Mr. Entertainment: o organizador de festas que a América adora
Bryan Rafanelli é uma referência na organização de eventos nos Estados Unidos da América. Acredita que pode ajudar a mudar o mundo com o seu trabalho, usando a criatividade e o poder de contar histórias. Mas a sua própria história também merece ser contada e o lançamento do seu primeiro livro, A Great Party, é o pretexto perfeito.

Um livro intitulado A Great Party (Uma Grande Festa) e que está recheado de belas imagens de diferentes celebrações pode induzir o leitor à ideia sumária que se trata apenas de uma seleção de festas, cujo único objetivo é inspirar a boa disposição. Mas folheado com atenção, percebe-se que existe uma história de vida que vai sendo contada ao sabor de pequenos capítulos nas vidas de tantas outras pessoas. A Great Party – Designing the Perfect Celebration (Rizzoli, 2019) é o primeiro livro de Bryan Rafanelli, organizador de eventos e fundador da Rafanelli Events. Na introdução, o autor conta que cresceu na Nova Inglaterra, na costa este dos Estados Unidos, numa família que aproveitava todas as oportunidades para celebrar.
Na década de 1980, tornou-se voluntário numa associação, cuja missão ainda consiste em combater o flagelo da SIDA, e foi então que começou a organizar eventos. Em meados dos anos 90, fundou a própria empresa e, desde então, tem concretizado os mais variados sonhos. Entre casamentos de luxo, angariações de fundos para instituições e diversos eventos na Casa Branca, Mr. Rafanelli é considerado um event planner de topo e a sua obra é também um reflexo da cultura norte-americana. Dividido em cinco partes, o livro conta a história de várias celebrações, reunindo ainda as regras e os conselhos que o autor considera essenciais para uma festa perfeita. 2019 está chegar ao fim e revelou-se um ano com vários motivos para celebrar, uma vez que, além de lançar o seu primeiro livro, Bryan Rafanelli também se casou com o seu companheiro de 30 anos.

O que o levou a escrever este livro?
Desde que fundei a Rafanelli Events, em 1996, já produzimos mais de duas mil galas com sucesso, casamentos memoráveis e celebrações de aniversário incríveis. Eu tenho tido a sorte de trabalhar com as pessoas mais criativas, talentosas, espertas e divertidas do planeta para produzir jantares de estado, eventos de caridade e celebrações de épocas festivas inesquecíveis. Depois de 23 anos no negócio, decidi escrever o meu livro de estreia, A Great Party, para partilhar as minhas experiências e princípios fundadores para criar soirées e encontros memoráveis. Escrever este livro foi uma viagem incrivelmente estimulante e gratificante. Eu não posso agradecer o suficiente à minha incrível equipa pelas horas infinitas de grandes ideias, de criatividade e de conselhos.
Porque é Chelsea Clinton a assinar o prefácio deste livro?

Eu tive a grande honra de trabalhar com Chelsea Clinton para produzir o respetivo casamento, no verão de 2010. Chelsea tinha a visão clara daquilo que queria, desde o momento em que começamos a planear, e foi um prazer trazer essa visão para a realidade. Uma das principais prioridades de Chelsea era garantir que a mãe e que a avó estavam envolvidas em todos os passos do planeamento. As três eram participantes ativas em cada reunião e o gosto refinado da avó de Chelsea foi o elo de ligação através de todos os aspetos do casamento. Foi isso que, no final, fez com que este dia tão especial na vida de Chelsea tivesse ainda mais significado.
Dedica este livro à sua mãe e na introdução escreve muito sobre a sua família. Qual o papel deles na sua carreira de sucesso?
Para pôr as coisas de forma simples, a minha mãe foi a minha primeira inspiração e assim continua a ser. A minha mãe sempre gostou de fazer festas. Cada feito ou acontecimento pedia uma celebração. Algumas das minhas primeiras memórias foram experienciar e, por fim, também, organizar essas celebrações. Cada celebração era única para cada um de nós. As datas festivas também eram festejadas em grande, literalmente. Havia abundância em tudo. O Natal implicava árvores e mais árvores, várias casinhas de biscoito de gengibre, elfos e pais natais em cada prateleira e em cada mesa. A minha mãe fazia sempre o Natal à sua maneira. O meu interesse na elaboração de celebrações como carreira profissional foi, certamente, instigado pela abordagem festiva que a minha mãe tem à vida.
Quando se apercebeu que era isto que queria fazer como carreira profissional?
Depois de ter perdido um amigo próximo com SIDA, voluntariei-me para o comité de eventos da AAC [AIDS Action Committee] e foi ali que comecei a aprender sobre o mundo de angariação de fundos, na década de 1980. Eu ajudava na montagem e na desmontagem dos eventos, solicitava itens para leilões silenciosos, desenhei sinais e convites, e rapidamente comecei a executar eventos grandes e pequenos. E descobri que tinha jeito para isso. Rapidamente, tornei-me parte de reuniões intimistas e encontrei forma de combinar os meus talentos, a minha experiência e o meu desejo em fazer a diferença. Tornei-me presidente do comité de eventos, orquestrando seis ou oito eventos por ano, danceathon [evento de caridade em que os participantes embarcam numa longa sessão de dança], caminhadas e galas. Em 1996, já sabia que isso era o início de uma carreira para mim. Foi quando comecei a minha própria empresa, tendo o AIDS Action Comittee como meu primeiro cliente.
Estudou Ciência Política. O que aprendeu já lhe foi útil na sua profissão atual?
Eu estudei Ciência Política na faculdade porque queria mudar o mundo. Ainda sinto o mesmo e, de cada vez que trabalho com uma organização sem fins lucrativos, acredito que o estou a fazer.
Embora organize eventos exuberantes e luxuosos, há também um lado de responsabilidade social no seu trabalho. Isso é importante para si?
Eu acredito, verdadeiramente, que somos postos neste planeta para o tornarmos melhor do que ele estava quando o encontrámos. É por isso que quase metade do trabalho que fazemos é com organizações sem fins lucrativos [nonprofit]. Quando estamos a desenvolver conceitos de design para os nossos clientes nonprofit, começamos com as suas missões. Tal como em qualquer evento, o nosso objetivo é criar uma ligação emocional para os nossos convidados. Mas, nesses casos, quando estamos a angariar dinheiro e consciencialização, essa ligação emocional precisa de render resultados tangíveis. Quero que os convidados que vêm a estes eventos saiam a dizer: “Eu quero fazer parte disto e retribuir a esta grande organização.”
Eu creio que, em Portugal, nós não estamos muito familiarizados com eventos de angariação de fundos. Explique-nos a importância destes eventos nos Estados Unidos da América?
Apoiar o trabalho de organizações sem fins lucrativos é parte integral da cultura americana. A natureza sensorial de um evento garante um momento único para estas organizações passarem as suas mensagens a potenciais doadores e conquistar-lhes os corações, mentes e, por fim, as carteiras. O Baile Storybook anual do Mass General Hospital for Children, com o qual trabalhamos há duas décadas, é um ótimo exemplo de como misturar uma boa festa com um propósito. Para contar a história do hospital, focamo-nos em histórias infantis clássicas para criar uma nostalgia que capte a atenção dos nossos convidados, o que, por seu lado, leva a doações impactantes para ajudar estas crianças.
Trabalhou com a família Obama na Casa Branca. O que é diferente ou especial em preparar um evento neste espaço icónico?
Conceber festas na Casa Branca foi uma oportunidade muito especial e que eu irei sempre estimar. Como com todos os clientes, nós queríamos que cada um destes eventos fosse único, mas também estávamos constantemente a lembrar-nos do local onde estávamos – um espaço de imensa tradição e de história americana. Conseguir a mistura certa de respeito e de originalidade foi sempre um desafio entusiasmante.
Trabalhou de perto com Michelle Obama? Como era o envolvimento e as ideias da primeira-dama nestes eventos?
Eu trabalhei com a Senhora Obama em sete jantares de estado e em 15 outras celebrações durante a administração Obama. A visão de Michelle Obama era uma harmonia perfeita com os nossos princípios. Queria sempre contar a história do país, das pessoas ou do programa que estávamos a homenagear. A Senhora Obama tinha um gosto único pela cor e nós conseguíamos fazer as nossas celebrações destacarem-se por termos todas as cores do arco-íris ao nossos dispor! Aprendi depressa que a melhor maneira de lhe apresentar ideias era sendo muito claro, conciso e o mais visual possível. Para cada evento que planeámos, apresentávamos, pelo menos, três conceitos à primeira-dama e à equipa respetiva em pastas que incluíam plantas [arquitetónicas], elementos de design, fotografias de exemplos e amostras de tecidos. Quanto mais amostras eu pudesse passar à Senhora Obama, melhor. Queria ver aquilo em que estávamos a pensar e compreender a história que queríamos contar em seu nome.
Quantas pessoas trabalham na sua empresa?
Atualmente temos 40 colaboradores, a tempo inteiro.
Eu acredito que o seu trabalho desperte curiosidade em quem não sabe como funciona. Explique-nos como é um dia normal na sua vida…
Normalmente, acordo às cinco e meia e vejo as notícias e os e-mails. Se for um dia de evento, gosto de começar com calma. Se estou com George Clonney, que é o meu cão golden retriever, vou com ele para dar um passeio em Madison Square Park [em Nova Iorque] e tomo um venti dark roast no Starbucks. Volto para o meu apartamento para organizar o meu guarda-roupa para o dia e para a noite. Dependendo do evento, irei trocar de roupa algumas vezes durante o dia. Garantir que as minhas peças essenciais estão prontas a ser usadas é muito importante. Depois faço um pouco de exercício no Equinox, o que me ajuda a ganhar energia para o dia ocupado que se segue. Finalmente, vou para o evento ao início da tarde. É onde eu me encontro com a nossa equipa para passar em revista os toques finais que precisam de ser feitos, ouço o teste de som e reconfirmo as luzes antes de os convidados começarem a chegar. Depois do evento vou jantar a um dos meus locais preferidos, Loring Place ou La Pecora Bianca, enquanto falo por Facetime com o Mark [o marido] para alinhar as nossas agendas durante a semana. Assim que chego ao meu apartamento, normalmente adormeço a ver o canal MSNBC ou uma comédia romântica.
Tem escritórios em diferentes cidades dos Estados Unidos, mas é verdade que também organiza eventos em outros países?
Temos uma forte componente de negócios exteriores na nossa empresa. Trabalhar fora dos Estados Unidos serve como uma oportunidade para conhecer uma nova cultura e incluir as suas tradições no tema de cada evento. Um dos primeiros casamentos que refiro no livro é o de uma noiva do Texas com raízes turcas. Quando nós começámos, a noiva apercebeu-se de que a avó turca, com 94 anos, não iria conseguir fazer a viagem. A noiva e a família decidiram então “levar” o casamento para Istambul numa prova de amor pela avó, mas aproveitando, também, para mostrar esse sítio especial aos amigos americanos. A minha tarefa foi organizar um evento de três dias que mostrasse o local que tinha tanto significado para a família. Para refletir a herança da família e a rica história de Istambul, nós escolhemos, cuidadosamente, locais históricos que incorporavam a cultura turca, como, por exemplo, um palácio otomano maravilhosamente preservado e a Bindirdirek Cistern, uma das reservas de água subaquáticas mais antigas do mundo.
Eu presumo que tenha clientes de diferentes culturas. Quão importante é conhecer bem os clientes?
Eu saliento sempre a importância de incorporar a herança dos meus clientes nos seus eventos e fazer com que cada evento seja unicamente deles e que conte uma história. Eu coloquei isto em prática no primeiro jantar de estado que concebi para a Senhora Obama. O evento foi feito em honra de Hu Jintao, o presidente da China, em 2011. Quando o planeamento começou, recebi da Casa Branca um briefing de uma página com uma lista do que se sabia que o presidente gostava e do que não gostava. Eu recebia um briefing destes antes de cada jantar de estado, com preferências de cor, preferências de comida e de entertainers. Depois encontrei um livro que se chamava Chinese Symbolism and Art Motifs e isso tornou-se a minha bíblia. Eu levava-o comigo para as reuniões. Apresentei tecidos e cores e tornei as laranjas em peças de destaque por causa do que aprendi com aquele livro. As fases de planeamento preliminares são muito importantes. Familiarizar-me com a herança cultural do cliente certamente ajuda a criar um evento perfeitamente à medida.
Pode partilhar algumas regras para um planeamento perfeito?
O meu novo livro termina com as sete Rafanelli Rules para uma grande celebração. Uma das minhas regras preferidas é “Think big” [pensar em grande]. Elementos de design em grandes proporções captam a atenção do olhar e têm energia. Para as celebrações de Natal na Casa Branca, criámos modelos dos cães do casal Obama, Bo e Sunny, que tinham 1,83 metros e 2,44 metros de altura, respetivamente, e feitos com mais de 30 mil bolas de fio pretas e brancas. As crianças que foram às festas estavam loucas com eles e os adultos ainda mais. E também “Shoulders and above” [ombros e acima] é um mantra que uso muito nas fases preliminares de design. Quando se olha através de uma festa de cocktail cheia de convidados, o que se vê? O que está acima do nível dos ombros. Esta vista vai ser a primeira e a última impressão que os convidados terão de uma festa. Para um casamento de verão, nos Hamptons, colocámos centenas de lanternas brancas a flutuar num arame por cima da zona de cocktail. Foi um elemento de design elegante e um motivo de conversa na festa.
Casou, recentemente, com o seu companheiro de 30 anos. Planeou o seu próprio casamento?
Quando o Mark me pediu em casamento, em julho de 2019, o desejo emotivo que ele tinha de se casar mostrou-me que isso era incrivelmente importante para ele. Sabíamos que nos queríamos casar antes da publicação do livro [em setembro deste ano] e que teríamos de planear a festa em 30 dias. Secretamente, pedi a dois dos meus planners para ajudarem no planeamento, mas insisti em ser eu a fazer o design do casamento. O Mark e eu decidimo-nos por uma cerimónia de manhã e por um almoço, o mesmo que os meus pais fizeram, há tantos anos. Foi uma grande homenagem aos meus pais e eu sinto-me o homem mais feliz do mundo.
Como é o Bryan Rafanelli enquanto convidado? Tem um olho crítico sempre atento ou consegue desligar-se do seu trabalho?
Na verdade, eu adoro ir a eventos como convidado. Ver como os anfitriões contam a sua história e o que os inspira é muito interessante para mim. As pessoas assumem que eu estou sempre atento aos pormenores, mas a verdade é que desfruto de simplesmente estar nos eventos. É muito refrescante.
Qual é a festa ou evento que gostaria de vir a organizar?
Eu tenho tido a sorte de organizar eventos para todo o tipo de pessoas e ocasiões. Com isso surgem novas perspetivas e ideias que eu depois torno realidade. Adoro o que faço e, por isso, no próximo ano quero continuar a fazer mais do mesmo. Continuar a contar as histórias dos nossos clientes de forma única e ser estimulado criativamente é tudo o que eu posso pedir.
E ainda...
Top 3
Três eventos memoráveis na carreira e na vida de Bryan Rafanelli.Getty Images

“1. Em 2015, tive a tremenda honra de comemorar a histórica decisão do Supremo Tribunal de legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em toda a nação. Para celebrar o acontecimento histórico do movimento de direitos gay, iluminámos, à noite, a Casa Branca com um arco-íris. Ajudar a criar uma encenação que simboliza a enorme vitória na marcha pela igualdade foi marcante e incrivelmente compensador para mim e para a minha equipa."

"2. Tenho tido a sorte de na minha carreira poder trabalhar várias vezes na Casa Branca, à qual na América chamamos a Casa do Povo. Uma das minhas maiores honras é ter produzido jantares de estado, Bailes do Governador e, por fim, as decorações festivas apreciadas por milhares de americanos. Eu nunca esquecerei a oportunidade que tive de retribuir ao povo americano desta forma tão íntima."

"3. Tenho um lugar no quadro de direção de uma fantástica organização, The Boys and Girls Club, que muda a vida de crianças todos os dias, e é muito importante comunicar isso num evento que concebemos anualmente e que traz a missão da organização para a linha da frente. Entre outras coisas, nós cobrimos todas as cadeiras do salão de jantar com fotografias das crianças. O resultado foi surpreendente. Foi como se as crianças estivessem todas na sala connosco a criar uma experiência íntima que tem mantido este evento, ao longo dos anos, como um momento de angariação de fundos fundamental para aquela organização.”
