No interior do gabinete de curiosidades de Maria João Sopa
A curadora tem uma longa experiência de contar histórias através de objetos e ambientes. O nº 50 da Rua Escola Politécnica, em Lisboa, é o seu novo espaço e promete ser tão carismático como os anteriores.

É um misto de gabinete de curiosidades e caverna de Ali Babá, entre a generosa sombra do Jardim Botânico e a janela sobre o mundo das ideias que é a Livraria Travessa. Falamos de Nº 50, a nova loja de Maria João Sopa, que se instalou nesse mesmo númeroa, no que é hoje um dos quarteirões mais trendy de Lisboa. Aqui podemos encontrar o tipo de peças e marcas a que Maria João já nos habituara no seu anterior espaço, o 21 pr, mas sempre com uma mise-en-scène surpreendente e arrojada. Às marcas de moda Shourouk, Corpus Christi, Goti, 5 Octubre, Room Service, Celeste Mogador, Bruno da Rocha, Carolina Curado, Sabina Sauvage, Kaien Bell, Campomaggi e Gustoko, juntam-se, para a casa, L’Objet, Cire Trudon, Chateau de Versailles e Comporta Perfumes.

Este número 50 é, como nos diz a sua curadora, o segundo capítulo de uma história iniciada há mais de uma década na 21 pr, onde Maria João começou por ter como parceiro o criador de Moda, Ricardo Preto. Agora com esse espaço a entrar em profundas obras de remodelação, foi preciso encontrar uma alternativa à altura. "Aqui, por estarmos numa loja mais pequena, tivemos de fazer opções", conta-nos. "Mas a essência mantém-se, agora de uma forma mais intimista. Apostamos nas mesmas marcas e nas peças exclusivas, num conceito de affordable luxury. Dou um exemplo: se tivermos 30 ou 40 malas em loja, cada uma delas é peça única. O mesmo é válido para outro tipo de acessórios." Outra característica que se mantém é a representação de designers nacionais e estrangeiros, sejam estes de outros países europeus ou de outros bem mais distantes, como as Filipinas ou a África do Sul. Todas as combinações são possíveis e só dependem do gosto e da criatividade do cliente.


A "50" é o fruto das muitas vidas de Maria João Sopa. Talvez tenha começado a tomar forma nos efervescentes anos 80, quando o Bairro Alto, em Lisboa, foi o epicentro de uma autêntica revolução cultural e social. Ou, mais remotamente ainda, na educação espanhola que recebeu na adolescência, ao frequentar o Instituto Espanhol de Algés, e que a pôs em contacto com uma maneira mais desinibida e afirmativa de viver com o corpo próprio e os dos outros: "As mulheres espanholas são muito mais senhoras do seu nariz, arranjam-se e produzem-se muito, atrevem-se. As portuguesas são muito mais inseguras, deixam-se intimidar facilmente se a filha ou as amigas não gostam daquilo que elas usam. Era assim quando eu era miúda e ainda continua a ser um pouco assim."
A este legado juntou os estudos em Design Gráfico no Ar.Co, e fez um ano de marketing para aprender a criar uma ideia de autor, de produto e de vendas. Ainda lnaçou uma marca própria de moda, a La Princesa Y La Lechuga, de bijuteria, em 2002, mas dedicou-se essencialmente ao styling e às Relações Públicas.

Chegou ao Bairro Alto em plena efervescência do final dos anos 80, princípio dos 90, e começou a trabalhar com Manuel Reis ainda no Frágil, como porteira ("sucedi à Margarida Martins", recorda) e depois no Lux. Esteve sete anos a gerir a loja de José Manuel Tenente, no Chiado. Era o tempo de todas as vanguardas naquele eixo geográfico da cidade. Irrequieta, Maria João torna-se também stylist de artistas portugueses como bandas portuguesas da altura, como Delfins, Rádio Macau, Paulo Gonzo, Madredeus, mais tarde The Gift ou João Pedro Pais, entre muitos outros. Ainda vestiu atores para televisão, em séries como Riscos, trabalhou, durante 7 anos, o guarda-roupa do Ballet Teatro do Porto, entre outros projetos. Por duas vezes, partiu para Barcelona, movida por uma sede de mundo e outros horizontes que, às vezes, lhe faltava aqui. No regresso da primeira estadia, foi trabalhar com Manuel Reis, na Loja da Atalaia, uma experiência determinante para o que viria a ser o seu futuro, e foi relações públicas do restaurante Bica do Sapato.


"Mas o projeto de ter uma loja minha existiu sempre, esteve sempre um bocadinho em stand by", conta-nos. "Foi o Manuel Reis que me incentivou a abrir uma loja minha e que me atirou aos lobos, percebendo que eu tinha todas as bases para o fazer e estava cheia de medo de perder o pé". Assim nasceu, em plena crise financeira, com a troika a rondar-nos a vida, a 21 pr Concept Store. "A geografia da cidade tinha mudado. O Bairro Alto perdera o interesse e o Príncipe Real estava ainda a crescer." Assim surge, em 2012, uma loja de conceito com diferentes corners. E assim começou a expandir e explorar novas áreas que sempre a interessaram, como os perfumes para casa, em particular as velas, um nicho que na época estava por explorar nas lojas de Lisboa. Com um gosto assumido pela mise-en-scène cuidada, Maria João Sopa está muito consciente de que, mais do que um lugar de comércio, a sua loja é também uma experiência de encantamento. Não importa o tamanho do espaço.

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