Testemunhos de mulheres que namoram com homens mais novos

Apesar de ser menos comum, há cada vez mais casais em que a mulher é mais velha do que o homem. Desafiando estereótipos que ainda possam existir, eles mostram que o amor não tem idade.

Foto: Pascal Le Segretain/amfAR/Getty Images for amfAR
20 de fevereiro de 2025 às 15:59 Júlia Serrão

Gisele Bündchen (43 anos) e Joaquim Valente (35), Cameron Diaz (52) e Benji Madden (45), Julianne Moore (64) e Bart Freundlich (54), ou Heidi Klum (51) e Tom Kaulitz (35). As chamadas celebridades do cinema e da moda internacional continuam a dar visibilidade a um facto que também está a aumentar entre nós: os casais em que as mulheres são mais velhas do que os homens. Três contam as suas histórias.

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Conheceram-se em casa de amigos comuns e "foi atração mútua à primeira vista".

Mas durante quase um ano, Aurora (nome fictício) tentou "ignorar o que sentia" por Pedro (nome fictício). Não por ele ser mais novo do que ela dez anos, mas por se encontrarem em "fases diferentes da vida", frisa. Ela já era casada e tinha um filho pequeno, ele era o solteiro típico de 26 anos a atravessar a fase natural das "saídas com os amigos e muitas noites de copos". Passaram-se quinze anos. Hoje Aurora tem 51, Pedro 41, e têm dois filhos de 11 e 7.

A equidade de poder define a relação de catorze anos. Ela toma decisões em algumas áreas, ele em outras, e em algumas tomam decisões conjuntas. Às vezes, também têm "muitas discussões" para chegar a esse equilíbro. "Temos os dois opiniões fortes e, portanto, nenhum entrega sem discussão e negociação", observa.

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A diferença de dez anos não foi um obstáculo à relação. Também não sentiram que tivesse relevância para a família e os amigos à volta, ou no círculo social próximo – ela trabalha na área de artes visuais. "Provavelmente tem a ver com o meio em que nos movemos. As pessoas com que nos relacionamos, tal como nós não têm preconceitos."

Também nunca tiveram de lidar com olhares curiosos na rua, nem no início nem agora. Não sabe se por haver cada vez mais casais como eles, ou se por ela não parecer ter a idade que tem. "As pessoas dizem que não se nota a diferença, e eu gosto de pensar que não… Mas é capaz de vir a notar-se um dia", nota, explicando que se não pintasse o cabelo "seria mais visível". Seja como for, diz que o "cliché clássico" de poder ser trocada por uma mulher mais nova não a "assombra".

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Seguindo a tendência atual de nos sentirmos bonitos e jovens durante mais tempo, tem cuidados especiais com o corpo e a imagem em geral. Há algum tempo que a prática de exercício físico em ginásio faz parte da sua rotina diária, e agora também faz aulas de ioga e de dança.

Ainda assim, conta que não está a ser fácil gerir as alterações físicas, psicológicas e emocionais decorrentes da menopausa. "Num dia dói-me o ombro, no outro a anca, o joelho. Num dia estou bem, no outro estou deprimida.  É uma avalanche de coisas a acontecerem-me ao lado de um homem que faz imenso desporto e está sempre impecável." Admite que, às vezes, pensa que se ele fosse da idade dela ou mais velho "se calhar estava mais familiarizado" com a questão. "Eu devo ser a primeira mulher na menopausa com que ele se relaciona, e isso coloca-nos em sítios diferentes. Exige um bocadinho mais de esforço, compreensão e apoio da parte dele. E que eu seja capaz de comunicar-lhe as minhas necessidades. Esse é o nosso grande desafio, no momento."

"Eu quero é viver o hoje, amanhã logo se vê"

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Patrícia (nome fictício), 56 anos, Henrique (nome fictício), 46, estão juntos há dezasseis anos, e são pais de um menino de 10 e uma menina de 5. Conheceram-se na internet através de um jogo online, e meses depois foram apresentados por um amigo comum.

"Percebi imediatamente que tínhamos personalidades muito diferentes… e que ele era muito infantil", diz a rir, para acrescentar que foi a "primeira relação séria" que ele teve. Patrícia já era divorciada e tinha dois filhos, sendo que a mais nova vivia com ela.

Inicialmente, ela não o via como possível namorado. E ele dizia-se apaixonado por uma amiga. O temperamento de ambos também tendia a chocar, pois ele é "muito metódico e certinho" e ela é um espírito "livre e aventureiro".

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Mas em momento algum a diferença de idade foi um obstáculo ao relacionamento, visto não terem "ideias feitas a esse respeito". A relação foi aceite por os familiares de ambos e os amigos, sendo que no grupo "mais chegado até há outro casal" em que a mulher é mais velha do que o marido.

"Na altura não se notava fisicamente a diferença. Agora nota-se um pouco, embora as pessoas digam que não", comenta Patrícia, referindo-se aos cabelos brancos que surgiram e vai pintando, e às rugas que vão aparecendo. "Ele até tem mais cabelos brancos, mas já se sabe o que dizem disso: nos homens é charme, nas mulheres é velhice", reclama.

Também nunca tiveram de suportar o olhar crítico na rua, ainda que algumas pessoas com que Patrícia se relacionava profissionalmente – trabalha na área da estética – "estranhassem": "Diziam-me ‘são dez anos, você vai envelhecer mais depressa’. A minha resposta foi sempre a mesma: eu quero é viver o hoje, amanhã logo se vê." No entanto, admite que ao princípio tinha ciúmes.

Ainda que reconheça algumas dificuldades em gerirem o poder dentro e fora da relação, "ajustando aqui e ali", vão encontrando o equilíbrio necessário para continuar. "Ele cresceu muito, mas eu também". Depois partilham muitas "paixões", nomeadamente as viagens, as exposições e outros eventos culturais.

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Diz que uma depressão tratada com acompanhamento psicológico deixou-a mais forte. Agora sabe que o estado de espirito influencia a perceção que tem das coisas à sua volta, por isso sempre que necessário para para se reorganizar.

Aconteceu depois que o pai morreu, sendo que na altura entrava na menopausa. Começou a andar triste e deprimida. "É uma fase que pode ser muito complicada, com muitas alterações hormonais que interferem também na nossa sexualidade. É um período muito desafiante porque nem sempre temos disposição para sexo, e se o companheiro não conseguir compreender pode ser um problema."

"Quando me perguntam como consegui engravidar, respondo que arranjei um namorado mais novo"

Sofia Silva, consultora de comunicação na área da saúde, e Ricardo, são um casal há sete anos. Os mesmos que os separam em idade. Hoje ela tem 44, ele 37. Conheceram-se num bar-discoteca do Bairro Alto, em Lisboa, onde ela entrou para "beber um copo" com o grupo de amigas dos jantares mensais.

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Sofia encantou-se de imediato por Ricardo, e Ricardo encantou-se por Sofia. "Foi uma coisa muito imediata. Houve logo uma atração instantânea recíproca, o que foi muito giro", conta, explicando que trocaram números de telemóvel, e no dia seguinte já estavam a falar pelo WhatsApp. "Duas semanas depois estávamos a namorar, passávamos a maior parte dos fins de semana juntos, e quase um ano depois ele veio viver definitivamente comigo."

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Quando se conheceram "notava-se um bocadinho fisicamente" que ele era mais novo. "Mas de cabeça era uma pessoa madura, que partilhava os meus valores, transmitia-me muita segurança. Ele procurava um relacionamento sério, e eu também procurava estabilidade." Continua a não se notar os anos que os separam, pois ela acha, e dizem, que parece mais nova do que é. "Não aparento os 45 anos, embora já tenha as minhas rugas e olheiras. Acho que tem a ver com a nossa geração, somos mais leves que os nossos pais".  Tão pouco tiveram ou têm de lidar com preconceitos ou o espanto alheio.

Os sete anos que os separam nunca foi um impedimento para a relação, que resultou no nascimento de V, a filha de 6 anos. A diferença de idades só foi discutida quando "pensámos engravidar", afirma. E foi ela que ‘puxou’ o assunto, pois tendo vários problemas de saúde não era certo que conseguissem conceber. Mas se era para tentar aquele era o tempo certo, antes que "fosse mais velha".

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Uma vez que tinha sido diagnosticada com cinquenta por cento de infertilidade entre outras "complicações", nunca projetou ser mãe. Mas o companheiro queria muito ser pai e ela deixou-se maravilhar pela ideia. "Há médicos que me conhecem há muitos anos que brincam comigo perguntando como consegui engravidar, e eu respondo que arranjei um namorado mais novo", conta entre gargalhadas.

Sofia diz que têm "uma dinâmica de equipa" e os desejos e necessidades são quase sempre os mesmos. Ele trabalha por turnos, ela tem alguns clientes internacionais pelo que às vezes está fora do país. Acontece muitas vezes um deles ter de ficar sozinho com a filha. "Vamo-nos organizando muito bem, que é a única forma que também faz sentido para nós." Em casa não há tarefas masculinas e femininas, e ele é muito interventivo. "O desafio é termos um bocadinho mais tempo para nós enquanto casal e como família", diz, esclarecendo que com a filha pequena a precisar de atenção dos pais e ele a trabalhar por turnos fica um pouco complicado alcançar esse objetivo no momento.

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