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Pink Dolphin. Concept store, galeria ou atelier?

Recém-inaugurada em Lisboa, esta loja pretende promover uma experiência culturalmente envolvente, sem se levar demasiado a sério. Um universo estético à medida de Sofia Tilo, sua fundadora e entusiasta.

Foto: D.R
20 de julho de 2023 Máxima

Os 70 metros quadrados da Pink Dolphin na Rua Polais de São Bento, despertam-nos imediata curiosidade. Para descrever a nova concept store dedicada à arte, é preciso compreendê-la. Trata-se de uma "one stop shop para tudo o que é criativo, bonito e divertido", descreve Sofia Tilo, fundadora e responsável pelo negócio, enquanto nos recebe. Inspirada pelo conceito de "casa aberta" de um colecionador, depressa percebemos que fomos convidados à inauguração do universo estético da própria Sofia. As duas são indissociáveis.

Com 37 anos, viveu vários anos fora de Portugal. Filha de mãe portuguesa e pai egípcio, cresceu no que descreve como "uma família híbrida e diferente da norma". Todos os irmãos estudaram fora e quando se formou optou por Filosofia e Ciências Políticas em Londres, e mais tarde Antropologia Social e Cultural, aquele que considera o seu background profissional e que lhe despertou o interesse pela arte. "Em Antropologia estudamos a cultura visual e material que nos rodeia. O amor pela arte e pelos objetos vem dessa relação. Percebi que a arte é muito mais que uma expressão individual, é uma forma enriquecedora de transmitir mensagens, explorar diferentes perspetivas e despertar emoções", conta-nos com um entusiasmo caloroso. 

Sofia Tilo é fundadora e responsável pela Pink Dolpin.
Sofia Tilo é fundadora e responsável pela Pink Dolpin. Foto: D.R

Já chamou casa a Oxford, Londres e Berlim e também Nova Iorque e Maputo. Agora regressa a Portugal. Porquê Lisboa? "Lisboa é uma cidade vibrante, cheia de vida e pessoas criativas. Queria apoiar e integrar-me neste ambiente. Construir algo a partir do zero e trabalhar com pessoas mais talentosas do que eu". Londres ainda esteve em cima da mesa, este mesmo projeto foi pensado para Notting Hill, por isso para si "é um voto de confiança na cidade e um investimento".

Na Pink Dolphin, peças únicas e de edição limitada contam uma história, ou várias neste caso. Deambulamos pelo open space. obras de arte, cerâmica e joias, mas também fotografias e prints com espaço para a serigrafia e o estacionário. A loja reflete um espírito único, muito kitsch, com uma estética apelativa e divertida a diferentes cores, texturas e formas, sem se levar demasiado a sério. "Um híbrido entre loja, galeria e atelier" avisa o seu website oficial que promete "o melhor do design português com clássicos de culto globais e marcas independentes de todos o mundo". Ali encontram-se artistas emergentes, designs novos e arte acessível. A sua democratização é um objetivo, uma arte que não se limite às elites, nem se torne inacessível pela intimidação. Um destino de confiança para uma exploração livre.

A amplitude de valores personifica isso mesmo: se o quadro à entrada da última exposição de Carolina Pimenta é a peça mais valiosa em loja por €3.000, o projeto dos nús surpresa de Ana Barros começa nos €10. Um favorito de Sofia, a par com a pintura de Rita Leitão que lhe tanto lhe toca no coração (€300). Já fotografias da Dear Anushka têm tanto de bonitas quanto de estranhas, e por isso merecem também o seu destaque. No momento, entre os artistas representados surgem ainda nomes como Margarida Alfacinha, Muza Cerâmica, Estúdio Torto e mesmo Sargent Paper.

Esta não é a primeira incursão pela arte através do negócio. Em Londres, fundou uma agenda cultural online com e-commerce associado, onde teve a oportunidade de trabalhar com parceiros como a Matches Fashion e a Amazon. "Adoro o online, mas passar do URL para o IRL (in real life) é muito melhor", revela. "A arte é vida, mas também pode ser um excelente investimento financeiro", confidencia sem timidez mais à frente, acrescentando "eu financiei a Pink Dolphin vendendo um quadro, por exemplo". 

"Quero mostrar outros interessados como se faz e como se pode viver com arte constantemente e confiantemente", disse Sofia. Foto: D.R

Enquanto colecionadora, o seu espólio começou com uma primeira peça, um quadro adquirido numa exposição de verão no Royal Academy of Art, "comprei-o diretamente a uma jovem artista chamada Caroline Walker, por umas centenas de libras. Foi uma enorme compra para mim na altura, e hoje a Caroline é uma das grandes pintoras figurativas de Inglaterra, vendida nas grandes leiloeiras e comprada por colecionadores". Neste processo, investiu horas de trabalho, pesquisa e visitas a exposições e faculdades de belas artes, pelo que atualmente, dispõe de uma coleção com 40 peças mais sérias que anseia conseguir "vender, trocar e crescer para chegar às 100 [peças] antes dos 45 anos. É um dos meus sonhos em arte", confessa.

Deste amor declarado, mas muito prático, surge o serviço integrado de consultadoria da Pink Dolphin, uma forma de continuar a conversa com mais pessoas. A sua visão é clara e articula-se em discurso direto. "Desejo trazer mais arte, confiança a comprar e experiências criativas para a casa das pessoas", começa por explicar. "Quero mostrar outros interessados como se faz e como se pode viver com arte constantemente e confiantemente", aludindo como vai à caça com os clientes tanto com budgets de dois dígitos como com dezenas de milhares de euros. Sofia reúne-se para perceber gostos e objetivos e de forma personalizada recomendar peças, artistas e investimentos

"Os planos proximais de Sofia incluem a digitalização e o lançamento da loja online". Foto: D.R

Sobre o futuro da Pink Dolphin, os planos próximos de Sofia incluem a digitalização e o lançamento da loja online, para além de mais parcerias com artistas, edições limitadas e, claro, a continuação dos serviços de consultadoria para todos aqueles que desejem começar a colecionar, em qualquer nível. "Ainda temos muito trabalho a fazer e um longo caminho pela frente", remata alegre.

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Arte, Inspiração, Pink Dolphin, Sofia Tilo, Lisboa, Cerâmicas, Oxford
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