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Prazeres

Retratos do nosso tempo. 5 exposições imperdíveis para ver até ao verão

Com a primavera, floresceu uma mão cheia de exposições da melhor fotografia. De nomes grandes como Jeff Wall, no Maat, e Chantal Akerman e Nan Goldin, no CCB, até à estreia do escocês David Yarrow e ao olhar estrangeiro sobre a nossa revolução dos cravos. São retratos do nosso tempo.

Exposição de Jeff Wall, no MAAT
Exposição de Jeff Wall, no MAAT Foto: Daniel Malhão
09 de maio de 2025 às 10:26 Patrícia Barnabé

1 – Time Stands Still de Jeff Wall, fotografias de 1980-2023, no MAAT, até 1 de setembro

É arrebatadora a exposição do artista canadiano e, no entanto, ela versa sobre a nossa grande normalidade. E a magia que se esconde nos detalhes mundanos, que a fotografia exalta como poucos outros meios, e com a maior das subtilezas, devedora de um silêncio estático que convida à reflexão - e que o vídeo nunca será. Esta fotografia é encenada, não parecendo, à qual o artista chama de "cinematografia", porque funciona como memórias suas que ele depois reconstrói. O resultado são composições pictóricas magníficas que ele foi sofisticando desde os anos 70: "É isso, espero eu, que torna evidente que o tema foi subjetivizado, que foi retratado, reconfigurado de acordo com os meus sentimentos e literacia", diz.

 Jeff Wall
Jeff Wall Foto: Alex Merz

É um encontro entre a fotografia, a pintura e o cinema, numa estreia em Lisboa com mais de seis dezenas de imagens montadas em caixas de luz, que é uma imagem de marca que ele foi buscar aos mupies de publicidade. Estas fazem sobressair, ainda mais, a sua insularidade, e tornam mais evidente tudo aquilo que somos: como janelas por onde espreitamos para dentro de nós e do nosso quotidiano, e suas inerentes tensões moderna. Enchem as paredes do Maat, em drama e expressão colorida, mas também com abandono e desistência, e preto e branco. Muitas são inspiradas em temas e obras da história da arte ou da literatura, em temas como a solidão, a pobreza, a alienação, a violência urbana, o abandono e a exclusão social, mas também temos paisagens e detalhes de lugares nos quais nunca reparamos porque os banalizamos. A curadoria é de Sérgio Mah.

Exposição de Jeff Wall, no MAAT
Exposição de Jeff Wall, no MAAT Foto: Daniel Malhão

2 – Intimidades em fuga, em torno de Nan Goldin, no MAC/CCB, até 31 de agosto

Uma sala e um corredor chegam para percebermos o que já sabemos, que existem poucos artistas com a capacidade de chegar tão perto da intimidade como Nan Goldin. Num tempo em que tanto se fala na protecção de dados pessoais, mas no qual quase todos exibimos a intimidade nas redes sociais, sempre editada, claro, mas numa torrente constante e divertida. É um prazer redobrado ver a sua famosa série Balada da Dependência, dos anos 80, de onde saíram algumas das suas mais fortes, e famosas fotografias. Foi a primeira vez que mostrou a decadência de uma forma tão explícita, e os retratos dos underdogs de Nova Iorque.

Nan Goldin, 'Picnic on the Esplanade',1973
Nan Goldin, 'Picnic on the Esplanade',1973 Foto: António Jorge Silva MAC/CCB

A curadoria é da diretora do museu, Nuria Enguita, que por oposição a um certo "espetáculo do eu" que "parece dominar um presente que percorre um caminho de mercantilização da intimidade", ela quis antes a partilha da vulnerabilidade, ou seja, "representar a interioridade" que é "habitar a própria vida - dar voz ao sussurro e não ao discurso", lemos à entrada. Uma boa razão para mostrar outros artistas de topo da colecção do museu que também fazem esse percurso. como Paula Rego e Helena Almeida, João Onofre, João Tabarra e Filipa César, mas também Marina Abramovic, Louise Bourgeois, Cindy Sherman, Chantal Joffe, Wolfgang Tillmans ou Julia Ventura. "A arte feminista, em particular, tem-se caracterizdo pela representação simbólica do opressivo e pla representação da vida privada e íntima das mulheres, muitas vezes abordando tanto o desejado e o enaltecido quanto o indizível, o abjeto, o proibido, o temido ou o estigmatizado."

Exposição de Nan Goldin, no MAC/CCB
Exposição de Nan Goldin, no MAC/CCB Foto: António Jorge Silva MAC/CCB

3- Travelling de Chantal Akerman, no MAC/CCB, até 7 de setembro

Fundamental, esta artista belga de origem judia, filha de sobreviventes do Holocausto que se fixaram na Bélgica desaparecida em 2015, uma voz singular dos anos 70 aos nossos dias, que cruza cinema e arte numa perspetiva auto-didata, com olhar muito particular e autoral que está próximo do experimental. Temas como a intimidade, a solidão, a injustiça social, a imigração, o luto, os seus temas que quase antecipam um fim do mundo, eminência que hoje sentimos na pele, com todos as suas sensibilidades e controvérsias, são tratados de forma contemplativa e de descoberta, nem por isso menos crítica, em documentário, drama, comédia, o musical ou a adaptação cinematográfica ou televisiva.

'The Mirror' de Chantal Akerman
'The Mirror' de Chantal Akerman Foto: António Jorge Silva MAC/CCB

Por isso, é para tirar meio dia e deambular pelas salas escuras do museu e deixar-se viajar. São particularmente belas as suas instalações de vídeo, muito poéticas. A curadoria é de Laurence Rassel e poucos sabem que a sua voz inspira realizadores tão díspares como Gus van Sant, Todd Haynes e Michael Haneke, por isso a Cinemateca tem um programa paralelo. Destaque para a peça Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles, considerada uma obra-prima do feminismo, e um dos melhores filmes de sempre pelo British Film Institute, ou para a sua trilogia sobre fronteiras e as suas dores, com a Europa de Leste, os Estados Unidos e o México como cenário. Também lá estão os filmes que realizou na sua temporada em Nova Iorque e os argumentos escritos à máquina, disponíveis para consulta, assim como outros detalhes de produção, nomeadamente da sua Paradise films, do acervo da sua fundação e da Cinematek de Bruxelas.

Exposição de Chantal Akerman
Exposição de Chantal Akerman Foto: António Jorge Silva MAC/CCB

4- Storytelling de David Yarrow, pop up The Pink, até 1 de junho

É a estreia deste fotógrafo escocês em Portugal, num espaço temporário que a galeria de fotografia In The Pink, de Loulé, especializada em fotografia, encontrou em Lisboa, na Rua de Santo António à Estrela, 74. Fundada em 2022, pelos colecionadores de fotografia Phil e Anja Burks, a In The Pink promove obras de alguns dos fotógrafos mais conceituados do mundo, enquanto descobre talentos locais e expõe fotografias sobre Portugal. Neste caso, são as imagens fantasistas de Yarn, pensadas para o impacto e para a evasão, aproximando-se do mundo do espetáculo que é o cinema. Da mesma forma, ele encena as suas imagens e convoca um cenário e um elenco dignos de set de filmagens.

Recriação do anúncio da Pepsi, de 1992. De David Yarrow
Recriação do anúncio da Pepsi, de 1992. De David Yarrow Foto: DR

Inpirado por Albert Watson e Harry Benson, aos 20 anos, já andava de máquina na mão a cobrir a final do Campeonato do Mundo da FIFA de 1986 para o jornal The Times, o que lhe valeu a conhecida fotografia de Diego Maradona a erguer a taça Jules Rimet. Estas são algumas das suas imagens da última década, da recriação do icónico anúncio da Pepsi, de 1992, protagonizado por Cindy Crawford, a Cara Delevingne com uma chita no deserto da Namíbia, mas também belas imagens da vida selvagem, e de paisagens nos recantos mais remotos do planeta, o seu verdadeiro amor. Não só a lembrar-nos da sua sublime beleza, mas da sua grande fragilidade ameaçada pela exponencial presença humana.

5- Venham Mais Cinco, O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa - 1974-1975, no Parque Empresarial da Mutelana (Antiga Lisnave), em Almada, até 24 de agosto

Com curadoria do realizador Sérgio Tréfaut, são mais de 200 imagens, em grande formato, de vários fotógrafos, alguns deles maiores, que vieram para Portugal retratar a Revolução, e por aqui ficaram a sentir o pulso e o batimento cardíaco de um país em renascimento e euforia, a descobrir-se e a construir-se para uma nova era. Muitos acompanharam, também, a independência das ex-colónias. A ideia partiu de uma homenagem que o realizador quis fazer a Margarida Medeiros e à vontade de mostrar um património que não esteve acessível durante 50 anos.

Crianças saudam a passagem de uma manifestação. Lisboa, 1975
Crianças saudam a passagem de uma manifestação. Lisboa, 1975 Foto: Jean-Paul Miroglio

São imagens em grande formato de nomes como Paola Agosti ou Sebastião Salgado, mas também Alain Keller, Alain Mingam, Alécio de Andrade, Augusta Conchiglia, Benoît Gysembergh, Dominique Issermann, Fausto Giaccone, François Hers, Gérard Dufresne, Gilbert Uzan, Giorgio Piredda, Guy Le Querrec, Henri Bureau, Hervé Gloaguen, Jacques Haillot, Jean Gaumy, Jean-Claude Francolon, Jean-Paul Miroglio, Jean-Paul Paireault, José Sanchez-Martinez, Michel Giniès, Michel Puech, Perry Kretz, Rob Mieremet, Serge July, Sylvain Julienne, Uliano Lucas e Vojta Dukát.

Exposição de Jeff Wall, no MAAT
Exposição de Jeff Wall, no MAAT Foto: Daniel Malhão
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