Irão nega cuidados de saúde a mulheres que recusem usar hijab
O cerco está cada vez mais fechado para as mulheres no Irão. Multiplicam-se as consequências para quem não segue as regras.
Mulher iraniana com o véu islâmico na rua, junho de 2023.
Foto: Getty Images02 de agosto de 2023Ângela Mata
O Irão acaba de lançar um novo decreto que estrangula cada vez mais a liberdade das mulheres. Desta vez, aquelas que se recusarem a usar o hijab não terão direito a receber cuidados de saúde.
Na cidade de Lahijan, a norte do Irão, os profissionais de saúde foram informados de que a "prestação de todos os serviços" estará sujeita ao cumprimento das rígidas regras de indumentária do país. "Hospitais e clínicas", quer sejam privados ou públicos, devem "implementar" as regras nas suas instalações, escreveu Mohammad Taghi Najafzadeh, diretor da rede de saúde e tratamento da cidade, numa carta enviada aos responsáveis das unidades locais.
Como era de esperar, a nova medida foi rapidamente condenada por grupos de direitos humanos, que olham para a diretiva como "horripilante". "Esta é de longe a mais flagrante violação dos legítimos direitos civis e humanos das mulheres iranianas e contra todas as normas civilizadas", terá dito Kambiz Noroozi, advogado especializado na defesa dos direitos humanos, ao jornal iraniano Etemad, segundo o The Telegraph.
Segundo a nova lei, as mulheres que se recusarem a usar o hijab não terão direito a receber cuidados de saúde.
Foto: Getty ImagesLeia tambémHelena Ferro de Gouveia: “Falta dar a liberdade total às mulheres para serem aquilo que quiserem”
O que passa a acontecer no país é que, numa qualquer situação de emergência, em que uma mulher que não use o véu islâmico corra risco de vida, ou necessite de quaisquer tipo de cuidados médicos, passa a não ter acesso a eles. De acordo com esta lei, os profissionais de saúde não devem atendê-la. Segundo consta, diretivas idênticas terão sido enviadas a profissionais de saúde de todo o Irão.
Este ataque à liberdade das mulheres, por meio da legislação, tem vindo a ser incrementado nas últimas semanas, isto numa altura em que se aproxima o aniversário da morte de Mahsa Amini. A mulher de 22 anos morreu, em setembro passado, sob custódia da polícia depois de ter sido detida por supostamente violar a regra do hijab. Os protestos que se sucederam têm representado um dos maiores desafios à teocracia do Irão desde a revolução islâmica de 1979. Teme-se que agora, no aniversário, as manifestações se intensifiquem.
Um projeto de lei sobre o hijab e a castidade, que introduz uma série de multas severas e possíveis sentenças de prisão para mulheres que se recusam a usar o véu na cabeça em público, está atualmente em tramitação no parlamento Iraniano. A nova lei foi condenada por Mohammad Khatami, o ex-presidente iraniano, que convocou um referendo sobre a questão da indumentária obrigatória.