Regresso às origens e circularidade na moda. Conversa com uma designer
Foi num ambiente de festa que a marca holandesa C&A apresentou a sua coleção outono/inverno de 2023, Modern Heritage, num desfile que teve lugar na Antuérpia, Bélgica. Acompanhámos a marca nesta viagem, agora contamos tudo.

Conhecer em primeira mão as novas peças de uma marca tão conhecida como a C&A - e uma das primeiras a democratizar um vestuário mais económico e dentro das tendências logo no século XIX - é, por norma, uma experiência cheia de expectativas, e o recente desfile desta insígnia holandesa não foi a exceção. Curiosos, viajámos até Antuérpia, na Bélgica, a fim de conhecermos a coleção Modern Heritage (outono/inverno 2023).
Da belíssima localização ao espetáculo em si, nada foi deixado ao acaso. O certame realizou-se na Bolsa de Antuérpia - a primeira bolsa de valores do mundo e um local de extrema importância para os encontros regulares dos mercadores locais desde o século XVI. Uma escolha indicada, pensámos, uma vez que conjuga na perfeição com a longa história da C&A, que conta com uns "meros" 182 anos de vida.

Confiantes, os modelos desfilaram ao som da música no quadrado central, cercados por colunas e arcos trabalhados e com designs tão elegantes como os próprios detalhes da arquitetura neogótica. Um dos pontos que diferenciou este desfile de tantos outros foi a sua organização: as peças estavam segmentada por "estéticas", das mais clássicas às casual, passando pelas festivas, toda uma panóplia de opções consoante o gosto, necessidade, lifestyle e mood da pessoa.


"Voltámos às raízes e fomos ao museu que a C&A tem na Alemanha para estudar e perceber onde teve o seu início", explica Patrícia Conde, designer da marca, durante o evento. Foi desse mergulho ao passado que surgiu uma das quatro inspirações para a coleção, a logomania, materializada na forma de um estampado com o logograma "&" da casa holandesa, presente em chapéus, camisolas, lenços e até blusões alcochoados. "Se pensarmos bem, o "&" (conhecido como e comercial ou ampersand) representa a ligação entre duas partes. Queremos ter essa ligação entre nós e o cliente. É por isso que estamos a "rebentar" com este "&", porque é assim que queremos ligarmo-nos aos consumidores. Estamos muito orgulhosos, faz parte do nosso ADN", nota Patrícia.

Na passerelle dominavam tendências recentes e outras que já estão fortes no mercado: fatos e sobretudos em formalwear, porém versáteis e com um toque moderno, com destaque para os coletes; ganga e couro num estilo mais urbano; outfits com lantejoulas, renda e veludo a pensar nos encontros festivos; e ainda looks mais intemporais, inspirados em designs originais com mais de 100 anos, como as icónicas blusa de mangas largas ou minissaia evasê.


A par dos ecléticos designs, a sustentabilidade é um grande pilar da marca. Prima pelo uso de materiais de qualidade e amigos do ambiente, como a lã 100% italiana e o algodão 100% biológico, embora tenha a sua aposta na moda circular. "Não podemos estar sempre a produzir algodão, já produzimos tanto poliéster, há que usá-lo reciclado". Ainda na ótica da sustentabilidade, a designer explica que o facto da coleção conter peças tanto de inverno como de verão não foi um mero acaso. "Quanto espaço temos em casa para haver um roupeiro para cada estação? Um vestido slip em cetim, por exemplo, pode ser usado com sandálias no verão e com uma gola alta e um blazer no inverno." O resultado final? Elegância, conforto e, o mais importante, versatilidade, trazidos à vida numa paleta de cores diversa, porque os meses mais frios do ano não se vivem apenas a preto e cinza, embora também os tenha.


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