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Milda Mitkuté, quem é a mulher brilhante por trás do êxito da Vinted?

Demorou mais de 10 anos a tornar-se viral, mas é hoje usada por milhões de pessoas em todo o mundo, que reciclam as suas peças de roupa através desta aplicação. Conversámos com a fundadora da Vinted sobre a app que chegou há precisamente um ano a Portugal.

Foto: DR
24 de janeiro de 2025 às 11:32 Rita Silva Avelar

Quando se preparava para mudar de cidade, em 2008 e com apenas 21 anos, a lituana Milda Mitkuté deparou-se com um problema que assolará, possivelmente, boa parte do mundo. Demasiada roupa. Assim nasceu a ideia para aquela que se tornaria uma das aplicações mais populares de 2022: a Vinted

Presente em vários pontos da Europa, e preparada para entrar em vários novos mercados, a Vinted é usada por millhões para trocas e compras/vendas de roupa. "Chegámos recentemente à Eslováquia e, quanto ao produto, introduzimos categorias expandidas e novas, Entretenimento e Animais, para que os nossos membros possam expressar o seu estilo pessoal para lá da Moda, dos artigos domésticos e de decoração" conta um responsável de gestão da marca, que tem hoje sede na Lituânia, em Vilnius, mas também conta com escritórios em Berlim (Alemanha), Praga (República Checa) e Utreque + Amesterdão (Países Baixos).

A aplicação lançou ainda uma nova funcionalidade de doação nos seus mercados, que proporciona à comunidade formas simples de doar e apoiar os esforços de ajuda humanitária na Ucrânia, o que, até à data, permitiu angariar mais de 800 mil euros em donativos. A Máxima falou com Milda Mitkuté para descobrir o que a move, como assistiu ao crescimento da aplicação e quais são os seus hábitos pessoais no universo das compras e da Moda circular.

Qual é o seu background profissional? Já estava ligada à indústria do vestuário antes da criação da Vinted?

Quando a Vinted foi fundada, eu era muito jovem, pelo que não tinha ainda grande experiência profissional: na altura, estava a estudar Gestão Cultural e pensava mesmo que ia começar a minha carreira a trabalhar em gestão musical (ou talvez dança). Na faculdade, trabalhei em part-time numa agência de turismo e depois em relações públicas, por isso, não conhecia esta indústria.

Quando começou a pensar na Moda da perspetiva da reciclagem?

Há 13 anos (em 2008, aquando da fundação da Vinted), a Moda em segunda mão e a Moda circular não eram, na verdade, um foco por aí além. Eu própria tinha o hábito de fazer compras em lojas de roupa em segunda mão, mas não era grande fã: lojas pequenas, escolha limitada, não encontrava o meu tamanho... Entretanto, o mercado de roupa em segunda mão mudou muito — e eu também! De qualquer modo, a ideia de revender as roupas que já não usava ou não precisava ocorreu-me, precisamente, como uma solução para responder a uma necessidade muito prática...

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Então, como é que surgiu a ideia?

Na altura, preparava-me para me mudar da minha cidade natal, Caulas, para Vilnius (ambas na Lituânia) e notei que tinha demasiadas peças de roupa para levar comigo, por isso, pus-me a pensar numa boa forma de lhes dar uma nova vida. Numa festa, partilhei as minhas ideias com o meu amigo Justas Janauskas, que disse logo que sim e me ajudou a construir o primeiro site, em que os meus amigos podiam escolher as roupas que quisessem e até partilhá-las uns com os outros. Nessa altura, a ideia era simplesmente partilhá-las com os amigos, nunca pensámos que fosse crescer tanto!

Quais eram, para si, os pilares fundamentais desta ideia?

Como disse, a Vinted começou como um projeto pessoal destinado a mim e a um grupo restrito de amigos, e até mesmo o êxito no nosso país natal, a Lituânia, era impensável: para nós, a Vinted era um projeto que tínhamos nos tempos livres, por paixão, em que podíamos experimentar coisas além dos nossos empregos, mas que, ao início, não nos dava dinheiro a ganhar. No entanto, a nossa plataforma captou o interesse das pessoas e dos meios de comunicação social na Lituânia, cresceu repentinamente e atraiu investidores nos anos seguintes, o que nos fez chegar a outros países.

E hoje, qual é o propósito?

Hoje, a missão da Vinted é fazer da Moda em segunda mão a primeira escolha em todo o mundo, tentando que o acesso seja fácil, centrado na comunidade e num formato de aplicação intuitivo, para que se possa tornar cada vez mais parte da vida das pessoas.

Foto: DR

Acredita que a Moda circular é determinante na contribuição para um mundo mais ecológico?

A tendência da moda em segunda mão iniciou-se há vários anos e faz parte de um movimento geral para um consumo mais responsável, bem como de um modelo de economia circular mais alargado, em que as pessoas compram e vendem permanentemente artigos entre si, isto é, em que um determinado artigo passa de uma pessoa para outra. Na Vinted, acreditamos que a Moda em segunda mão pode ser uma parte da solução para os desafios que a indústria da Moda enfrenta no plano dos efeitos climáticos, embora não seja a única nem resolva tudo. O impacto positivo da Moda em segunda mão é sustentado pela investigação, por exemplo, da ONG WRAP, do Reino Unido, que concluiu que um aumento de 10% nas vendas em segunda mão poderia poupar 3% de carbono, 4% de água e 1% de resíduos por tonelada de roupa. No entanto, estamos confiantes de que a adesão a hábitos de consumo mais conscientes e à circularidade vai continuar, o que tornará o hábito de revender cada vez mais parte do quotidiano dos consumidores.

Quais são os seus hábitos sustentáveis?

Em primeiro lugar, quando compro alguma coisa, pergunto a mim mesma se realmente me faz falta, quantas vezes a vou usar, entre outras. Hoje, encontrar novos donos para artigos que já não uso tornou-se para mim uma prática tão natural, que até me tem ajudado a ser ainda mais responsável por aquilo que tenho em casa: por saber que terei de encontrar um futuro proprietário, tento, em primeiro lugar, consumir o mínimo possível e tenho sempre em mente que o que compro deverá ser usado uma segunda vez se em algum momento eu deixar de ter essa necessidade. Além disso, pode ser muito demorado encontrar um novo dono, por isso, o objetivo inicial é sempre tentar comprar apenas coisas necessárias! Ao comprar, tento que a primeira escolha privilegie artigos em segunda mão.

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E a nível pessoal, noutros domínios?

Tento também produzir o mínimo de desperdício possível, tendo em conta as embalagens e a reciclagem, adoro criar coisas, como cerâmica, por exemplo, e muito me apraz educar os meus filhos com a importância da circularidade em mente: para os mais novos entre nós, além da roupa, os brinquedos têm naturalmente um valor emocional. No seu mundo, há meias da sorte, um peluche não é apenas um brinquedo fofinho, mas pode dar-lhes coragem e aconchego: tudo tem magia infantil. Os pais podem aproveitar o gosto que as crianças têm de associar aos objetos uma história. Os brinquedos que já não são usados podem ser dados e assim começar uma nova aventura. Desta forma, as crianças não aprendem apenas a partilhar — os pais, simultaneamente, educam os seus pequenotes no sentido de, desde cedo, verem uma mais-valia em dar às coisas uma vida longa. Isto cria, esperamos, um sentido de responsabilidade ecológica bem enraizado. Para os pais, por outro lado, fatores económicos e ecológicos também são relevantes quando pensamos em segunda-mão.

Como é um dia na sua vida?

Nenhum dia é igual aos outros quando se tem quatro filhos, mas de um modo geral, hoje em dia tenho interesso-me por questões sociais, alterações climáticas, inteligência artificial e educação. Quero saber como será o mundo daqui a 20 anos quando os meus filhos crescerem. Se um dia me perguntarem: "Mãe, o que fizeste para melhorar a situação da nossa Terra?", quero ter uma resposta para lhes dar. Comecei a estudar novamente, a trabalhar em vários mestrados, e a explorar outros tópicos que me interessam, como a ligação entre as alterações climáticas e a nossa sociedade. Sinto que tenho muito trabalho de casa ainda por fazer, para ver que caminho seguir e como tal, leio muitos livros, estudo e trabalho em projetos relacionados e que tenham impacto nestas matérias.

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