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Natalie Prass, a cantora que respondeu a Trump com um disco

“Estava desesperada por criar ‘um hino’ com o qual pudéssemos ‘marchar’.” Depois de subir ao palco do festival Super Bock em Stock, Natalie Prass falou à Máxima do disco Future and The Past.

Natalie Prass, Short Court Style
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    Natalie Prass, Short Court Style
    28 de novembro de 2018 às 16:46 Rita Silva Avelar

    Como já revelou em entrevistas, a cantora de 32 anos, que nasceu em Richmond, Virginia, nem sempre viu o seu talento reconhecido. Na altura em que nenhuma editora queria materializar as suas músicas num álbum, pagou a um amigo para o fazer e fez-se à "estrada". Mais tarde, como conta à Máxima ao telefone, de Virginia, Prass recebeu vários telefonemas a pedir para se associar às editoras que antes a tinham recusado – disse-lhes que não. Talvez seja fruto dessa jornada a determinação e a força que lhe lemos na voz. De personalidade forte e ideias fixas, Natalie Prass respondeu a Donald Trump não com tweet, mas com um disco inteiro. Chama-se Future and The Past e o single Sisters é um hino à irmandade, à solidariedade entre as mulheres, um apelo à união em tempos difíceis.

    Até se consagrar como artista percorreu um longo caminho. Como começou tudo?

    Eu escrevi a minha primeira canção na primeira classe quando fundei uma banda com as minhas vizinhas. E continuo a achar que tudo aconteceu muito rápido, até há bem pouco tempo não me conseguia sustentar como artista, como cantora. Foi algo que sempre sonhei fazer. Fazer da música uma profissão, para mim, continua a ser um mistério, porque nos Estados Unidos não existe nenhum apoio por parte do Governo aos artistas, à Arte. Tudo é uma grande corrida, um grande jogo. Eu sabia que era possível, mas no meu caso levei imenso tempo a conseguir alinhar tudo. É preciso mesmo querer-se ser artista, é muito competitivo.

    O que ouviu na infância, enquanto crescia?

    A minha mãe ouvia muito Natalie Cole e Barbra Streisend, por isso sempre cresci rodeada de boas músicas. Ao longo dos anos, estes géneros criaram em mim um "sentido de melodia" muito forte. Acho que foi por essa razão que tanto no liceu como na universidade a sensação de entender a música ao compô-la, de estar dentro dela, já existia em mim.

    Quando foi que percebeu que era nesta indústria que queria estar?

    Eu estou sempre a aprender, sinto que estou num percurso sem fim, porque há sempre mais para aprender. Continuo sem entender, hoje, a dimensão que a música tem em mim.

    O seu primeiro álbum, Natalie Prass, saiu em 2015. Quer contar como foi compô-lo?

    Eu gravei esse álbum sem praticamente dinheiro nenhum. Toda a gente me estava a fazer favores. Procurámos editoras, ninguém o queria. Então decidimos publicar o álbum por nós [a banda de Natalie] procurando um agente que aceitasse um orçamento muito baixo. Ele [Matthew E. White's, da editora Spacebomb, de Richmond] fez-nos um enorme favor. Logo de seguida, uma série de pessoas na área da crítica musical falaram positivamente do disco, especialmente a Pitchwork, que acabou por ajudar a colocar o meu disco no mapa. A partir daí várias editoras me escreveram a pedir desculpa por não terem aceitado [gravar o disco].

    Quando escreveu o single Sisters, do novo álbum The Future And The Past, estava zangada?

    Estava furiosa [risos] e confusa! Eu precisava, e estava desesperada por criar "um hino" e queria que fosse uma música com a qual pudéssemos "marchar". Comecei com uma batida de bateria compassada por causa disso. Eu sabia que queria falar sobre os problemas sociais do nosso país, há uma longa lista deles… Mas os maiores são relacionados com as licenças de maternidade, por exemplo, sobre violência doméstica, sobre desigualdade salarial e assédio no trabalho. Queria falar sobre tudo isso (…) ao mesmo tempo que unia todas as mulheres. O que é grandioso nessa música é que foi escrita há precisamente dois anos e só saiu no verão passado. É uma música que volta recorrentemente, apesar de ter sido revelada há meses com o álbum. Eu terminei o álbum maioritariamente depois da eleição de Donald Trump. Quando Christine Blasey Ford testemunhou contra o juiz Brett Kavanaugh, recebi mensagens de várias mulheres a expressarem o quanto aquela música [Sisters] significou para elas.

    Quão importante é as mulheres apoiarem-se umas às outras dentro da própria indústria?

    Está a acontecer mais do que nunca. Hoje, com 32 anos, recordo como era tudo quando comecei a cantar. Acho que já vi, e vivi, várias etapas de como é ser-se mulher nesta indústria [musical]. No início sentia-me sozinha na minha cidade, era das poucas mulheres em bandas de rock, e só mais tarde entendi quão competitivo tudo é, ao começar a conhecer outras mulheres que estavam a fazer o mesmo que eu. Há uma espécie de cultura na nossa sociedade em comparar pessoas, artistas. Sempre fui comparada a outras pessoas e ouvia comentários inúteis como "ah, tu és tão melhor que ela" quando eu não queria ouvir nada disso.

    O que é que já lhe disseram de mais grave, no que respeita à discriminação de género?

    Lembro-me de ouvir frases como: "Não gosto de ouvir artistas femininas; não gosto de ouvir mulheres que cantam." Ouvi isto várias vezes à medida que crescia, em criança e adulta. Cresci a pensar, de forma ingénua, que os homens eram de facto melhores. Isso foi crescendo em mim, e eu não tinha nenhum tipo de suporte dos meus pais, na verdade eles nunca entenderam muito bem o meu propósito na música. Mas está tudo bem, apenas tive de provar o meu valor sozinha. Agora, mais do que nunca, vejo mudanças positivas, oiço menos comparações, oiço mais mulheres na rádio, sei que há mais artistas femininas a serem escolhidas para os alinhamentos de concertos, mais presentes em festivais. Fico feliz quando vejo artistas novas a emergir, talentosas e seguras, a arrasar nas baterias, nas guitarras, no piano. Porque foi algo que nunca vi acontecer comigo.

    Este novo álbum tem letras fortes, mas um mood feliz. O que é que quer dizer ao mundo com The Future And The Past?

    O título do álbum é parte da letra da música Hot for The Mountain, umas das minhas preferidas porque é um exemplo perfeito do que me representa como artista. Personifica tudo aquilo que eu sou, desde os meus gostos às minhas influências, ao que estou a tentar fazer. É também uma canção que expressa aquilo em que eu acredito e mostra que nunca havemos de estar sozinhas, que há pessoas tal como nós, a remar no mesmo sentido. Com este álbum senti que personificava o meu som, as minhas influências (…), acima de tudo não estou a tentar replicar nada, estou, sim, a fazer algo entre o moderno e o clássico à minha imagem. Sou eu mesma. Por exemplo, visto-me de forma retro futurista.

    O álbum é um grito de liberdade contra a eleição de Trump?

    Quando escrevi este álbum sentia-me muito no presente, nunca antes me tinha sentido tanto no tempo real da minha vida. Comecei a ler sobre o passado, a ler sobre História, a ver documentários, a ler artigos atrás de artigos e a tentar perceber como é que a América pode eleger um homem como Donald Trump [para a presidência].

    O seu estilo é marcado por tons fortes, como o rosa ou o amarelo, em looks integrais. É um reflexo da sua personalidade?

    As roupas são muito "políticas" no sentido em que dizem muita coisa sobre nós mesmas. Eu quero ser uma pessoa, não uma mulher sexy, quero ser tão feminina como masculina e alguém que está focado na qualidade do trabalho que faz, não na roupa que usa. Não quero ser um objeto, quero usar algo que seja também uma declaração – é por essa razão que uso cores brilhantes. Sinto que como estou a cantar sobre assuntos muito fortes e pesados, quero também poder expressar felicidade, positividade e união. Na vida há sempre problemas e obstáculos, mas precisamos de contornar aquilo que nos "puxa para baixo" e manter-nos positivas.

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