. 

Sofia conta com mais de 7 mil seguidores no Instagram.
Sofia conta com mais de 7 mil seguidores no Instagram. Foto: Coyote Vadio/Pedro Sadio

Estava à espera do enorme sucesso que o Pôr do Sol alcançou?

Pessoalmente o meu pensamento nunca esteve centrado num eventual sucesso nem algo do género, porque, logo no início, quando fizemos o episódio piloto, fomos todos no risco de experimentar algo novo e diferente. E o que nos ficou foi um imenso prazer, pela dimensão do texto, tão diferente e inteligente, cheio de subtilezas, sem ser um humor fácil e primário. Isso foi mesmo o fator mais importante, que nos deu logo uma energia e uma grande vontade de fazer, interpretar, voar, mas sem nunca imaginarmos como ia correr, porque nunca sabemos como vai ser o olhar do outro, neste caso do público, não é?

Sendo esta série uma total desconstrução do conceito das novelas, quais foram as diferenças sentidas em relação ao trabalho que habitualmente faz nestas?

Foi muito catártico e libertador, porque acabava por ser uma sátira não só às novelas, mas também à mediocridade das nossas próprias vidinhas e talvez seja por isso que toda a gente se identificou tanto com o Pôr-do-Sol. Esta nova realidade de cada um viver na sua bolha é muito bem retratada no modo como as personagens simplesmente não comunicam entre si. O outro simplesmente não existe e isso fascinou-me, especialmente pela forma como os textos foram escritos, de forma tão brilhante para sublinhar esse facto. As pessoas ficaram muito surpreendidas e até acharam muita piada, pelo modo tão dissonante como respondemos uns aos outros, mas isso é também um pouco a imagem desta sociedade em que vivemos. Há essa sátira em que, até de forma inconsciente, todos nós projetamos. 

Pôr do Sol foi
Pôr do Sol foi "um dos maiores fenómenos de popularidade em Portugal dos últimos anos". Foto: Coyote Vadio/Carolina Frazão

Quando é que tiveram a noção do enorme sucesso que estavam a ter?

Nem sei bem, mas foi incrível, porque esse reconhecimento acontecia nos locais mais inesperados, como num local onde costumo ir comprar massa para madeiras, onde, um dia, um dos senhores que lá trabalha começou a dizer-me deixas inteiras da primeira série, algumas das quais nem eu própria já me lembrava (risos). O entusiasmo com que as pessoas nos falavam da série foi algo que eu nunca senti em relação a outros trabalhos que fiz anteriormente e isso foi muito especial.

O que ficou deste trabalho, enquanto atriz?

Ter tido a oportunidade de experimentar um registo completamente novo para mim, ao nível de uma certa fisicalidade de comédia, mas também a forma inteligente como as personagens foram criadas. Acima de tudo foi um trabalho com uma liberdade interior enorme, que permitiu entregar-me de alma e coração àquela loucura de personagem, interpretá-la com uma normalidade imensa e de forma completamente dissonante. Lembro-me, por exemplo, de uma cena, em que a Margarida Bourbon de Linhaça está muito em baixo, porque o marido está no hospital e um padre que era o seu amante está preso. E quando chega a casa diz à filha que está muito em baixo e por isso vai para o quarto, ver pornografia no telemóvel, para relaxar um bocadinho. Isto dito com o mesmo ar de quem diz que vai tomar um chá (risos). 

"Acabava por ser uma sátira não só às novelas, mas também à mediocridade das nossas próprias vidinhas e talvez seja por isso que toda a gente se identificou tanto com o Pôr-do-Sol". Foto: Coyote Vadio/Pedro Sadio

Tiveram liberdade de tomar conta das personagens?

Completamente. Tivemos uma direção de atores ótima, da Rota Tristão da Silva, mas sempre com um respeito imenso pelo nosso trabalho. Foi um projeto que nos permitiu realmente voar, a todos.

E este filme, que vai concluir uma saga de "3.500 anos" da família Bourbon de Linhaça, como vai ser, pode revelar algo aos fãs?

Nós, atores, só vamos ver o filme na sessão de antestreia e por isso estamos todos muito curiosos, porque foi também uma experiência nova. Foi uma sensação muito boa chegarmos até aqui, ao grande ecrã, pois acaba por ser uma recompensa para todos os envolvidos no projeto, que se tornaram numa verdadeira família funcional, em termos de afetos e ligações, ao contrário dos Bourbon de Linhaça (risos). Houve um trabalho individual e coletivo por parte de todos que foi muito bonito e único. Ao longo dos anos que já levo de experiência a gravar séries e novelas, nunca antes tinha sentido algo assim, mesmo. E isso é o que realmente fica, essa afetividade, essa construção e descoberta em conjunto, em que cada um acrescentou sempre qualquer coisa. Foi um verdadeiro fenómeno, não só de popularidade, para o público, mas também nós, que lá trabalhamos, tanto a nível profissional como pessoal. Foi mesmo incrível.

*O filme estreia a 3 de agosto nas salas de cinema portuguesas.

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