O teste que revela que tipo de pessoa é numa relação
Há quem ache essencial receber palavras de apreço que se traduzem em elogios ou em receber frequentemente mensagens com juras de amor e ainda há quem, acima de todas estas coisas, prefira receber presentes, de forma regular, seja um ramo de flores, um postal ou uma carteira.

"Já ouviste falar na teoria das linguagens do amor?" Tínhamos, eu e uma amiga (igualmente) jornalista, a Mariana, acabado de assistir à peça Teatro, do escritor e encenador francês Pascal Rambert, no Teatro Nacional D. Maria II. Saímos lívidas, eufóricas e extasiadas da brutesca (e sublime) representação de Beatriz Batarda que bradava, à plateia, um monólogo sobre um amor falhado e incompreendido. Talvez de forma inconsciente, a angústia tão bem ensaiada da talentosa atriz tenha deixado nas duas uma vontade de refletir sobre aquilo que de mais complexo, cliché e mundano pode despontar uma conversa num banco de jardim da Avenida da Liberdade, à meia-noite, de um dia de semana. O amor.

Para quem valoriza tempo de qualidade é sobejamente importante que o outro esteja presente com televisões e wi-fi desligados, seja às cinco horas da manhã ou às seis horas da tarde, desde que a sua atenção e tempo partilhado sejam sinceros. Para estas pessoas, o fundamental é estar quando é, de facto, preciso. Mas há quem valorize de forma primordial o toque físico, tal como receber um abraço inesperado ou andar de mãos dadas na rua, sempre. Ou quem sinta que ser amado é ter do outro ajuda no dia a dia, como ir buscar os filhos à escola ou ir ao supermercado. Ou deixar o almoço previamente cozinhado. Há quem ache essencial receber palavras de apreço que se traduzem em elogios ou em receber frequentemente mensagens com juras de amor e ainda há quem, acima de todas estas coisas, prefira receber presentes, de forma regular, seja um ramo de flores, um postal ou uma carteira.
"O modelo criado por Gary Chapman vai de encontro ao que se tem descoberto de uma forma global nas investigações que incidem sobre o amor e que, de resto, incide sobre a essência do ato de amor. Independentemente da cultura, da educação, da idade e da experiência de vida, existem fatores transversais ao ato de amar e de ser amado. Se afastarmos todas as particularidades inerentes a cada pessoa e despirmos o ato de amar de máscaras e acessórios supérfluos, encontramos o tempo de qualidade, palavras de afeto e de valorização, o toque físico, a partilha e o companheirismo como as bases de um amor saudável", começa por esclarecer Filipa Jardim da Silva, psicoterapeuta e coacher. "O psicólogo John Gottman, que tem estudado milhares de casais nas últimas quatro décadas, tem encontrado evidências que vão no sentido do modelo de Chapman, destacando o desprezo como o fator número um que separa casais e por oposição a bondade e a estabilidade emocional como os mais importantes preditores de satisfação e de equilíbrio numa relação a dois", explica.
Como se constrói a nossa aprendizagem do amor? Segundo aquela especialista, essa aprendizagem parte das primeiras relações com o outro. "Ao longo do nosso crescimento somos condicionados a questionar-nos sobre nós mesmos. Comparamo-nos a outros e colocamos em causa um conjunto de aspetos fisiológicos, psicológicos e emocionais. Criticamo-nos procurando ser permanentemente melhores, mais fortes, mais atraentes, mais bem-sucedidos, numa tentativa de obtermos aprovação, respeito e amor. Todavia, a relação que estabelecemos connosco mesmos determina o molde em que iremos viver relações com outros, pelo que se o amor que dirigimos a nós próprios é crítico e condicional, o amor que iremos experienciar de outros tenderá a ser idêntico", esclarece a terapeuta, reforçando a importância da infância. "De forma intuitiva e subconsciente procuramos o amor desde que nascemos, nas suas várias formas. Da infância à idade adulta, vamos construindo relações significativas guiadas pelos padrões de ligação familiares. É pela observação da forma como os que nos rodeiam amam e pela experiência de como nos sentimos amados que construímos os nossos primeiros modelos do que é o amor e de como é amar."
Para Marta Crawford, psicóloga clínica, sexóloga e terapeuta familiar, são estes primeiros modelos que moldam as pessoas, falando da sua própria experiência profissional como terapeuta. "Em consulta, eu ouço muitas vezes dizer: ‘Os meus pais também não eram muito afetivos.’ É uma expressão recorrente em situações em que alguém se queixa que o outro não é muito expressivo fisicamente (…) sem ser no momento em que há sexo. Há uma diferenciação entre o relacionamento do dia a dia em que há toque [físico], em contexto social ou não, e o do momento em que há sexo. Geralmente, a pessoa justifica a falta de competência ou de à-vontade com base nas experiências anteriores em termos afetivos, nomeadamente na relação com os pais ou com os avós (…). As práticas familiares que existiram no nosso crescimento fazem com que tenhamos uma relação com o lado físico mais complicada ou mais descomplicada."

De opinião convergente com a das duas especialistas, Ana Cristina Carvalheira, psicóloga, psicoterapeuta e sexóloga e investigadora no ISPA – Instituto Universitário, reforça a primazia da comunicação: "Cada pessoa traz o seu próprio background de experiências diferentes e ao longo da nossa vida desenvolvemos um estilo de linguagem diferente. O mais difícil é a aceitação das diferenças (…) isso obriga a um investimento grande."
A ideia é explicada no artigo de opinião Podemos Finalmente Deixar de Falar Sobre Cérebros ‘Masculinos’ e ‘Femininos’? (Can We Finally Stop Talking About ‘Male’ and ‘Female’ Brains?) que Daphna Joel, professora de psicologia e neurociência, e Cordelia Fine, professora, psicóloga e filósofa, escreveram para o The New York Times, em dezembro passado. Num dos seus estudos recentes, estas professoras concluíram que "as diferenças entre os sexos que se veem em geral entre os cérebros masculino e feminino não são nitidamente e consistentemente vistas em cérebros individuais. Noutras palavras, os humanos não têm cérebros com características maioritariamente ou exclusivamente ‘típicas femininas’ ou características ‘típicas masculinas’", explicam. "Em vez disso, o que é mais comum em mulheres e homens são cérebros com ‘mosaicos’ de características, alguns deles mais comuns em homens e outros mais comuns em mulheres."

Os homens devem responder com um soco quando provocados; as mulheres devem ser fisicamente atraentes." Para Ana Carvalheira, esta realidade está a mudar, ainda que de forma morosa. "As diferenças de género estão a diluir-se numa sociedade com enormes transformações, mas ainda não podemos dizer que a linguagem do amor não tem género. O erotismo feminino e o erotismo masculino aproximam-se cada vez mais. A expressão verbal, um dos cinco tipos de linguagem [segundo o modelo de Chapman], é muito importante a nível sexual para um casal."
Filipa Jardim da Silva explica como funciona o cérebro, do ponto de vista das neurociências: "O cérebro, quando experiencia amor, tem vários químicos presentes, influenciando a forma como cada um de nós vive e perceciona o amor. A oxitocina, por exemplo, é uma hormona responsável pela vinculação materna e comportamentos de proteção maternal, bem como por respostas de excitação sexual. A serotonina, por sua vez, impacta no bem-estar e felicidade experienciados."

Oque é que de mais relevante contribui para esse entendimento saudável, à parte de todos estes fatores? Perguntamos àquela especialista, em jeito de conclusão. "Provavelmente, amar centrados no amor puro, na essência deste sentimento pautado por bondade, tolerância e compromisso, ao invés de investirmos num amor condicional, repleto de expectativas idealizadas e com faturas emitidas ao outro de forma subliminar."


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