Opinião. No "Casados à Primeira Vista", por favor, não sejam felizes para sempre
O conflito e o escândalo entretêm mais do que a harmonia e a sensatez — isto já os gregos sabiam e não seria o "Casados à Primeira Vista" a vir provar o contrário. É azar ao amor, sorte às audiências.

Homens de meia idade que estranham que uma mulher não os queira beijar, uma noiva que desmaia no altar ao ver o futuro marido e um sexagenário que garantiu a um amigo que uma mulher com menos 20 anos estava interessada nele. “Esta sim, esta vale a pena. É boa ao toque”. Este cavalheiro terminou com um longo pousio televisivo: há muito tempo que ninguém dizia em sinal aberto “vou-me fazer ao bife”.
Tudo isto é errado se falarmos de relações, mas como já disseram alguns concorrentes ao longo desta série, “isto não é o amigos à primeira vista”, ou o “clique à primeira vista” nem mesmo o “abrir as pernas à primeira vista”. Isto é o Casados à Primeira Vista e ainda bem que não tem nada a ver com amor.
Desde o Big Brother de 2020, o primeiro reality-game show em Portugal, já ninguém nos engana. Isto não é “a vida real” nem uma “experiência sociológica”, como se disse mais do que esdruxulamente nos primórdios do género em Portugal. Esta também não é a “experiência social” para “almas gémeas desencontradas”, como anunciam algumas publicidades. Isto é televisão.

Dentro da espontaneidade das conversas, das reações e discussões dos realities há as ficções que todos conhecemos (mais ou menos intuitivamente) e aceitamos. A ficção que dá mote a este programa: casais de estranhos são escolhidos por três pessoas com profissões inventadas neste milénio e apelidados de especialistas — uma coach “designer de vidas”, um mestre do eneagrama (uma teoria que divide 8 mil milhões de pessoas em nove tipos e diz quais se conseguem aturar uns aos outros) e uma psicóloga e sexóloga
Nesta edição juntaram um advogado do exercício físico com uma sedentária que se descreve como “capaz de estragar um almoço de família”; um sexagenário auto-centrado e machista com uma mulher independente; uma noiva cética que perde os sentidos quando vê dentes desalinhados com um tarólogo, professor da auto-confiança com um diastema de meio centímetro; uma ex-back vocal de Mickael Carreira com o amigo de um amor de adolescência que estava entre os convidados do noivo. O trunfo da temporada: uma mulher de quarenta anos que gosta de divertir-se e nem precisava de um marido para nada recebeu em sorte um ex-concorrente da primeira temporada, controlador e manipulador.
Como se intui pela amostra, se os casais que se deram bem fossem currículo para os especialistas, ninguém os contratava. Digamos que o eneagrama anda de mãos dadas com as audiências: há o tipo de pessoa prestativa de um bom share; o “tipo performático” de uma cegada que nos mantenha no mesmo canal à mesma hora no dia seguinte; “o perfecionista” de pataquadas capazes de alimentar não só o horário nobre como várias entrevistas do daytime. Ainda bem: foi para isto que se fez o eneagrama, e não tanto para andar a vender cursos de coaching à classe média.

Sem prémio final e escolhendo de livre vontade sair ou ficar a cada domingo, não haveria razão nenhuma para estas pessoas continuarem ali, uma semana atrás da outra. Nem o argumento de que uma relação dá trabalho as poderia manter — sobretudo sem um prémio final. À segunda semana, a maioria já viu o que tinha a ver: se se encontrassem os dois a fazer a reciclagem da carta de condução tinham mais em comum e, mesmo assim, não trocavam mais do que o horário das aulas de código.
Felizmente, em algum momento das primeiras temporadas o programa jogou a cartada do desenvolvimento pessoal — e quem é que não quer desenvolver-se? É como aquela pergunta ardilosa que nos fazem na rua quando estamos em andamento: “tem um minuto para direitos humanos?”. O que é que a pessoa responde sem perder a face? E se não for para fazer a jornada do auto-conhecimento, “ao menos, leva-se daqui um amigo” e já não se perde a viagem.
Assim, os especialistas passam boa parte do tempo a convencer os concorrentes de que, se a atitude deles for de uma certa maneira, aquilo ainda dá uma relação muito linda — o mulherengo ainda pode amar profundamente e o profissional do gaslighting ainda vai dar um marido devoto ou pelo menos um amigo “que me acrescente”, como se diz. Aliás, nesta edição anda a namorar-se a ideia de que se elas deixarem que eles lhes toquem aqui e ali, se se rirem mais um bocado e ignorarem o que não gostam lá muito — mesmo que seja resultado dos mais básicos instintos de sobrevivência feminina — ainda vão ver nascer um bonito amor. Citando um participante da temporada anterior, “como é que ela sabe que não gosta de mim? Ela nunca me viu nu”.
Qualquer ameaça a este ecossistema de broncas apetitosas é um susto. Quando uma das concorrentes começou a enumerar umas quantas “linguagens do amor”, num momento de teorização inofensiva e apaziguadora, a especialista psicóloga apressou-se a dizer que estas teorias “não têm evidência científica”, apesar de estar sentada ao lado do especialista dos eneagramas.

Não confiemos na televisão e nos realities para colher ensinamentos sobre o amor e as relações. Deixemos o Casados à Primeira Vista cumprir o seu único desígnio possível além do entretenimento: o nosso apelo por explorar tudo o que pode correr mal numa relação, como se o vivêssemos não tendo de o viver; poder experienciar a raiva, a indignação, a desilusão e até a bizarria na segurança e no conforto, garantindo que tudo não passará de uma instrutiva viagem ao estranho para matar a curiosidade.
Os casais que no meio disto resultam são bons para ir buscar um copo de água à cozinha. É bastante desinteressante ver casais a darem-se bem, a serem ponderadas e empáticos — façamos uma exceção ao casal a Marta e César, a cabeleireira de Vizela e o tarólogo de Braga que, mesmo numa fase de enamoramento, conseguiram oferecer-nos momentos de deleite, como a massagem com óleo afrodisíaco em que César garantiu trabalhar “mais como terapeuta, não quis entrar muito na parte de marido”, ou o momento em que o sedutor alimenta a sua mulher enquanto descreve o ato: “um moranguinho para a tua boquinha”.
Não há razão para temer que a taxa de sucesso dos casais e de aborrecimento do público cresça em próximas edições. O mais recente anúncio a uma próxima temporada — ou, pelo menos, a um formato declinado deste — pede candidatos que se achem compatíveis com anteriores concorrentes do Casados. Os números em queda desde a terceira temporada estão longe da audiência média de um milhão de espetadores de alguns episódios das primeiras. Está na altura de assumir que os especialistas escolhem pouco ou nada e de apostar no mercado da saudade — a saudade de assistir a um acidente de carro, de ler aquele manual criativo de o que não fazer. Em sete anos, o ex-concorrente regressado à temporada agora no ar refinou os delírios e consegue dizer cada vez mais frases sem sentido. Esperemos que os outros tenham envelhecido na mesma cave.

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