"Deixa Estar". O livro sobre o encolher de ombros que pode mudar a sua vida

Todos nós estamos rodeados de pessoas desagradáveis, que dizem e fazem coisas que nos irritam. Muitas são só idiotas, mas a maioria faz de propósito. Podemos cortar relações com algumas, mas não com todas. Que fazer, então? Mel Robbins, a famosa autora norte-americana, tem uma solução. E é genial.

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27 de maio de 2025 às 12:11 Madalena Haderer

Já dizia Tolstoi e tinha razão. As famílias podem ser um inferno na Terra. (Não era bem isto que ele dizia, mas subentende-se.) De amigos que não nos respeitam, podemos afastar-nos. De maridos, namorados e afins que nos cilindram como se fossemos estradas, idem. Mas e da mãe, ou do pai, ou da irmã? (Já para não falar nas sogras!) O que fazer quando as pessoas que mais nos deviam apoiar, fazem gala de ser desagradáveis, ofensivas, opressivas, autoritárias, dominadoras, controladoras, narcisistas, egocêntricas ou, enfim, como se diz agora, tóxicas? 

O Dia da Mãe não foi assim há tanto tempo. Talvez estas perguntas que parecem retóricas, mas não são – fique desse lado que temos respostas para si –, estejam a provocar-lhe flashbacks e calafrios. Ou talvez o verão se esteja a aproximar com promessas de festas de aniversário e casamentos a que adoraria não ter de comparecer para não ter de lidar com determinada pessoa (ou pessoas). 

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Muitos psicólogos de algibeira – aqueles que vivem dentro do Instagram –, dir-lhe-ão que o melhor que tem a fazer é cortar relações. Arrancar aquela pessoa da sua vida como se fosse uma erva daninha – o que, convenhamos, em muitos casos, é mesmo isso que é. Mas muitos de nós, seja por que razão for – da idiotice ao altruísmo, passando pelo masoquismo e sem esquecer os sentimentos de culpa –, não queremos cortar relações. Só queremos que a pessoa se porte bem ou, pelo menos, melhor. Como uma pessoa normal, já ajudava. Só que é impossível controlar o comportamento dos outros. A única coisa que podemos (tentar) controlar é o nosso próprio comportamento e as nossas reações ao comportamento dos outros – já dizia Marco Aurélio. (Claramente, o imperador romano nunca privou com uma pessoa que eu cá sei.)

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É possível que, tal como milhões de outras pessoas pelo mundo fora, ande à procura de soluções para este problema. Pois, deixe-me dizer-lhe que a mais pragmática e eficiente com que me deparei nos últimos tempos me chegou pela mão de Mel Robbins e do seu livro Deixa Estar, que acaba de ser publicado em Portugal e que na versão original se chama The Let Them Theory. Mel Robbins, diz-nos a lombada (e é verdade), "é uma das autoras mais influentes da atualidade e uma referência mundial em desenvolvimento pessoal, mudança de comportamento e de mentalidade". 

Robbins tem uma história de vida particularmente curiosa e inspiradora (e eu não sou pessoa de utilizar este adjetivo com leviandade). Há cerca de 15 anos, a sua vida estava a ir pelo cano abaixo. Tinha sido despedida, o negócio de restauração do marido estava à beira da falência, discutiam, o casamento estava por um fio, tinham dificuldade em pôr comida na mesa e em criar os três filhos, tinham uma dívida de 800 mil dólares e Robbins bebia demasiado, para anestesiar o terror em que vivia. Sabia que o primeiro passo para sair do buraco era procurar emprego, mas sentia-se paralisada. E, todos os dias, quando o despertador tocava, desligava-o e enterrava-se mais fundo nos cobertores, incapaz de enfrentar a vida.

Um dia estava a ver um documentário sobre foguetões e a contagem decrescente para descolagem chamou-lhe a atenção: 5-4-3-2-1. Perguntou-se se resultaria fazer uma contagem decrescente para saltar da cama no dia seguinte. Resultou. E depois começou a fazer contagens decrescentes cada vez que lhe passava pela cabeça fazer uma coisa que sabia que tinha de fazer, mas que evitava. Resultou sempre e esta atitude transformou a sua vida num foguetão – um foguetão em câmara lenta que do buraco ao sucesso mundial ainda levou uns bons 10 anos, mas, ainda assim, foi sempre a subir.

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O que Mel Robbins fez a seguir – e que a maior parte das pessoas não faria – foi investigar por que razão isto estava a funcionar. Leu centenas de estudos, entrevistou cientistas, neurocientistas, psicólogos, psiquiatras e afins e descobriu que há uma explicação científica para isto. Fez uma TEDTalk sobre as suas descobertas, escreveu um livro chamado The Five Second Rule, lançou um podcast, e o resto é história.

Mas já chega de contexto. Avancemos, então, para a teoria do Deixa Estar, que a autora diz ter a ver com liberdade: "Duas palavras tão simples – Deixa Estar – vão libertá-lo do fardo de tentar gerir as outras pessoas. Quando pára de se preocupar com o que os outros pensam, dizem ou fazem, tem finalmente energia para se focar na sua própria vida. Deixa de reagir e começa a viver." Para quem torce o nariz achando que isto é auto-ajuda de trazer por casa, Mel responde: "Para escrever este livro, falei com muitos dos maiores especialistas mundiais em psicologia, neurociência, ciência comportamental, relações, stress e felicidade." E no fim do livro tem 14 páginas de referências bibliográficas.

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Na prática, este Deixa Estar promove um afastamento emocional entre si e a pessoa que está em vias de lhe causar um ataque de nervos. "Cria uma distância mental entre as suas emoções e a situação em questão, observando o que está a acontecer sem se deixar consumir por isso. O resultado? Mantém-se calmo e lúcido, capaz de controlar o que faz." E como é que funciona? "Imagine que o seu pai faz outro comentário sobre as suas escolhas de vida e isso atinge-o em cheio. Em vez de deixar que ele lhe estrague o dia, pense apenas Deixa Estar. Deixe-o ter as opiniões dele. Felizmente, essas opiniões não têm o poder de mudar quem você é, o que conseguiu alcançar, ou o seu direito de tomar decisões que o fazem feliz."

Parece demasiado simples para resultar, mas a Mel garante que resulta. "Duas simples palavras – Deixa Estar – mudaram tudo. Era como se eu não me importasse e me sentisse estranhamente indiferente a tudo. As coisas que costumavam incomodar-me… já não me incomodavam. [...] Quanto mais dizia Deixa Estar, mais me apercebia de que muitas das coisas que me apoquentavam não valiam o meu tempo ou a minha atenção. E nem toda a gente merecia a minha energia. Foi libertador."

A propósito da preocupação que aqui nos trouxe, Mel Robbins escreveu um capítulo particularmente certeiro: "Quando os adultos fazem birras". É lá que estão pérolas como esta: "A verdade é que os adultos são tão sensíveis como crianças e não é da sua responsabilidade gerir as emoções dos outros. [...] Desde chantagem emocional, passando pelo medo de desiludir, preocupação com a reação de alguém ou se é 'o momento certo', até andar com pezinhos de lã para não chatear ninguém, todas estas coisas permitem que o comportamento e as reações dos outros lhe suguem a energia. Mas é mais do que isso. O comportamento passivo-agressivo, a chantagem emocional e as explosões emotivas dessas pessoas condicionam as suas decisões. É por isso que diz 'sim' quando na verdade queria dizer 'não', que cede quando deveria manter-se firme. E é por isso que é difícil para si estabelecer limites. É por isso que tem mil e um cuidados quando certas pessoas estão de mau humor. [...] Por que é que cabe sempre a si adaptar-se aos outros? Por que é que assume a responsabilidade pela felicidade de outra pessoa – à custa da sua própria felicidade?"

Se reconhece este cenário e está farto, este livro pode ajudar. O Deixa Estar, porém, é só um lado da moeda, o reverso da moeda é Deixa-me: "A fonte do seu poder não está em gerir as pessoas, está na sua reação. [...] Quando dizemos Deixa Estar, tomamos a decisão consciente de não deixar que o comportamento dos outros nos incomode. Quando dizemos Deixa-me, assumimos a responsabilidade pelo que vamos fazer ou dizer a seguir."

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Portanto, sempre que a sua mãe vai a sua casa faz pouco dos seus dotes culinários? Deixa Estar, ela que use as batatas mal cozidas para empurrar as opiniões goela abaixo. Se se engasgar, pode sempre beber algum daquele vinho que sabe a rolha ou enfiar umas colheradas de Baba de Camelo que fica sempre com a consistência errada. Mas, de seguida, socorra-se do Deixa-me. Por exemplo: "Deixa-me parar de organizar jantares cá em casa" ou "Deixa-me ter uma conversa franca sobre como os comentários dela me fazem sentir" ou ainda "Deixa-me mudar de país e não dizer nada a ninguém". De qualquer das formas, o poder de mudar o que está mal para si está nas suas mãos – não se esqueça disso. Os outros não vão mudar nada porque, para eles, está tudo ótimo.

Deixa Estar, da autoria de Mel Robbins, foi publicado em Portugal pela Albatroz, uma chancela da Porto Editora, custa 17,29 euros e está à venda nas livrarias do costume.

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