Blazy & Anderson. Dois grandes nomes, duas grandes estreias
Matthieu Blazy estreou-se na Chanel com segredo absoluto; Jonathan Anderson chegou à Dior deixando pistas nas redes sociais e nas red carpets. Dois nomes incontornáveis da moda ditam agora novos rumos para duas das casas mais emblemáticas de Paris.
Desfile de moda com modelos na passarela e coleção de designers
Foto: AP07 de outubro de 2025 às 15:46 Safiya Ayoob
O mundo da moda vive de mudanças que são, por vezes, tão sísmicas quanto subtis. A entrada de dois nomes sonantes em casas históricas – Matthieu Blazy na Chanel e Jonathan Anderson na Dior – tornou-se, nas últimas temporadas, um dos capítulos mais fascinantes do calendário internacional. Ambos chegaram carregados de expetativa e escrutínio. Mas, se a coincidência temporal os une, as estratégias e linguagens de cada um revelam não só duas visões criativas distintas, como duas formas opostas de assumir um legado.
Matthieu Blazy não é um desconhecido. O designer franco-belga fez parte da equipa de Martin Margiela, passou pela Céline de Phoebe Philo e, mais recentemente, deixou a sua marca na Bottega Veneta, onde ficou conhecido por um luxo silencioso, de grande rigor artesanal. Em finais de 2024, foi anunciado como novo diretor criativo da Chanel, sucedendo a Virginie Viard. Herdou, portanto, uma casa icónica, como também uma narrativa profundamente codificada, que equilibra tradição e desejo contemporâneo.
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Chanel
Jonathan Anderson, natural da Irlanda do Norte, é por sua vez um dos nomes mais influentes da moda atual. Criador da JW Anderson e responsável, durante mais de uma década, pela revitalização da Loewe, Anderson assumiu em 2025 a direção criativa da Dior, encarregue tanto das linhas femininas como masculinas. A pressão que recai sobre o criador que ocupa este posto é imensa: a Dior é, para muitos, o sinónimo de elegância parisiense do pós-guerra e um dos pilares da alta-costura.
As primeiras semanas após cada anúncio revelaram-nos duas posturas quase opostas. Blazy optou por um silêncio estudado. A comunicação foi discreta, quase esotérica: convites guardados a sete chaves, poucas pistas nas redes sociais e um controlo apertado sobre qualquer fuga de imagem. O mistério tornou-se parte do discurso, criando uma expetativa crescente em torno do seu primeiro desfile para a Chanel.
Dior Spring-Summer 2026 by Jonathan Anderson
Anderson, por sua vez, escolheu uma abordagem mais aberta e progressiva. Deu a conhecer detalhes aos poucos, deixou que certas peças surgissem antes da estreia – quer em publicações no Instagram, quer em passadeiras vermelhas – e foi alimentando a curiosidade do público e da crítica. Essa estratégia de revelação gradual permitiu que a sua chegada à Dior fosse sentida como um crescendo, e não como uma explosão repentina.
O primeiro desfile de Blazy para a Chanel, apresentado no Grand Palais em Paris, foi um manifesto de respeito e subversão. Sob um cenário dramático, com planetas suspensos a evocar um cosmos futurista, Blazy deu uma nova leitura dos códigos da casa: os tweeds, as camélias e as linhas emblemáticas reapareceram, mas reconfigurados com ironia e sofisticação. Blazy contou, em exclusivo, à The Business of Fashion, que quando pensaram na primeira coleção, sabiam que poderiam seguir dois caminhos. Contou, "ou fazemos um desfile de Chanel simples, moderno e dentro das regras, e isso é um primeiro passo. Ou fazemos este desfile como se fosse o nosso último. Eu escolhi a última opção." O resultado foi uma elegância contida, com estruturas arquitetónicas e uma sensação de deslocamento propositado – um sinal de que Blazy pretende dialogar com a herança Chanel sem se tornar prisioneiro dela.
Modelos desfilam em Paris num cenário com planetas suspensos
Foto: AP
Na Dior, Anderson fez da sua estreia um diálogo vivo com o arquivo. O desfile abriu com um vestido branco de linhas puras, com saia estruturada em forma de aro e laços delicados, numa referência ao espírito de 1947 e ao célebre tailleur Bar, mas logo a seguir surgiram distorções e desconstruções: casacos torcidos, proporções desafiadas, saias mini etéreas e acessórios de simetria deliberadamente imperfeita. A cenografia dominada por uma pirâmide invertida, , pensada por Luca Guadagnino e Stefano Baisi, e por projeções de imagens de arquivo especialmente encomendadas ao documentarista Adam Curtis, reforçou essa tensão entre passado e presente, sugerindo que a tradição só permanece viva quando é questionada.
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Modelo desfila um vestido branco estruturado da Chanel em Paris
Foto: DIOR
Se Blazy apostou na surpresa e num silêncio quase reverencial até ao dia do desfile, Anderson preferiu conquistar o público com pistas e sinais, tornando-o cúmplice do processo. O primeiro deixou o peso da expetativa crescer em silêncio; o segundo deixou-o crescer à vista de todos. Ambos compreenderam que a herança das casas que agora dirigem não permite rupturas gratuitas, mas também não se alimenta de repetições.
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