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De Florença para Lisboa. A Moda infantil em expansão

Envolvida com a causa da Moda sustentável, a Pitti Bimbo é uma das mais importantes feiras de moda infantil do mundo. A 97ª edição realizou-se em Florença e contou com participantes de todo o mundo, incluindo Portugal. Fomos até lá.

Foto: Akastudio Collective
07 de julho de 2023 Maria João Martins

Num dia podem ser rainhas do baile, no outro exploradoras do espaço ou comandantes de avião. O mesmo é válido para eles: O sonho nasce na imaginação da criança e a moda aí está para o vestir. Foi, por isso, sob o mote do jogo e da brincadeira que decorreu, em Florença, de 21 e 23 de junho, uma nova edição da Pitti Bimbo, uma das mais importantes feiras de moda infantil do mundo

"Reuniram-se 230 marcas de roupa e acessórios e cerca de 2000 compradores". Foto: Akastudio Collective

Na Fortaleza de Basso, exemplar da arquitetura renascentista na cidade de Dante e Galileu, reuniram-se 230 marcas de roupa e acessórios e cerca de 2000 compradores, 40% vindos de fora de Itália, com a Alemanha, Suiça e Estados Unidos a liderar esta lista (para além das grandes cadeias internacionais como o Harrod's, as francesas Galeries Lafayette e Le Bon Marché ou a italiana Coin). Em jeito de balanço, a organização salienta ainda a procura crescente de mercados emergentes como Brasil, Coreia do Sul e o Médio Oriente ou o regresso de compradores russos e chineses, que tinham estado ausentes nas últimas edições. Também Portugal esteve representado com as marcas Baby Gi, Meia Pata, Phi Clothing, Play UP, Snug e Wedoble (com o apoio do programa 100% Moda Portugal), a que se juntaram a Laranjinha, a Naturapura e a Patachou

"Envolvida com a causa da Moda sustentável, a Pitti Bimbo é uma das mais importantes feiras de moda infantil do mundo". Foto: Akastudio Collective

Para Raffaelo Napoleone, CEO da Pitti Immagine, a agência italiana dedicada à internacionalização da Moda, esta edição da Pitti Bimbo "consolida a tendência de recuperação deste setor após a pandemia da covid-19. A resposta dos compradores vem acentuar a recuperação que já tínhamos notado no verão passado. Também registámos com muita alegria a diversidade de origens quer das marcas, quer dos compradores." De um modo geral, pode-se dizer que todas as marcas representadas (desde as de luxo, como a Dolce & Gabbana ou a Nanan, às mais informais) têm em consideração alguns dos critérios que a Pitti Imagine privilegia: a atenção à sustentabilidade ambiental de materiais e processos de fabrico e o apelo ao consumo consciente (há até uma secção designada I want to be green). 

A moda infantil encontra-se em expansão e esta feira é um ótimo incentivo.
A moda infantil encontra-se em expansão e esta feira é um ótimo incentivo. Foto: Akastudio Collective

Do mesmo modo, há, em todo o certame, uma preocupação evidente em acompanhar as várias facetas da vida de uma criança: a escola, a brincadeira, as atividades ao ar livre e, claro, os momentos mais solenes, em que é permitido brincar aos príncipes e princesas ou aos top-models, como aconteceu no desfile que assinalou os 50 anos da Miniconf, que agrupa várias marcas italianas dedicadas à moda infantil. Para além deste desfile, a Miniconf apresentou ainda uma coleção cápsula de t-shirts, desenvolvida pelos alunos de Design de Moda da Polimoda de Florença, uma das mais importantes escolas de moda do país. Na passarelle, como em eventos mais informais, o profissionalismo de miúdos e graúdos jamais foi beliscado pelo ambiente de festa e brincadeira que animou os dois dias da Feira, com a realização de rallies paper (as chamadas Pitti Olympics) ou desafios como a criação de um look de verão num minuto. Em matéria de animação, foi a marca espanhola Casa Enriquez que reinou, com uma dinâmica e inventividade insuperáveis, tornando-a um dos spots mais concorridos do evento. 

"De um modo geral, pode-se dizer que todas as marcas representadas têm em consideração alguns dos critérios que a Pitti Imagine privilegia: a atenção à sustentabilidade ambiental de materiais e processos de fabrico e o apelo ao consumo consciente". Foto: Akastudio Collective

Muito longe no tempo vai, pois, a época das crianças vestida como miniaturas de adultos. Ou em que o azul para meninos e o cor-de-rosa para meninas era uma regra inquebrável. Como a iconografia e a Pintura do passado nos mostram, as crianças, qualquer que fosse a sua origem social, mal começavam a ter alguma autonomia de movimentos deixavam de ter uma identidade própria - basta recordar, por exemplo, a obra-prima de Velásquez, "Las Meninas", onde a pequena infanta usa um pesado vestido que reproduz o modelo usado pela Rainha, sua mãe.

A diferenciação etária só começaria a fazer-se em meados do século XIX, com a industrialização a coincidir com uma nova consciência de infância (entre as classes alta e média alta, entenda-se, já que as outras eram empurradas para as oficinas ou para o campo mal se equilibravam nas pernas). Foi a época em que se vestiam meninos e meninas ao estilo marinheiro - eles com calção e calças (segundo a idade), elas com saia plissada à altura dos joelhos, mas com meias e sapatos de verniz, num jogo de cores que privilegiava a combinação do azul com o branco. No entanto, olhamos para as fotografias dessas crianças de há 100 anos e imaginamos quão difícil seria subir às árvores ou correr livremente em tais preparos. Só a partir das décadas de 1960 e 1970 é que a moda ganhou esta consciência que, mais do que protótipos de adultos, as crianças são seres humanos dotados de vida e personalidade própria. Com direito a expressar-se também através da Moda. 

"A diferenciação etária só começaria a fazer-se em meados do século XIX, com a industrialização a coincidir com uma nova consciência de infância". Foto: Akastudio Collective
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