Tory Burch reage às acusações de apropriação cultural, mas a polémica já está instalada
Depois da conta de Instagram Diet Prada denunciar a apropriação cultural de que foram parte os coletes poveiros da Póvoa de Varzim, a designer decidiu responder. Saiba o que disse Tory Burch, que entretanto removeu a peça do site.
Foto: Getty Images26 de março de 2021 às 16:23 Rita Silva Avelar
Na passada quinta-feira à noite, a polémica página de Instagram Diet Prada denunciou a apropriação cultural de que foi alvo uma peça de vestuário tradicional portuguesa, as camisolas poveiras, originárias da Póvoa de Varzim que já existem há mais de um século. O Diet Prada publicou uma fotografia do ator Ricardo Carriço a vestir esta peça, com a imagem da camisola que está no site da Tory Burch, evidenciando as semelhanças entre uma e outra.
"Quando ela [Tory Burch] não está ocupada a "colonizar" um centro comercial, a sua equipa de design está aparentemente a reunir inspiração de todos os cantos do mundo. A mais recente? Uma camisola tradicionalmente usada desde o início do século XIX por pescadores portugueses da Póvoa de Varzim. Ricardo Silva, presidente da união paroquial da Póvoa de Varzim, publicou no Facebook: "A incrível história de como uma marca internacional Tory Burch apresenta a nossa camisola poveira como sendo sua. A luta de David contra um Golias que usurpa, não responde e não reconhece uma das principais peças do artesanato português" cita o Diet Prada. O post teve mais de 70 mil gostos. A camisola apresentada por Tory Burch apresenta um motivo bordado de caranguejos e o brasão português.
A designer norte-americana, que até agora se mantivera indiferente à polémica e que apenas se tinha limitado a remover o termo "inspiração mexicana" da descrição da camisola, reagiu à publicação. "Reconhecemos em absoluto este erro e assumimos toda a responsabilidade. Chamou-nos a atenção que atribuímos uma origem errada a esta camisola e não nos apercebemos disso. Estamos a trabalhar com a cidade da Póvoa de Varzim para retificar este erro. Celebramos todas as culturas e esforçar-nos-emos por fazer melhor para o futuro" escreveu Tory Burch, mas os comentários acusatórios ultrapassam os 2 mil.
De ontem para hoje, a designer assumiu o erro no site e alterou o nome da camisola para "Camisola inspirada na Póvoa de Varzim", e na descrição escreveu: "A nossa blusa de malha em lã merino é inspirada numa camisola poveira tradicional, a bela camisola de pescador que representa a cidade da Póvoa de Varzim, em Portugal. Originária do século XIX, a camisola poveira era usada pelos pescadores durante o tempo frio. Os padrões simbolizam a cultura local, quase sempre feitos em vermelho, preto e branco. A nossa versão apresenta ombros largos, uma bainha recortada e um ajuste ligeiramente sobredimensionado. Clique aqui para mais informações sobre camisola poveira e Póvoa de Varzim" redireccionado para o site da Câmara Municipal da localidade.
Ao fim do dia desta sexta-feira, 26 de março, a designer decidiu remover a peça do site por completo. Oproduto desapareceu do site pouco depois de Graça Fonseca, Ministra da Cultura, se manifestar sobre o assunto. "A ministra da Cultura, Graça Fonseca, tomou a iniciativa de solicitar a identificação das vias judiciais e extrajudiciais ao dispor do Estado português para defender a camisola poveira enquanto património cultural português. O Governo, tendo comunicado a sua intenção à Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, fará o que estiver ao seu alcance para que quem já reconheceu publicamente o seu erro não se demita das suas responsabilidades e corrija a injustiça cometida, compensando a comunidade poveira", diz o Ministério, em comunicado.
Aparentemente, não é a primeira vez que a designer copia sem escrúpulos uma peça de origem portuguesa. Além de roupa também vende peças de decoração, e entre elas já fez réplicas das famosas travessas em forma de couve da Bordallo Pinheiro. A marca de cerâmicas portuguesa já respondeu, com uma publicação no Instagram.