Irving Penn: A arte minimalista de imortalizar o efémero
A Máxima foi à Corunha conhecer a mostra "Irving Penn: Centennial" - uma celebração à obra de um dos mestres da fotografia que redefiniu a moda e a arte, agora acessível a todos na Fundação Marta Ortega Pérez. Para nos ajudar a perceber a mente brilhante que era a do fotógrafo norte-americano, o curador da exposição, Jeff L. Rosenheim, contou-nos os detalhes in loco.
Foto: @Fundação MOP28 de novembro de 2024 às 07:00 Safiya Ayoob
"Eu recomendo que as pessoas explorem [a mostra] no sentido dos ponteiros do relógio, mas quando se chega ao cenário há tantas opções [de caminho] que não diria que exista uma certa. Há uma fluidez nesta apresentação e penso que as fotografias contam histórias diferentes." Assim começa a nossa conversa com Jeff L. Rosenheim, curador da exposição Irving Penn: Centennial e responsável pela curadoria de fotografia no The Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Organizada em parceria com o Met, a Irving Penn Foundation e a Fundação Marta Ortega Pérez (MOP), esta exposição é uma verdadeira celebração ao génio criativo que redefiniu a fotografia de moda e a elevou ao estatuto de arte.
A Irving Penn: Centennial é a quarta exposição de prestígio internacional apresentada pela Fundação MOP, sucedendo a Peter Lindbergh. Untold Stories (2021-22), Steven Meisel 1993 A Year in Photographs (2022-23) e Helmut Newton – Fact & Fiction (2023-23). Aberta até 1 de maio de 2025, a mostra convida os visitantes a explorar a profundidade e diversidade do trabalho de Penn. A Máxima esteve presente na inauguração para descobrir a essência de um dos mais icónicos mestres da lente.
Com uma carreira de mais de seis décadas, Irving Penn revolucionou a fotografia ao captar não apenas imagens, mas momentos carregados de emoção, estilo e narrativa. Do brilho eterno das maiores estrelas de Hollywood aos contornos perfeitos da alta-costura na Vogue, passando pelos detalhes autênticos e crus de culturas distantes, Penn transformou a simplicidade numa arma de sofisticação. Os seus fundos minimalistas e composições meticulosas criaram um estilo único, na qual o essencial falava mais alto do que qualquer ornamento.
A exposição reúne 175 obras e é organizada em doze secções temáticas, oferecendo uma perspetiva abrangente sobre a versatilidade do fotógrafo. Entre os destaques estão os seus requintados nus femininos, estudos florais, enormes naturezas-mortas de objetos quotidianos como pontas de cigarro ou copos amassados, e os retratos de comerciantes, celebridades e habitantes de regiões como Daomé, Cuzco ou Nova Guiné. Um dos elementos mais cativantes da mostra é o cenário original do estúdio de Penn: uma velha cortina de teatro usada pela primeira vez em Paris no verão de 1950. Este pano de fundo, agora desgastado pelo tempo, tornou-se um símbolo do estilo do fotógrafo e está emprestado pela Irving Penn Foundation.
Foto: @Fundação MOP
Para quem pretende mergulhar na obra de Penn, uma visita guiada é essencial. Apesar de as descrições estarem presentes, só com a ajuda de um guia é possível descobrir as histórias escondidas por trás das imagens. Durante a nossa visita, ficámos a saber que, embora as fotografias expostas sejam maioritariamente a preto e branco, as versões a cores pertencem à Condé Nast. Jeff L. Rosenheim revelou: "Quando Penn estava a fazer negativos de separação encontrou uma pequena lacuna que lhe permitia fazer e vender os negativos a preto e branco, apesar de terem sido publicados na Vogue a cores. (…) A empresa [Condé Nast] detém os direitos de autor, mas não o negativo a preto e branco."
Outro aspeto único desta exposição é o acesso gratuito, algo inédito nas mostras anteriores de Penn. "Estou muito contente por ser aqui na Galiza, porque é gratuito; em todas as outras instituições era preciso pagar", comentou Rosenheim. "Penn era um verdadeiro artista do povo, apesar de fotografar estilo e moda. Ele teria adorado o facto de eu estar a olhar para um estaleiro naval."
Foto: @Fundação MOP
As fotografias de Penn, como testemunhado na exposição, apresentam quase todas o mesmo fundo minimalista, evitando a ostentação associada à moda tradicional. Como explicou o curador: "Não há sofás, tapetes, candelabros, janelas. Não há ambientes de grande estilo para criar o cenário de que, se comprarmos estas roupas, também pertenceremos a esta parte do mundo. Por isso, deixaram de ser fotografias de modelos com roupas elegantes para se tornarem fotografias interessantes por si só, o que permitiu que ele e a sua fotografia se separassem."
Irving Penn criou a visão revolucionária de que a fotografia de moda podia ultrapassar os limites do comércio e tornar-se uma expressão artística universal. E foi precisamente essa combinação de minimalismo, autenticidade e engenho técnico que o transformou num dos maiores ícones da fotografia do século XX. Na Corunha, a Irving Penn: Centennial é uma oportunidade rara de testemunhar de perto a magia intemporal deste mestre.
Chama-se The Reformer Lab e abriu recentemente na Avenida 24 de Julho. Apresenta-se como sendo um espaço dedicado ao fitness, beleza e bem-estar, com um espaço de café e uma iniciativa inovadora com a cabine de LED.