"Posso comprar-te?" Utilizadoras da Vinted denunciam assédio sexual na plataforma
As fotografias publicadas por centenas de mulheres na app com o intuito de vender roupa estão a ser republicadas com um enquadramento sexual em grupos de Telegram e em sites pornográficos sem o consentimento (ou conhecimento) das autoras.

Em abril deste ano, uma reportagem do jornal alemão Süddeutsche Zeitung denunciou um grupo no Telegram chamado Girls of Vinted. Por lá, cerca dois mil subscritores, maioritariamente homens, colocaram num contexto sexual fotografias retiradas das contas da Vinted de mais de 130 mulheres, sem o seu consentimento ou conhecimento. As denúncias têm vindo a aumentar na plataforma e nas polícias locais de países como a Alemanha, Itália e França, noticia o The Guardian. O também britânico Channel 4 fez uma reportagem sobre um grupo semelhante em outubro do ano passado. Esse chamava-se Vinted Sluts.
Uma mulher de 26 anos relatou ao jornal alemão o que aconteceu depois de as suas fotografias na Vinted terem sido partilhadas sem consentimento no grupo Girls of Vinted. Foi repetidamente insultada e assediada em várias línguas, experiência que descreveu como "nojenta" e "repugnante". "Ainda está disponível?", perguntaram-lhe numa mensagem, acrescentando: "E a roupa interior por baixo?"
A atenção mediática que recaiu recentemente sobre o site seguiu-se a uma série de queixas enviadas por utilizadoras mulheres que denunciam estar subitamente a receber mensagens com conteúdo explícito.
No início de julho, uma utilizadora da app de 22 anos, natural da Alemanha, contou ao jornal Der Spiegel que começou a receber mensagens com teor sexual no chat da Vinted. "Olá, gostava de comprar esta peça de roupa mas gostava que primeiro a usasses sem roupa interior", escreveram-lhe. "Posso comprar-te a ti também?", perguntaram-lhe noutra mensagem.
Mina, nome com qual se identifica, partilhou um vídeo no Instagram onde conta, em lágrimas, que começou a ser alvo deste tipo de assédio depois de as fotografias que tem nas suas redes sociais terem sido partilhadas em sites de pornografia. O vídeo em questão acumula agora mais de 2,3 milhões de visualizações. A jovem deixa um apelo para que outras mulheres se protejam e explica ter descoberto o que se passava quando pesquisou o seu próprio nome no Google durante um processo de candidaturas a empregos.
A Vinted tem uma política de tolerância zero face a comunicações com teor sexual não solicitado. Se a plataforma for informada por utilizadores de que as suas imagens estão a ser usadas noutros sites, entrará em contacto com os mesmos para pedir que sejam removidas, de acordo com um porta-voz entrevistado pelo jornal alemão. A plataforma recomenda aos utilizadores que usem fotografias onde a cara não esteja visível e que não partilhem informações pessoais, como nome completo ou morada, nas mensagens privadas.

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