Novos talentos da joalharia portuguesa: Joana Ribeiro
A tradição da joalharia em Portugal não é o que era. A uma arte antiga no masculino juntou-se a energia de uma nova geração feminina com ideias novas. O resultado são estimulantes projetos de empreendedorismo e de criatividade. Convidámos joalheiras a posarem com as suas peças e a partilharem as suas histórias. Joana Ribeiro é uma delas. Fotografia de Ricardo Lamego. Styling de Marina Sousa
24 de novembro de 2019 às 07:00 Carolina Carvalho
Todos os dias, a partir das nove horas da manhã, Joana Ribeiro está no seu ateliê, no mercado de Matosinhos, desde 2014. A criadora de joias integra a incubadora desse mercado e o seu espaço, todo envidraçado, permite aos curiosos encostar frequentemente o nariz ao vidro e ver o que se passa lá dentro. Em redor há galinhas, o talho e as bancas de couves, e à frente da sua montra cruzam-se as peixeiras com os turistas dos navios de cruzeiro atracados no Porto de Leixões. "O corre-corre do mercado também é muito inspirador", admite Joana. Dentro do ateliê está o núcleo da marca Joana Ribeiro e é um espaço onde também se recebem clientes apenas sob marcação. É uma oficina com máquinas e muita desarrumação, mas é também um ateliê onde se acumulam inspirações e referências.
Joana Ribeiro não desenha. Diz que prefere criar logo a peça na sua banca e fazer muitas maquetes. O material base é essencialmente a prata, mas também gosta de usar pedras em bruto, como, por exemplo, o quartzo para fazer anéis. "Eu gosto da autenticidade da natureza. As pessoas, por vezes, não percebem que na natureza não há duas árvores iguais e eu gosto de transmitir isso no meu trabalho", sendo esta também a sua fonte de inspiração. A criadora conta-nos que aproveita os passeios que faz para recolher texturas, seja fotografando, seja com os x-atos e as tesouras que traz sempre consigo na carteira. "Eu não quero que as pessoas vejam só uma peça bonita, mas que tenham vontade de tocar. Por isso opto muito por texturas e por cor. Mesmo que uma pessoa não use, eu gosto que lhe suscite curiosidade." Contudo, um dos elementos que mais caracteriza o seu trabalho é o acabamento com tintas metálicas que gosta de dar às joias numa inspiração que trouxe de Antuérpia. Joana licenciou-se em Joalharia na Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, apesar de ser a sua segunda opção, pois a primeira foi a moda, mas percebeu que não seria isso o que pretendia, e conta-nos que sempre criou a sua própria bijutaria e que desde cedo participou em feiras, no Porto, onde vendia as suas criações. O programa Erasmus levou-a até à referida cidade belga, na qual integrou a Hodgechool of Antwerp. Uma escola muito artística, onde, conta a criadora, por um lado os portugueses eram escarnecidos por trabalharem sempre com base na prata, mas que, por outro lado, a formação técnica deles era muito superior à dos restantes colegas.
Em Portugal, a tradição sempre levou ao uso do ouro e da prata e nessa escola todos os materiais eram permitidos. Havia masterclasses, aulas de um dia com um professor convidado, destinadas a ensinar técnicas e foi nelas que Joana aprendeu a utilizar as tintas metálicas que usa e que embora não se vendam em Portugal. Após o curso, fez um mestrado em Design de Produto e, depois de alguns estágios não remunerados, optou por criar a própria marca, tendo vencido, em 2009, o Concurso Jovens Criadores na categoria de Joalharia, o que foi um importante impulso. Hoje, a produção ainda é toda manual, cada peça é única e sai das mãos de Joana. O aumento de vendas também exige mais criações e, no futuro, esta criadora gostaria de aumentar os pontos de venda e ter uma loja de rua. Às joias mais vistosas juntam-se algumas mais simples. "Eu tenho de me adaptar ao mercado porque, por vezes, o que é muito bonito não é comercial." Confessa que ter na mãe uma "cobaia" revela-se uma ajuda preciosa que por a mãe ser professora dá muita importância ao lado prático das peças. Ao pai, por sua vez, cabem as tarefas de logística, como, por exemplo, tratar das embalagens e das idas aos correios porque Joana Ribeiro conta que trabalha muito através do seu site e das redes sociais. Para o cão da criadora ficam os passeios a dois na marginal de Leça e as idas à praia para desfrutarem da natureza que tanto a inspira. (www.joanaribeirojoalharia.pt)
Fotografia de Ricardo Lamego. Styling de Marina Sousa
Maquilhagem: Elodie Fiuza. Cabelos: Luzia Fernandes. Assistente de fotografia: Ana Viegas. A Máxima agradece o apoio do Teatro Thalia
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