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O que é que Paredes de Coura tem?

Fora de convenções e caixas, o festival Vodafone Paredes de Coura voltou a fazer-se notar pela diferença – que esteve nas palavras de liberdade de Patti Smith, na bonita nostalgia dos New Order ou no magnetismo dos The National. A Máxima esteve lá e captou a energia do que aconteceu neste belo anfiteatro natural.

18 de agosto de 2019 às 19:52 Máxima

O tempo está longe de ser apetecível, para o mês das férias e também dos festivais, mas o sol vai espreitando através das árvores e acaba por ficar até ao último dia - que termina de forma "apocalíptica", com chuva durante a madrugada. Estamos num cenário quase místico, megalómano e autêntico, onde a Natureza se alia na perfeição à música e à boa disposição. Há uma sensação de bem-estar que nos invade, nos contagia e nos convida a dançar de forma permanente, embalados pelos ritmos que chegam de todo o lado, seja nas margens da praia fluvial do Tabuão como no anfiteatro natural do palco principal. Um embalo que já só termina ao fim de quatros longos (ou curtos, diríamos) dias. Estamos no Festival Vodafone de Paredes de Coura, cuja 27ª edição – para não fugir à regra e como vem sendo habitual há quase três décadas – se tornou eterna.

Um festival com o potencial de um verdadeiro paraíso para os amantes da música, seja pelo alinhamento brilhante, diferenciador e disruptivo, como pelos espaços verdes e naturais onde se insere, que permitem mergulhos dados no rio do cimo das árvores, uma leitura de um livro nas margens, "jams" entre amigos, espaços para descanso e restauração. O Vodafone Paredes de Coura é sem dúvida o festival para viver e sentir, porque, como proferiu Patti Smith, durante o seu concerto no último dia, "o futuro é agora".

Marcada por a vinda de emblemáticas bandas que marcaram as últimas décadas da música de forma incontornável, esta edição superou as expectativas dos mais nostálgicos e, certamente, surpreendeu os menos interessados. Tenha sido pela magnetizante atuação dos norte-americanos The National, no primeiro dia, seja pela bonita homenagem de New Order à banda que os fez renascer – Joy Division – no segundo, pelo surpreendente e muito aplaudido concerto de Spiritualized, a banda do vocalista e guitarrista Jason Pierce, como pelas palavras de paz, amor, liberdade e igualdade (literalmente) evocadas por Patti Smith (palavras essas que, no concerto que se lhe seguiu, diríamos, voaram com o vento, devido à escolha um pouco infeliz da vinda do rapper Freddie Gribs – acusado e condenado por violar uma mulher na Áustria, em 2016) ou pela forma como a banda inglesa Suede conquistou de forma carismática uma multidão já cansada, diríamos, naquele que seria o último concerto do festival no palco principal.

Espelhando a sua faceta inovadora, no Vodafone Paredes de Coura houve palco para bandas com sonoridades completamente novas e diferenciadoras, como os brasileiros Boogarins, oriundos da reconhecida cultura musical da cidade de Goiânia, os portugueses Sensible Soccers ou ainda o neozelandês Connan Mockasin, que mostrou o que é um verdadeiro gig num festival. Nas horas que antecederam os concertos no recinto principal, foi também possível desfrutar da presença de coletivos de jazz no ciclo Jazz na Relva, que recebeu talentos portugueses emergentes como Plastic People, The Rite of Trio, Mazarin ou Madrepaz.

Nas pausas entre concertos, de destacar os debates "Vozes na Escrita", que contaram com a presença de Valter Hugo Mãe, que em muito elucidou sobre o estado atual da literatura portuguesa e sobre o mercado literário, desmistificando ambos os temas. Um festival que é também uma ode à cultura, o Vodafone Paredes estará de volta a 19, 20, 21 e 22 de agosto de 2020. Até lá, ecoam as diferentes sonoridades desta edição que, mais uma vez, elevam este festival a um estatuto indiscutivelmente maior, no que à Música diz respeito.

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