Tâmara Castelo: "A repressão emocional e os traumas refletem-se no corpo – seja em dores, tensões ou doenças crónicas"
A especialista em saúde emocional lança "Cura Emocional", um guia para quem deseja romper com padrões tóxicos e compreender a ligação entre as emoções e o corpo. Numa conversa com a Máxima, a autora explica como o autoconhecimento pode ser a chave para uma vida mais equilibrada e consciente.

Tâmara Castelo tem dedicado a vida ao estudo da saúde emocional e física, ajudando inúmeras pessoas a compreenderem a relação entre as emoções e o corpo. No seu mais recente livro, Cura Emocional (Planeta Editora), convida-nos a embarcar numa jornada de autoconhecimento, rompendo com padrões tóxicos e reconhecendo a influência dos traumas na nossa saúde. Através de uma abordagem sensível e prática, a autora apresenta ferramentas essenciais para nos libertarmos das amarras emocionais que nos limitam, abordando temas como a importância da criança interior, a influência da alimentação no bem-estar emocional e a necessidade de reaprender a respirar, perdoar e sentir prazer. Nesta conversa que a autora teve com a Máxima, exploramos os ensinamentos deste livro transformador e como podemos aplicá-los na nossa vida para viver de forma mais consciente e equilibrada.


O que a levou a escrever este livro? Houve um momento decisivo que a fez perceber que precisava de partilhar este conhecimento?
O que me levou a escrever este livro foi a necessidade de partilhar um conhecimento que transforma vidas. Ao longo dos anos, na minha prática clínica, fui testemunha de como as emoções reprimidas, os traumas e os padrões inconscientes afetam a saúde física e emocional das pessoas. Houve um momento em que percebi que este conhecimento não podia ficar restrito às consultas – precisava de chegar a mais pessoas. Escrever Cura Emocional foi a forma de oferecer um caminho para quem sente que carrega dores que não entende ou que repete padrões dos quais não consegue sair.
No livro, fala da importância de compreender a nossa criança interior. Como é que este entendimento pode impactar a nossa saúde emocional e física?

No livro, falo da importância de compreender a nossa criança interior porque é ela que dita grande parte das nossas respostas emocionais na vida adulta. Quando não olhamos para as feridas dessa fase, reagimos no presente com base nelas, sem perceber. Ao entender e cuidar dessa parte de nós, deixamos de agir de forma automática e começamos a escolher, conscientemente, o que realmente queremos para a nossa vida. Isso tem um impacto profundo na saúde, porque a repressão emocional e os traumas refletem-se no corpo – seja em dores, tensões ou doenças crónicas.
Os padrões tóxicos e os ciclos repetitivos são desafios para muitas pessoas. Qual é o primeiro passo para quem quer romper com esses padrões, mas sente que está preso neles?
Os padrões tóxicos e os ciclos repetitivos são um grande desafio porque, muitas vezes, nem nos apercebemos de que estamos presos neles. O primeiro passo para romper com esses padrões é reconhecê-los. Observar com honestidade o que se repete na nossa vida – nas relações, no trabalho, nas emoções. Depois, é preciso trazer consciência e responsabilidade: perceber que, mesmo que as dores tenham origem no passado, agora temos o poder de escolher diferente. Pequenos passos, pequenas mudanças de comportamento, começam a abrir espaço para algo novo.

Refere que o trabalho de olhar para dentro é duro e difícil. Como aconselha alguém a manter a motivação e a coragem para continuar essa jornada, mesmo nos momentos mais desafiantes?
Olhar para dentro é um trabalho duro porque enfrentamos o que evitámos durante anos. E, muitas vezes, quando começamos a mergulhar, surgem resistências, medos, cansaço. O que eu aconselho é que se lembrem de que cada pequeno avanço conta. E que a cura não é linear – há dias de grande clareza e outros de dúvida, e está tudo certo. Criar práticas diárias que tragam suporte, como a respiração, a escrita terapêutica, a conexão com a natureza, ajuda a manter a motivação. E, acima de tudo, é fundamental pedir ajuda quando necessário.
Que papel desempenha a alimentação na nossa cura emocional? Pode dar um exemplo de como a forma como comemos influencia as nossas emoções e saúde mental?

O que comemos influencia diretamente os nossos neurotransmissores, as nossas hormonas e, consequentemente, as nossas emoções. Por exemplo, quando consumimos muitos alimentos inflamatórios, como açúcares refinados, laticínios em excesso ou produtos ultraprocessados, isso afeta o nosso intestino, que é onde grande parte da serotonina (o neurotransmissor do bem-estar) é produzida. A falta de certos nutrientes pode aumentar a ansiedade, a irritabilidade e até levar à depressão. Comer de forma consciente, escolhendo alimentos que nutrem o corpo, é uma forma de autocuidado.
No livro, fala da importância da respiração, do perdão e do prazer. Como é que podemos integrar estas práticas no nosso dia a dia de forma simples e eficaz?
São fundamentais porque são ferramentas poderosas de libertação emocional. A respiração ajuda-nos a regular o sistema nervoso, saindo do estado de alerta constante. O perdão, seja a nós mesmos ou aos outros, liberta-nos do peso do passado. E o prazer – não apenas o sexual, mas o prazer de viver, de saborear, de sentir – é um dos caminhos mais rápidos para a cura. Para integrar estas práticas no dia a dia, basta começar com pequenos momentos: uma respiração consciente antes de reagir a algo, um exercício de gratidão, escolher fazer algo que nos dá prazer sem culpa.

Muitas vezes, procuramos respostas externas para as nossas dores emocionais. Como podemos aprender a confiar mais na nossa própria intuição e reconhecer o que o nosso corpo nos está a dizer?
Muitas vezes, procuramos respostas externas porque fomos ensinados a não confiar em nós. Mas o corpo fala sempre – através de sintomas, sensações, intuições. Para aprender a confiar na intuição, é preciso criar momentos de silêncio, de escuta. A meditação, a escrita intuitiva e a simples prática de colocar a mão no peito e perguntar "o que estou a sentir?" são formas de começar a reconectar-se com essa voz interior.
Existem traumas que parecem demasiado profundos ou difíceis de enfrentar. Para alguém que sente medo de revisitar essas feridas, qual seria o seu conselho?

Existem traumas que parecem demasiado profundos para enfrentar, e esse medo é natural. Para quem sente receio, o meu conselho é: vá com gentileza. Não é preciso abrir tudo de uma vez. O processo de cura não tem de ser uma avalanche – pode ser um fio de luz a entrar devagarinho. E procurar um terapeuta, um guia, alguém que possa apoiar, pode tornar essa jornada mais segura.
Depois de escrever Cura Emocional, qual foi o maior ensinamento que retirou desta experiência? E que mensagem principal gostaria que os leitores levassem consigo após a leitura do livro?
Depois de escrever Cura Emocional, percebi ainda mais a profundidade do que partilho. Escrever foi, para mim, um processo de cura também. E a mensagem principal que quero deixar aos leitores é esta: a cura está dentro de cada um de nós. Não é um destino, é um caminho. E quanto mais nos permitimos sentir, mais nos permitimos viver.
