O investimento do momento? Comprar carteiras de luxo
Esqueça as compras por impulso: tal como os carros, é cada vez mais comum considerar o valor futuro de uma carteira quando a compra, para mais tarde poder lucrar justamente com ela.

Em fevereiro deste ano, Kylie Jenner, magnata da beleza e membro do clã Kardashian-Jenner, mostrou a sua casa à revista Architectural Digest. Para além de repleta de Pop art espalhada por várias visões sumptuosas, Jenner deixou fotografar o seu armário de carteiras, do qual se orgulha especialmente, e que contém cerca de 400 peças, reunindo marcas como Hermès, Chanel e Dior. Noutra tour feita em 2018 no Youtube, acrescenta que "são um bom investimento". Trata-se do tipo de afirmação cuja futilidade nos faria revirar os olhos à primeira, se bem que Jenner não está propriamente errada.
As carteiras Hermès originaram um mercado secundário singular e têm sido revendidas em leilões a preços que deixariam qualquer um de queixo caído. Há até quem diga que hoje em dia uma carteira Hermès é um investimento melhor do que o ouro. Mas a casa francesa não está sozinha: as carteiras de luxo, tal como os ténis, podem estar a tornar-se numa classe de ativos de peso, o que nos sugere deixar de pensar na coleção de Kylie Jenner como apenas um armário de celebridade e começar a vê-la como um portfólio de investimentos.

Charles Gorra, fundador do site de revenda de malas de luxo Rebag, introduziu mais recentemente o Clair ("Índice Abrangente de Avaliação de Luxo para Revenda", em português). Trata-se de uma ferramenta algorítmica que mostra aos donos o preço de revenda de uma carteira se esta for vendida imediatamente ao Rebag. Ao contrário de outros websites de revenda, o site paga imediatamente ao vendedor antes de a venda ser efetuada, em vez de lhe dar apenas uma percentagem na ocorrência da mesma. Ao longo dos próximos meses, Gorra vai introduzir ferramentas de monitorização que permitirão aos vendedores verem o aumento e queda dos preços, e assim calcularem o valor futuro de uma peça.
De momento, o pioneiro deste mercado é o StockX, um site de revenda que estava avaliado em mais de 900 mil euros em junho, e que trata as peças de moda como bens de troca. Se o Stockx é o New York Exchange dos acessórios, com os compradores e vendedores a lidar diretamente uns com o outros, o Rebag (significativamente mais pequeno) está a tentar tornar-se no mercado de ações norte-americano Nasdaq. Esta mudança no mercado reflete um afastamento do hábito antigo de colecionar it-bags, quase como um sinal de posição social, que fomentava o mercado de luxo, para dar lugar a compras mais calculadas. Em agosto deste ano o mercado de carteiras de mulher estava avaliado em 5.3 mil milhões de euros nos EUA, uma queda face aos 6 mil milhões de há dois anos. Um dos fatores condicionantes poderá ser a tendência de malas mais pequenas, que regra geral custam menos.
Além disso, o tempo em que uma só carteira dominava o ciclo de vendas de uma marca, como é o caso da Paddington, da Chloé, ou da Bayswater, da Mulberry, está extinto. Em vez disso, os gostos estão mais fragmentados e as marcas famosas pelos seus logótipos têm de partilhar cada vez mais território com as marcas mais pequenas, para não mencionar o aumento da consciencialização para a sustentabilidade. Como resultado, cada compra é mais racional em vez de emocional, tal como quem compra um carro e pensa no valor de investimento futuro.

Não é por acaso que Charles Gorra, numa entrevista ao jornal The New York Times, descreve a Clair como o futuro equivalente ao Kelley Blue Book, a referência automóvel que usa os preços de carros novos e usados para encontrar um valor justo. De momento, há quase 10 000 modelos na Clair, e os números estão em constante aumento. Os donos de malas não precisam de ser clientes do Rebag para adicionar as carteiras e verificar o seu valor. A Clair pode dizer-lhe, por exemplo, que a pochete Metis da Louis Vuitton valeria quase 100% do seu valor original, e que, por, exemplo, a Papillon, um modelo mais comum da marca francesa, está perto dos 40%. Apesar de o historial de preços ainda não estar disponível ao público, o Rebag já tem informação suficiente para publicar as "Escolhas da Clair", uma lista dos modelos que recomenda comprar ou vender, tal e qual um analista com ações. Gorra confessou, na mesma entrevista, que a aposta perfeita no mercado das carteiras é a Hermès (que mantém uma média de mais de 80% do valor original), seguida da Chanel, Louis Vuitton, Gucci e YSL. O componente valioso aqui é a raridade, que é parte da razão pela qual a Hermès é tão dominante, mantendo a oferta abaixo da procura e lançando com frequência peças de edição limitada. E é aqui que voltam a entrar em cena as Kardashians. Kylie não é o único elemento do clã a ter um armário de carteiras. A irmã Kim também o tem e a matriarca, Kris Jenner, tem um dedicado exclusivamente às suas Birkins. Quer queiramos ou não, neste caso a família mais influente da televisão provou uma vez mais que esteve um passo à frente de todos no que toca à tendência.

Atenção colecionadores: vêm aí leilões de carteiras de luxo!
A leiloeira Bonhams lançou no início de 2020 um novo departamento dedicado a carteiras de luxo com assinatura de marcas de moda. A primeira venda aconteceu no passado dia 16 de julho, em Londres.