Novos talentos da joalharia portuguesa: Carolina Curado
A tradição da joalharia em Portugal não é o que era. A uma arte antiga no masculino juntou-se a energia de uma nova geração feminina com ideias novas. O resultado são estimulantes projetos de empreendedorismo e de criatividade. Convidámos joalheiras a posarem com as suas peças e a partilharem as suas histórias. Carolina Curado é uma delas. Fotografia de Ricardo Lamego. Styling de Marina Sousa
21 de novembro de 2019 às 07:00 Carolina Carvalho
Fotografia de Ricardo Lamego. Styling de Marina Sousa
A primeira a sentar-se à conversa com a Máxima foi Carolina Curado. Descreve-se como uma curiosa e uma apaixonada. "Essas são as maiores qualidades ou características que se pode ter nesta e em qualquer outra área que escolhermos. E a minha é a joalharia." A energia é contagiante e o ritmo de conversa desenvolve-se com rapidez. Carolina tem 31 anos, licenciou-se em Biologia, no Porto, mas não chegou a exercer a profissão. Partiu de imediato para um curso de dois anos na Escola de Joalharia Engenho & Arte e foi enquanto estudava que começaram a nascer as primeiras criações e, por consequência, se começou a desenhar a marca que viria a constituir, em 2012, quando trocou a sua Braga natal por Lisboa. "É giro olhar para mim, agora, e olhar para trás quando comecei sozinha. A grande mudança foi a entrada da Fátima [Reis]. Uma coisa era a marca ter peças bonitas e outra coisa era a estrutura." Em 2015, juntou-se à marca Fátima Reis que faz o trabalho de backstage e que a própria Carolina descreve como "uma sócia incrível". E elucida: "Há uma grande diferença de idades entre nós. A Fátima tem uma maturidade que me faltava. E isto permitiu trabalhar a outro nível. Isso, além de um grande entendimento mútuo pela forma de trabalhar e de pensar de cada uma."
O facto de ter tirado o curso de joalharia em plena crise económica e de ver subir o preço da prata todas as semanas contribuiu para que a criadora investisse no latão como material de eleição. "As pessoas sempre o aceitaram bem e eu tenho muita prática a trabalhar com ele." Também gosta de trabalhar com pedras naturais e começa a explorar os esmaltes que, acredita, provocarão uma viragem no seu trabalho pelo uso de cor. Carolina não desenha, todas as ideias começam na escultura. A fonte de inspiração é sempre a natureza: animais, insetos, flores e folhas trabalhados com a linguagem da marca e, depois de criado um primeiro elemento, desenvolve-se o resto das peças. "É fácil fazer uma peça interessante. O difícil é manter essa constância e melhorar ao longo da vida de uma marca." Depois dos protótipos saírem das mãos de Carolina Curado existe toda uma série de processos que incluem a produção das peças, no Porto, e que demoram até a criadora, que se assume muito impaciente, ter a peça acabada na mão. "Este processo é muito sofrido, mas também é muito apaixonante. Há clientes que nos dizem que vivemos rodeadas de beleza, mas até que a beleza aconteça há muito sangue, suor e lágrimas."
A criadora descreve o início da marca e o seu desenvolvimento desde então como orgânico. Até a chegada da filha Benedita, que tem dois anos e meio, foi um catalisador de mudança. Além de uma reorganização natural de tempo e de tarefas, a criadora trabalhava em casa, mas converteu o seu ateliê no quarto da bebé e isso levou-a a procurar o primeiro espaço próprio de trabalho. "Enquanto mulher, para mim é importante que a minha filha um dia olhe para mim com orgulho e que saiba que eu consegui conciliar a minha parte enquanto mulher e mãe com a minha parte profissional." Contudo, confessa que a filha não tem um papel enquanto força motriz. "Eu já tinha isto!" Hoje podemos encontrar Carolina Curado no seu ateliê, no bairro de Campo de Ourique, em Lisboa. A porta aberta ao público e uma atenção ao pormenor, que a própria descreve como inevitável, permite-lhe concluir que as mulheres têm demasiados preconceitos e inseguranças em relação a si próprias. "A sociedade formata-nos. O estilo é, acima de tudo, uma questão de segurança. [As portuguesas] ainda têm a mania de escolher a peça pequenina para o dia a dia e a peça grande para as festas, o que eu não entendo porque a vida é uma festa todos os dias!" (carolinacurado.com)
Maquilhagem: Elodie Fiuza. Cabelos: Luzia Fernandes. Assistente de fotografia: Ana Viegas. A Máxima agradece o apoio do Teatro Thalia
Saber gerir o tempo era uma questão de organização. Hoje é uma questão de bem-estar. O século XXI trouxe as maravilhas da tecnologia e também a exaustão da flexibilidade. Gerir o tempo tornou-se uma arte que se aprende e um caminho para alcançar a qualidade de vida que se recomenda. Mas há um elemento que não mudou: a exigência que se impõe às mulheres.