46 Lisboa. Ou como sair para jantar diretamente para a sala de estar
O 46 Lisboa tem o charme dos lugares híbridos que convocam os sentidos, bebe-se, come-se, conversa-se e ouve-se música da melhor, como numa confortável e restrita sala de estar. E ainda se fazem compras.
Intitula-se de miniclube mas, explica-nos Guilherme logo à entrada, "abraçamos a filosofia do não lugar", citando Marc Augé. Enquanto as discotecas se enchem a medo e nos acotovelamos nos bares, aqui tudo é confortável, cuidado e com um tempo próprio. Imagine-se uma sala de estar em tons de areia aberta para a Praça das Flores no Príncipe Real que dois amigos idealizaram como um espaço onde os próprios fossem os melhores clientes: "Tentámos reatar a ideia de social club", explica-nos Catarina Romano, que vem do mundo da Moda. Por isso, ali também se pode comprar uma selecção de peças de roupa da sua marca, onde ela cria os tecidos e estampados inspirados e feitos da Índia, entre outras peças nomeadamente de joalharia.


Este é um espaço onde expõem talentos nas artes, na cozinha e na música que tem, aliás, uma curadoria mensal. Ficou ao cuidado de Miguel Bello, o dj Mike Stellar, que pediu a djs, músicos e entendidos como Rui Miguel Abreu, Switchdance e Rui Pregal da Cunha, para criarem playlists que podemos levar, com uma bebida, para o jardim e ouvir em auscultadores portáteis. E até a maquilhagem de Guilherme foi pensada por Antónia Rosa, a mesma que assegura os looks que desfilam na ModaLisboa há décadas e tantos editoriais de Moda.

Convidam-se amigos ocupar o espaço em serões variados à quarta-feira, como aconteceu com o takeover do projeto Maka Lisboa. Ao abrir o menu, que não apresenta só os consumos do corpo, mas também os da alma, lemos: "Este é um projeto de sustentabilidade social e artistica", e nele incluem "um universo de artistas, designers, artesãos, amantes de Moda e acessórios com relevância e impacto social, local ou global. Criadores nómadas e mentes abertas que partilham o seu trabalho neste club, o 46." É, por isso, ideal para eventos privados, um espaço de convívio e festa, para já mais procurado pelos estrangeiros locais e por mulheres: "Puxa pela sensibilidade, da luz, da cor, da música", diz-nos Catarina.


Decorado pela cenógrafa Joana Cardoso e pelo diretor criativo Sebastião Faro, do estúdio Joana + José, ela diz que quis que este fosse "um abrigo para o nómada urbano, é o deserto, a terra, a argila, mas também um sítio onde se junta uma grande família, um feeling 70’s, no conforto dos materiais e no minimalismo das cores. Agrada-me a ideia de o vestir em vez de o decorar."


A carta de bebidas foi escolhida por Nuno Faria do 100 Maneiras de Ljubomir Stanisic, também conhecido pelo exímio wine pairing e pelo bar de cocktails de sonhos. Os rótulos são sazonais, alguns deles castas únicas ou que "fogem às tendências dominantes", adorámos o rosé vulcâncio de António Maçanita ao jantar, como a cerveja angolana Cuca na noite africana. E provámos um cocktail sem álcool e com CBD, porque aqui tudo se experimenta: "Somos um espaço livre, aberto à tentativa, ao erro e à descoberta, ao mundo e ao futuro." E as mangas que tapam os rótulos das garrafas de cerveja enquanto não nos deixam as mãos arrefecer, são à base de uma fibra de papel que se levares para casa podes molhar e plantar, tem sementes de hortelã.

A cozinha também goza de uma grande informalidade e cuidado. Provámos entradas descomplicadas, que chamam de outsiders, como as endívias com roquefort, nozes e cebolinho, a burrata trufada com pesto, tomate cherry e azeite bio e a focaccia romana com tomatada, presunto, rúcula e parmesão. Dos insiders provámos os dumplings vegetarianos com cebolinho, kimchi e edamame, e os pequenos hot dogs em brioche com tzatziki, picles de cebola e batata palha, rematados com uma sublime panacotta de maracujá.

Soubémos ainda que existe o conceito de green club para longos almoços vegan aos sábados, que ainda vamos ter de provar, e na noite africana experimentamos um dos deliciosos pratos de panela angolanos, porque também se convidam os amigos a cozinhar. "Fazemos receitas que achamos boas, algumas inspiradas em chefs, outras de que gostamos muito", diz-nos Catarina. "E há margem para o erro", explica. É mesmo uma sala de amigos, para se deixar ficar como em casa.

Quando? De terça a sábado, entre as 18h e as 23h, e ao sábado também abre para almoço, entre as 11h e as 15h. Onde? Praça das Flores, nº 46, 1200-192 Lisboa. Contactos: 937 784 390

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