Ana Garcia Martins. 'O que me incomoda no ser humano? A chico-espertice!'
Preparámo-nos com a apresentadora e influencer para uma noite especial da TVI. Entre a maquilhagem e os cabelos, conversámos sobre as coisas mais aleatórias.
O caso Bruno de Carvalho tem levado o país a dar atenção especial ao Big Brother Famosos, versão com celebridades deste reality show com pessoas anónimas, uma ideia que nasceu em 1999, às mãos de John de Mol, um executivo da televisão holandesa, que na altura era sócio da empresa Endemol. Entretanto o formato estendeu-se um pouco por todo o mundo, Portugal incluído. A premissa é universal: colocar pessoas dentro de uma casa, ver o que acontece, qual versão do Sims real, e com dramas, discussões e romances à mistura.
O que tem acontecido em Portugal, com o caso de Liliana e Bruno, não é uma novidade propriamente dita, seja dentro do panorama dos reality shows nacionais como nos internacionais. Os portugueses recordar-se-ão do caso de Vitor e Ana Isabel, em 2010, no programa Casa dos Segredos. O concorrente, que era na realidade namorado de Ana Isabel fora da casa sem o assumir lá dentro (era o segredo partilhado pelos dois), acabou por ser expulso por atos de violência psicológica, física e verbal para com a Ana Isabel e Hugo F. Em Portugal, o formato Big Brother fez 20 anos em 2020. Logo nessa primeira edição, de 2000, o concorrente Marco deu um pontapé a Sónia, o que acabou por ditar a expulsão do primeiro. Da sua participação fica o romance com Marta Cardoso, e foi também ele o primeiro a protagonizar uma cena de sexo neste reality show. Em 2015, durante o formato A Casa dos Segredos, as concorrentes Vânia e Cristina também sofreram agressões, por parte de Hugo e Odin, respetivamente, mas essas não tiveram um desfecho no jogo. No Brasil, em 2017, Marcos Harter, na altura com 37 anos, foi expulso da casa por comportamentos semelhantes. O motivo foram as contínuas discussões entre Marcos e a concorrente Emily Araújo, de 20, que envolviam gritos e empurrões, bem como violência psicológica. "As cenas em que Emily reclamou de dor diferentes vezes impressionaram um país já sensível com a temática do assédio sexual", refere o El País Brasil, num artigo datado dessa altura. Em Inglaterra, o Big Brother Famosos (Celebrity Big Brother) também deu que falar com um episódio de Roxanne Pallett e Ryan Thomas, com a concorrente e atriz a dizer que Thomas lhe tinha dado "um murro como um pugilista daria um murro num saco" durante uma luta aparentemente "a brincar". O caso levou a mais de 25 mil queixas à Ofcom, entidade regulamentadora da comunicação no Reino Unido, mesmo depois de Roxanne ter retirado a queixa de violência doméstica que entretanto fizera. Um dos casos mais chocantes, neste caso de abuso sexual, aconteceu em 2017, durante a versão espanhola do Big Brother (Gran Hermano), quando Carlota sofreu uma agressão sexual por parte de José María López, com quem mantinha uma relação dentro da casa quando esta estava inconsciente (tinha bebido álcool, oferecido à casa pela produção). Durante o ocorrido, nenhum dos produtores e assistentes impediu que o concorrente parasse o que estava a fazer, num pretexto de "consolo". No dia seguinte, o concorrente foi expulso e a vítima informada pela produção, no confessionário, do que tinha acontecido. Mais grave: foi-lhe aconselhado, na altura, que não falasse sobre o assunto. Em quase todos os casos vemos um desfecho igual: os concorrentes acabaram por ser expulsos depois destas ações, mesmo que tardiamente. O facto de estarmos perante uma possível relação tóxica entre Liliana de Almeida e Bruno de Carvalho, não a torna menos gritante nem grave, por ser mais difícil de analisar, seja pelas palavras como pelos gestos. No caso português. que se tem prolongado nos últimos dias, a decisão de não expulsar Bruno de Carvalho parece ter sido uma decisiva acha na fogueira que já ardia há alguns dias, sobretudo para reformular a opinião pública sobre aquilo que vale ou não vale dentro de um programa televisivo que nasceu para entreter. É que entretanto passaram 20 anos, que levanta a questão se, também neste formato, não houve evolução nem se aprendeu com o passado. Isto apesar da atualidade estar cada vez mais desperta para casos de violência no namoro, de assédio ou de saúde mental. Aquilo que parece revoltar os portugueses é: não nos tapem os olhos, porque em duas décadas já aprendemos mais do que nos estão a dar. Na era da cancel culture, o que é gritante já nem é o "cancelamento" das personagens envolvidas neste enredo, mas sim a emissão do programa em si. Valerá mesmo tudo para nos entreter? Que mensagem queremos passar, na televisão nacional? Quantas gerações que contribuiram para a mudança das mentalidades dos mais jovens queremos sacrificar? Sobretudo em temas ligados ao amor e aos relacionamentos, não, não vale tudo, muito menos para entreter.
No Brasil, em 2017, Marcos Harter, na altura com 37 anos, foi expulso da casa por comportamentos semelhantes. O motivo foram as contínuas discussões entre Marcos e a concorrente Emily Araújo, de 20, que envolviam gritos e empurrões, bem como violência psicológica. "As cenas em que Emily reclamou de dor diferentes vezes impressionaram um país já sensível com a temática do assédio sexual", refere o El País Brasil, num artigo datado dessa altura.
Em Inglaterra, o Big Brother Famosos (Celebrity Big Brother) também deu que falar com um episódio de Roxanne Pallett e Ryan Thomas, com a concorrente e atriz a dizer que Thomas lhe tinha dado "um murro como um pugilista daria um murro num saco" durante uma luta aparentemente "a brincar". O caso levou a mais de 25 mil queixas à Ofcom, entidade regulamentadora da comunicação no Reino Unido, mesmo depois de Roxanne ter retirado a queixa de violência doméstica que entretanto fizera.
Um dos casos mais chocantes, neste caso de abuso sexual, aconteceu em 2017, durante a versão espanhola do Big Brother (Gran Hermano), quando Carlota sofreu uma agressão sexual por parte de José María López, com quem mantinha uma relação dentro da casa quando esta estava inconsciente (tinha bebido álcool, oferecido à casa pela produção). Durante o ocorrido, nenhum dos produtores e assistentes impediu que o concorrente parasse o que estava a fazer, num pretexto de "consolo". No dia seguinte, o concorrente foi expulso e a vítima informada pela produção, no confessionário, do que tinha acontecido. Mais grave: foi-lhe aconselhado, na altura, que não falasse sobre o assunto.
Em quase todos os casos vemos um desfecho igual: os concorrentes acabaram por ser expulsos depois destas ações, mesmo que tardiamente. O facto de estarmos perante uma possível relação tóxica entre Liliana de Almeida e Bruno de Carvalho, não a torna menos gritante nem grave, por ser mais difícil de analisar, seja pelas palavras como pelos gestos.
No caso português. que se tem prolongado nos últimos dias, a decisão de não expulsar Bruno de Carvalho parece ter sido uma decisiva acha na fogueira que já ardia há alguns dias, sobretudo para reformular a opinião pública sobre aquilo que vale ou não vale dentro de um programa televisivo que nasceu para entreter. É que entretanto passaram 20 anos, que levanta a questão se, também neste formato, não houve evolução nem se aprendeu com o passado. Isto apesar da atualidade estar cada vez mais desperta para casos de violência no namoro, de assédio ou de saúde mental. Aquilo que parece revoltar os portugueses é: não nos tapem os olhos, porque em duas décadas já aprendemos mais do que nos estão a dar.
Na era da cancel culture, o que é gritante já nem é o "cancelamento" das personagens envolvidas neste enredo, mas sim a emissão do programa em si. Valerá mesmo tudo para nos entreter? Que mensagem queremos passar, na televisão nacional? Quantas gerações que contribuiram para a mudança das mentalidades dos mais jovens queremos sacrificar? Sobretudo em temas ligados ao amor e aos relacionamentos, não, não vale tudo, muito menos para entreter.