Moda / Tendências

As marcas prometem que reciclam roupa, mas será mesmo verdade?

Uma investigação recente levada a cabo pela Changing Markets Foundation diz que não é bem assim.

Foto: Pexels
10 de agosto de 2023 Ângela Mata
Todos nós sabemos e conhecemos as preocupações ambientais que têm vindo a aumentar com o passar dos anos. E todos nós temos acompanhado as tentativas em massa do mundo da Moda, em particular daquelas marcas conhecidas como 'fast fashion', em fazer ver que são cada vez mais sustentáveis. Parte delas têm incrementado o número de campanhas em que demonstram dar preferência à reciclagem de materiais, e muitas têm sido as pessoas a aderirem à doação de roupas em bom estado para reciclagem ou reutilização.

Mas será que essa roupa é mesmo reciclada? Afinal o que é que acontece a partir do momento em que entregamos peças de roupa às respetivas marcas? De acordo com uma investigação divulgada recentemente, feita pela organização Changing Markets Foundation, com sede nos Países Baixos, várias cadeias internacionais "deitam fora roupas que prometeram salvar". E trata-se de roupa em perfeitas condições. A maior parte, doada a grandes marcas é, na verdade, destruída, deixada em armazéns ou enviada para África.

Um pouco por toda a Europa é possível encontrar nas lojas recipientes que indicam que as roupas doadas serão reutilizadas ou recicladas. A C&A, por exemplo, promete "dar uma segunda vida às suas roupas" e a H&M diz "vamos fechar o ciclo". O problema é que este sistema pode estar a criar a ilusão de que a indústria da Moda está a lidar com o problema do desperdício, apesar da realidade ser outra.
Uma trabalhadora de um centro de reciclagem em Bordéus, oeste da França.
Uma trabalhadora de um centro de reciclagem em Bordéus, oeste da França. Foto: Getty Images
Esta investigação foi realizada entre agosto de 2022 e julho deste ano e rastreou 21 itens de roupa doada enviados a 10 gigantes da moda - H&M, Zara, C&A, Primark, Nike, Boohoo, New Look, The North Face, Uniqlo e M&S - nas suas lojas no Reino Unido, Bélgica, França e Alemanha.

Para o rastreio, a ONG dos Países Baixos usou Apple Airtags (pequenos localizadores) e verificou que apenas cinco peças encontraram uma segunda vida. "Um par de calças doadas à C&A foi queimada num forno de cimento e uma saia doada à H&M viajou 24.800Km de Londres para um terreno baldio no Mali, onde parece ser despejado. Três itens foram parar à Ucrânia, onde as regras de importação foram flexibilizadas devido à guerra", revela o relatório.

Em suma, o relatório comprovou que apesar das promessas dos gigantes da moda, três quartos dos itens (16 de 21) foram destruídos, deixados em armazéns ou exportados para África, onde até metade das roupas usadas são rapidamente trituradas para outros usos. Sendo um dos principais destinos o Quénia, que já foi alvo de investigação local em 2022

Um outro relatório divulgado recentemente, do movimento Fashion Revolution revelou que pouco mais de um quarto (28%) das empresas divulgam o que acontece com as roupas doadas. Nem sequer especificam quanto é revendido localmente, revendido em outros mercados ou reciclado em novos têxteis. De acordo com a Changing Markets Foundation, isto só revela falta de visibilidade e transparência.
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